Após supostos casos, casamento de Trump e Melania ganha os holofotes

Com poucas informações públicas, americanos tentam entender como está a relação entre o casal

Emily Heil
Washington Post

Observadores na segunda-feira (19) interpretaram um pequeno gesto do presidente Donald Trump em relação à sua esposa como sendo algo de significado maior.

Quando Trump estava atravessando o gramado da Casa Branca com Melania, em direção ao helicóptero presidencial que os aguardava, ele pôs o braço em volta da cintura dela —e então a segurou com mais força quando ela tropeçou levemente, aparentemente porque o salto de sua bota teria ficado preso na grama.

O tabloide britânico The Mirror prestou atenção à interação entre os Trump em reportagem intitulada “Reação de Donald Trump ao tropeço de Melania ‘pode revelar sentimentos verdadeiros’”, e os usuários do Twitter compartilharam suas reações ao gesto do presidente.

Em outro contexto, teria sido um momento como outro qualquer entre marido e mulher, mas neste momento Trump está sendo processado por uma ex-modelo da Playboy e por uma atriz pornô, ambas alegando que ele teve casos extraconjugais com elas, sendo que a segunda contou sua história em entrevista ao programa 60 Minutes no domingo. Trump nega as acusações.

Enquanto isso, o público vem transformando o casamento dos Trump em uma espécie de teatro kabuki por meio do YouTube: uma união que outras pessoas procuram compreender, interpretando pantomimas de suas aparições públicas. Tanto Trump quanto Melania pouco disseram sobre seu casamento nos últimos meses, e por essa razão pequenos gestos como um semiabraço são decifrados pelas pessoas, um tuíte a cada vez.

A professora de história Katherine Jellison, da Universidade do Ohio, diz que indagar “como vai o casamento dos Trump” não é mera fofoca. Os americanos sempre se importaram com o estado da união de seus presidentes.

“Há a preocupação de que a vida pessoal das pessoas em cargos públicos tem importância pública e pode afetar suas decisões públicas. Por isso as pessoas querem saber como vai a união do casal, elas querem interpretar as folhas de chá”, disse Jellison. “Muitos presidentes tiveram casamentos que as pessoas desconfiavam que não eram ótimos e que deram margem a especulações.”

Muitas pessoas sabiam que Eleanor e Franklin Roosevelt viviam vidas em grande medida separadas, e as críticas a Eleanor por não ser uma boa dona de casa foram expressas em charges editoriais que ironizavam o casamento deles. E o casal Kennedy deu margem a muitos comentários, apesar da existência, segundo Jellison, de um “acordo de cavalheiros” tácito entre jornalistas homens que cobriam o presidente, garantindo que os casos extraconjugais dele não fossem noticiados.

Na década de 1990 o casamento dos Clinton, que resistiu ao caso altamente divulgado de Bill Clinton com uma estagiária da Casa Branca, foi tema de manchetes nos tabloides e de vários livros.

A curiosidade coletiva em torno do funcionamento interno dos casais presidenciais é alimentada, cada vez mais, por uma cobertura de mídia de modo geral mais invasiva, disse Anita McBride, que foi assessora de George W. Bush e chefe de gabinete da primeira-dama Laura Bush.

“Somos fascinados pelas ‘primeiras famílias’ e por cenas da vida familiar de figuras públicas”, disse McBride, executiva da Escola de Assuntos Públicos da American University. “O que é diferente hoje é que o acesso maior da mídia e a existência de tantas plataformas diferentes faz com que se saiba mais sobre a primeira família.”

Segundo ela, os tempos em que Eleanor Roosevelt podia selecionar as fotos de sua família que queria que os jornais publicassem ficaram no passado distante. Melania Trump pode fiscalizar seu feed no Instagram cuidadosamente, mas não tem como controlar as manchetes de tabloides ou as hashtags a seu respeito, como a campanha #FreeMelania (Libertem Melania) que os críticos de seu marido frequentemente deslancham nas mídias sociais.

A preocupação com o estado do casamento e os sentimentos da primeira-dama estão relacionados à preocupação com o estado de ânimo do presidente, disse Jellison.

“As primeiras-damas muitas vezes são figuras que validam seus maridos”, acrescentou McBride.

E na Casa Branca de Trump, onde o estado de humor do presidente é observado de perto, amigos dele previram que Melania Trump seria uma influência positiva. Ela tinha sido descrita como uma rara voz de suavidade em meio às vozes gritantes que cercam seu marido.

“Ela é uma grande fonte de equilíbrio” para Trump, disse o assessor de campanha Roger Stone em 2015, quando a então futura primeira-dama estava sendo apresentada aos eleitores.

Essa narrativa continuou presente ao longo da turbulenta Presidência de Trump. “Acho que Donald ouve sua mulher e respeita tremendamente as opiniões dela”, disse o amigo de Trump e CEO da Newsmax Chris Ruddy, falando ao site Politico, em junho, quando Melania Trump se mudou para a Casa Branca.

Nos nove meses passados desde então, Melania vem revelando momentos de independência em meio aos relatos da mídia sobre as alegadas infidelidades de seu marido. Na terça-feira, numa reunião de executivos de empresas de tecnologia e mídias sociais que ela convocou para discutir o bullying virtual, uma questão sobre a qual Melania já disse que quer trabalhar, ela pareceu estar definindo sua própria agenda.

“Sei perfeitamente que as pessoas são céticas quanto a eu discutir esse tema”, ela disse, em um gesto retórico de dar de ombros às pessoas para as quais os tuítes agressivos de seu marido complicam a mensagem dela sobre o assunto. “Já fui criticada por meu engajamento em tratar dessa questão. Sei que as críticas vão continuar. Mas isso não vai me impedir de fazer o que sei que é certo. Estou aqui com uma meta: ajudar as crianças e nossa próxima geração.”

McBride disse que aquele momento, em meio a todas as manchetes escandalosas e todas as críticas a seu marido, foi definidor para uma primeira-dama que já foi acusada de exercer um papel menor na vida pública que primeiras-damas anteriores.

“Melania tem continuado como sempre, dizendo ‘as questões importantes para mim são estas, e eu vou seguir adiante, não importa o que esteja acontecendo’”, disse McBride. “Ela encara seus esforços com seriedade. Se é um modelo diferente do que já vimos antes? Com certeza, mas cada primeira-dama define seu próprio papel.”

Enquanto as imagens das alegadas amantes de seu marido passam pelas telas da televisão a cabo, Melania Trump continua a desempenhar seu papel. Na segunda-feira ela apresentou o presidente em um encontro para discutir a crise dos opiáceos em New Hampshire. Na terça-feira ela recebeu os CEOs de empresas de tecnologia na Casa Branca. Seus assessores não responderam a pedidos de declarações sobre seu casamento.

Esse estoicismo público não surpreende Paolo Zampolli, o empresário de Manhattan e amigo de longa data de Trump que o apresentou a Melania. “Ela é muito forte e está acostumada a encarar notícias falsas –ela foi atacada desde o primeiro dia da Presidência”, ele disse, explicando que a campanha presidencial preparou Melania para ser alvo de atenção mais intensa da mídia do que qualquer coisa que já tinha encarado antes.

“Acho que ela entende que não é mais uma pessoa privada”, disse Zampolli. “Ela não seria mais a mulher deslumbrante de um empresário muito rico e poderoso que tinha um programa de televisão.”

Tradução de Clara Allain

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