Cidade de mulher que pediu asilo nos EUA tem violência em baixa

Governador Valadares (MG) tem taxa de homicídios duas vezes menor que a de El Salvador

Lidia usa calça preta, camiseta rosa claro e segura o filho, que usa uma camiseta amarela clara estampada, com a mão direita. Os dois estão em frente a um prédio em meio a uma rua de pedestres. Ao fundo, um casal de noivos tira uma foto e outras duas pessoas passam: à esquerda um homem de calça branca e camiseta azul marinho e à direita uma mulher de calça e camisa preta com chapéu rosa.
Lidia Karine Souza e seu filho, Diogo, andam de mãos dadas em Chicago em seu primeiro dia juntos após mais de um mês separados nos EUA - Charles Rex Arbogast - 29.jun.18/Associated Press
Nova York e Belo Horizonte

Governador Valadares (MG), a cidade de onde Lídia Karine Souza, 27, e o filho Diogo, 9, saíram rumo aos EUA para, segundo ela, fugir da violência, tem taxa de homicídios de 39,3 por 100 mil habitantes (dados de 2016 do Atlas da Violência divulgado neste ano).

A média do Brasil é de 30,3. Em Minas Gerais, trata-se da 85ª cidade com maior proporção de mortes (de um total de 851). A título de comparação, o município mais violento do país, Queimados (RJ), tem 134,9 assassinatos a cada 100 mil habitantes.

Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), taxas acima de dez homicídios por 100 mil habitantes constituem violência epidêmica. Na cidade de São Paulo, o índice ficou em 10,14 em 2016.

Dados do governo de Minas mostram que a taxa de homicídios vem caindo em Governador Valadares. Em 2012, estava em 43,2. Cinco anos depois, encolhera para 30,26.

Em 2018, Governador Valadares já registrou 39 mortes violentas, contra 36 no mesmo período do ano passado.

Lídia Karine e Diogo foram separados na fronteira americana com o México no fim de maio; ela foi levada a um presídio federal sob a acusação de tentar entrar ilegalmente nos EUA, ele a um abrigo para menores.

Solta em 9 de junho após passar por outras duas prisões, ela conseguiu recuperar a custódia do filho na última quinta (28), dois dias depois de revê-lo por uma hora em uma visita monitorada por autoridades de imigração.

No dia seguinte, em entrevista à Folha, ela atribuiu à violência de Governador Valadares a decisão de buscar asilo nos EUA. "Entre as cidades de Minas Gerais, está entre os primeiros lugares, atrás de Belo Horizonte. Muito violenta."

Ainda a título de comparação, El Salvador, país centro-americano conflagrado por uma guerra de gangues que é um dos principais pontos de partida de quem busca abrigo nos EUA, tem quase duas vezes mais assassinatos por 100 mil habitantes do que Governador Valadares —ali, a taxa é de 108 homicídios por 100 mil habitantes.

Os salvadorenhos enfrentam uma onda de violência que faz com que pais fujam com os filhos para escapar dos grupos criminosos.

No sábado (30), a Folha foi contatada via aplicativo de mensagens por um homem chamado Diogo que disse ser pai do menino. Ele afirmou que estava à procura de um advogado para ver o que poderia fazer em relação à criança, e que só ficou sabendo que ela estava detida nos EUA na última quarta-feira (27) —Lídia e o filho tentaram entrar naquele país em 29 de maio.

Diogo disse apenas que não se despediu do filho e que a autorização que Lídia tinha para viajar com o menino seria de três anos atrás, quando ela solicitou a permissão para dar entrada no visto americano da criança.

"Quero só o Diogo. A mãe dele que fique aí e nunca mais volte", escreveu, em mensagem enviada pelo aplicativo. "Eu tinha autorizado três anos atrás, quando ela falou que ia tentar o visto. Mas como ela foi ilegal, não iria para a Disney passear, e sim para fugir e morar. E se corre perigo aqui, não seria melhor deixar o filho comigo?", questionou.

Nesta segunda-feira (2), a Folha o questionou sobre já ter ou não entrado em contato com o advogado, mas não obteve resposta.

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