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Mercado musical é amplo, mas setor requer profissionalização

Formalização aumenta a visibilidade e acesso a oportunidades para empreendedores

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São Paulo

Em expansão no país pelo sétimo ano consecutivo, a indústria da música é vasta e oferece oportunidades em diversas áreas e modelos de negócios promissores além do fazer artístico, como produção, gestão de carreira e audiovisual.

O mercado fonográfico brasileiro registrou crescimento acima da média global em 2023, com faturamento de R$ 2,8 bilhões —13% a mais do que no ano anterior. A alta mundial foi de 10%, segundo o IFPI (Federação Internacional da Indústria Fonográfica).

O maior problema do setor é a informalidade, que pode prejudicar a atuação dos empreendedores.

A imagem mostra um estúdio de gravação com um homem sentado em uma cadeira, trabalhando em um computador. Ele está usando um boné e está focado na tela do computador, que exibe informações de áudio. Ao lado do computador, há equipamentos de áudio, incluindo monitores de estúdio e um console de mixagem. O ambiente é bem iluminado, com luzes no teto e paredes escuras.
DJ Jorginho trabalhando em um dos estúdios da GR6, maior produtora de funk do Brasil, localizada na Vila Paiva - Lucas Seixas/Folhapress

"É um mercado que pede profissionalização, para que esses empreendedores estejam aptos a atender outros negócios de maneira mais estruturada", explica Rafael Nery, consultor de projetos de economia criativa do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas).

Para isso, é importante que os empreendedores conheçam os marcos legais da área, como direitos autorais e filiação a ordens de classe, além dos mecanismos de veiculação e remuneração das plataformas de streaming de áudio. A formalização também aumenta a visibilidade dos artistas e facilita o acesso às melhores oportunidades.

"Eu já vi dezenas de casos em que, depois de meses, uma música produzida com uma batida encontrada na internet chegou ao criador original e foi caracterizada como plágio. Além de perder a receita, foi preciso pagar indenização. Isso é um prejuízo para o cara que quer começar a empreender", conta André Morrisy, advogado especialista em direitos autorais.

Morrisy é diretor executivo de uma das maiores produtoras musicais do Brasil, a GR6, conhecida por ter grandes nomes do funk e outros gêneros urbanos em seu portfólio. O elenco da empresa, fundada em 2014, hoje é formado por mais de cem artistas, entre DJs e cantores.

Os músicos contratados recebem suporte financeiro, jurídico, em marketing e A&R (artistas e repertório, que cuida do desenvolvimento artístico dos profissionais), entre outras áreas —uma equipe de aproximadamente 200 funcionários, além de outros 600 colaboradores externos.

Segundo o diretor, a estrutura integrada da produtora, com profissionais especializados em diversos setores, foi fundamental para o crescimento da empresa.

"Mesmo que você não tenha grana para investir em diversos profissionais, você deve buscar conhecimento. Se você quer saber mais sobre o universo da música, não precisa ficar restrito apenas à parte artística", conta o diretor.

Nos 11 estúdios da produtora, que funcionam 24 horas, os artistas têm liberdade para criar de forma orgânica e colaborativa. Semanalmente, são gravadas cerca de 40 músicas e 15 videoclipes no espaço localizado na Vila Paiva, na zona norte da capital paulista.

Em média, os músicos realizam 400 shows por fim de semana. Nos últimos anos, o grupo esteve presente em grandes festivais, como Rock In Rio e Lollapalooza. Os valores dos espetáculos variam entre R$ 3.000 e R$ 300 mil.

O contrato determina que metade dos ganhos dos artistas fique para a produtora. Outras fontes de receita incluem direitos autorais, venda de shows e contratos publicitários com grandes marcas, que, só neste ano, atingiram a cifra de R$ 10 milhões.

Para captar novos talentos, de tempos em tempos a produtora realiza audições. É comum que artistas independentes, descobertos na internet, também sejam contratados. Alguns dos maiores nomes da empresa, segundo Morrisy, foram encontrados dessa forma.

As plataformas digitais são uma ferramenta importante para a GR6. Prévias postadas nas redes sociais, por exemplo, ajudam a medir o potencial de sucesso das músicas com antecedência.

É o caso da faixa "Let’s Go 4", que viralizou antes mesmo de estrear nas plataformas de streaming, em 2023. A canção, assinada por 11 MCs, ficou mais um semestre entre as 50 mais ouvidas do Spotify no Brasil. Durante três meses consecutivos, ocupou o primeiro lugar no ranking.

"Saber usar as redes sociais a seu favor é uma tática que pode ser muito usada. As prévias são uma ferramenta espetacular para iniciar um trabalho de pré-lançamento", explica Morrisy.

No TikTok, plataforma de vídeos curtos, os DJs Pedro Henrique Araújo e Edison Gomes Júnior, de Campinas, no interior de São Paulo, ficaram conhecidos como a dupla Kenan e Kel.

Os amigos, que aprenderam a mixar com dicas de colegas e vídeos no YouTube, se destacaram na rede social chinesa pela mistura de sons do funk, hip hop e eletrônica.

Foi preciso testar diferentes estratégias e formatos de vídeo, até encontrar uma fórmula que funcionasse. Neste ano, os posts da dupla atingiram a marca de 10 milhões de curtidas no TikTok.

"Na internet tem muito conteúdo bom e profissional de graça, para aprender desde os princípios básicos até algumas coisas mais avançadas. Se a pessoa tem contato com o inglês, então, o leque abre ainda mais", diz Gomes Júnior, o Kel.

Eles tocaram juntos pela primeira vez em 2019 e, na época, não ganhavam mais que R$ 100 por evento. Até o ano passado, a maior parte do dinheiro era reinvestida em equipamentos e estrutura.

Com o reconhecimento online, os DJs puderam alavancar o negócio. Hoje, contam com uma equipe de oito pessoas e realizam, em média, 15 shows por mês. O cachê da dupla, que já se apresentou em festas na Europa e Bolívia, varia entre R$ 9.000 e R$ 12 mil.

Há dois anos, também abriram um estúdio, junto com outros dois sócios. Além de gravar e produzir músicas para outros artistas, eles criam trilhas sonoras para comerciais e promovem eventos.

Para o futuro, querem ver a cultura da mixagem mais valorizada e pensam em formas de expandir o negócio. "Querem ver a gente no Spotify mais vezes, então é o nosso objetivo, trazer coisa nova pra galera e proliferar mais a palavra do funk no mundo todo", diz Araújo, o Kenan.

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