Descrição de chapéu LGBTQIA+

Sex shops ampliam gama de produtos para atender público LGBTQIA+

Em vez de dividir opções para cada gênero, marcas passaram a separar produtos por órgão sexual

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São Paulo

Para contemplar pessoas de todas as identidades de gênero e orientações sexuais, sex shops ampliam a gama de produtos oferecidos, adaptam a linguagem utilizada na comunicação com os clientes e criam conteúdos educativos nas redes sociais.

Uma das mudanças é a forma de apresentação dos itens: em vez de dividir a loja em opções para homens ou mulheres, as marcas passaram a separar produtos por órgão sexual —para pênis ou vagina. Outra diferença é a oferta de sex toys, como vibradores e dildos, não realistas, ou seja, que não imitam um órgão real.

Essa é uma das preocupações de Anielle Martins, 32, que em 2021 criou a Lub Lab, sex shop queer (termo usado para designar pessoas fora dos padrões binário de gênero).

Retrato de Anielle Martins
Produtos da Lub Lab, sex shop queer fundada pela química Anielle Martins - Divulgação Lub Lab

Como mulher lésbica, ela tinha dificuldade de encontrar lojas que fugissem do modelo heteronormativo e falocêntrico, em que boa parte dos produtos imitam pênis ou miram heterossexuais.

No estoque da Lub Lab entram apenas itens com design lúdico, coloridos e com formatos diversos. No blog e nas redes sociais da marca, Anielle aborda o prazer feminino além da penetração e, para isso, procura referências em outros negócios do ramo, sexólogos, podcasts e livros sobre o assunto.

Mulheres de 25 a 45 anos são maioria entre os clientes da marca. "Não é só para o público LGBTQIA+. Nossos produtos têm alta recepção das heterossexuais também, que às vezes se espantam com um dildo realista. Essas clientes se sentem mais confortáveis, porque não acham o produto agressivo", diz Anielle.

Natali Gutierrez, 31, CEO da Dona Coelha, e Renan de Paula, 35, cofundador, também usam as redes para discutir sobre sexo. O negócio, que virou ecommerce em 2015, tem 15 funcionários e faturou R$ 8 milhões em 2021.

Imagem mostra estimulador clitoriano em formato de uma rosa vermelha
Estimulador clitoriano da Dona Coelha, cujo carro carro-chefe é o segmento de sex toys - Jardiel Carvalho/Folhapress

"Quando começamos, percebemos que, embora usar produtos eróticos fosse legal, a experiência de compra era muito ruim. As lojas físicas e online eram baseadas em homens —geralmente brancos, heterossexuais e donos dessas sex shops— e ainda estavam presas na exploração e na hipersexualização do corpo feminino", diz Renan.

"Fala-se sempre sobre o casal hétero. Quando se fala em perder a virgindade, é como se só acontecesse entre um pênis e uma vagina. Mas e dois pênis? E duas vulvas? Todos buscam se reconhecer e com sex toys não pode ser diferente", afirma Natali.

Para se aproximar do público LGBTQIA+, o empreendedor deve, além de ajustar a comunicação e variar o mix de produtos, entender a função dos sex toys e cosméticos para saber recomendá-los corretamente, diz Paula Aguiar, consultora no mercado erótico há 20 anos.

"É interessante que o empresário tenha capacitação em sexualidade, porque o consumidor busca esse profissional. Muitas lojas já têm respaldo de sexólogos no atendimento ou indicam psicólogos, ginecologistas e fisioterapeutas para orientar o uso de produtos."

Educação sexual é um dos dos focos da Biscoitando, sex shop voltada ao público LGBTQIA+, criada pelas estudantes Aline Matos, 26, e Beatriz Soledad, 25, que cursam, respectivamente, medicina e psicologia na UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).

Em 2020, decidiram usar suas vivências como mulheres bissexuais para preencher uma lacuna que tinham encontrado, a falta de comunicação para essas pessoas.

"Pensamos em cada detalhe da experiência. Lembrando das pessoas trans, evitamos falar que algo é para um homem ou uma mulher. Deixamos sempre bem claro que somos LGBTQIA+, para ajudar a pessoa a ter menos medo de conversar por saber que é uma loja para esse público", diz Beatriz. A marca fatura, em média, R$ 5.000 por mês.

Para Alexandre Giraldi, consultor do Sebrae-SP, o negócio não precisa necessariamente ser voltado ao público LGBTQIA+ para incluir pessoas de todos as identidades de gênero e orientações sexuais.

Segundo ele, é mais importante que o empresário conheça de fato as demandas dos clientes e fuja de estereótipos sobre a comunidade para fazer recomendações acertadas. "É preciso entender que nem tudo é penetração. Muitas vezes, ainda existe um preconceito de que o homem gay só quer ser penetrado."

O especialista lembra também que é preciso ter cuidado com a divulgação de conteúdos da marca na internet. As publicações online podem ajudar a ampliar a visibilidade do negócio, mas é preciso prestar atenção nas diretrizes das redes sociais, que podem bloquear postagens e contas dependendo da imagem e das palavras utilizadas.

"O conteúdo pode ser educativo ou divertido. Tem que chegar ao público por meio de uma orientação ou de um meme e gerar curiosidade para que, a partir disso, a pessoa olhe o perfil e conheça os produtos. A estratégia de uma loja de roupas é mostrar a peça, mas a de uma sex shop não deve ser mostrar uma prótese."

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