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Em crise, presidente da Colômbia lança pacto para recuperar popularidade

Em seis meses no poder, Iván Duque cancelou negociação de paz com guerrilheiros

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O presidente da Colômbia, Ivan Duque, em Davos, na Suíça
O presidente da Colômbia, Iván Duque, em Davos, na Suíça - Arnd Wiegmann - 23.jan.19/Reuters
 
Cartagena

O presidente da Colômbia, Iván Duque, 42, completa nesta quinta-feira (7) seis meses no cargo em meio a uma crise de governabilidade.

Eleito pelo partido do padrinho político, o popular direitista Álvaro Uribe (2002-2010), líder do Centro Democrático, Duque representou um rompimento com relação ao moderado centro-direitista e Nobel da Paz Juan Manuel Santos (2010-2014). 

Este, embora tendo alcançado um acordo de paz com a mais letal guerrilha do país, as Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia), saiu com baixíssima popularidade (em torno de 20%).

Os que votaram contra sua gestão, elegendo Duque, acreditavam que Santos havia sido muito permissivo nos benefícios e anistias a ex-guerrilha, que a Colômbia não tinha crescido o suficiente e tampouco estava rebatendo à altura a crise humanitária que já trouxe ao país mais de 1 milhão de venezuelanos, número que continua aumentando.

Duque se elegeu com um discurso mais linha-dura com as guerrilhas, prometendo pôr limites com a justiça especial estabelecida pelo acordo de paz; confrontar o ditador da Venezuela, Nicolás Maduro, e investir na segurança interna. 

Tudo isso sempre com um discurso de que seria um “extremista de centro”, como gosta de se definir, para não afugentar a esquerda.

De modos elegantes e boa retórica, Duque está acima do nível médio de seus colegas. Porém, sua eleição representou um pequeno terremoto na organização dos partidos no parlamento, tornando a aprovação de leis um processo difícil e lento para ele.

Eleito com 54% dos votos, em dezembro sua popularidade havia caído para 25%. As razões, segundo pesquisas, são o não cumprimento das promessas e a “falta de uma linha dura” em questões de segurança.

O começo do ano, porém, ofereceu-lhe duas muletas com as quais recuperar um pouco da popularidade.

A opinião pública gostou do modo como Duque respondeu ao ataque da guerrilha ELN (Exército de Libertação Nacional), em 17 de janeiro, que matou 21 pessoas e deixou 68 feridas.

Duque decidiu cancelar as já suspensas negociações de um acordo de paz com o ELN, cujos líderes estão reunidos em Cuba. Mais, pediu que estes fossem extraditados para julgamento no país, algo que Havana se nega a fazer.

A mão dura e decidida no caso teve boa repercussão imediata, e sua popularidade subiu dez pontos, para 35%, mas abriu um leque de novas dores de cabeça para o presidente.

O ELN, apesar de ter um contingente pequeno, cerca de 1.500, é extremamente letal, promovendo sequestros, extorsões, ataques a civis e infraestrutura. Porém, se encontrava dividido, com uma parte do grupo querendo negociar a paz. A virada de mesa do presidente colocou toda a guerrilha contra ele.

O que leva ao segundo problema. Nas últimas semanas, Duque encabeçou, como prometido, as críticas a Maduro, declarando apoio ao presidente interino, Juan Guaidó.

Porém, o fez com uma agressividade que pode se voltar contra ele, uma vez que o ELN é uma espécie de exército de reserva de Maduro do lado venezuelano da fronteira, onde tem acampamentos de treinamento e está se fortalecendo.

Deste ponto de vista, abandonar as negociações de paz com a ala do ELN que queria um acordo pode ser um erro.

O desafio de Duque agora é garantir a governabilidade com uma nova estratégia, o Pacto pela Colômbia.

Nesta semana, está se encontrando, um a um, com os representantes dos principais partidos. 

O seu, o Centro Democrático, é numeroso no Congresso, mas não tem a maioria, e alguns nomes do “uribismo duro” rejeitam os bons modos de Duque e preferiam um líder com perfil de caudilho.

Os conservadores, que se consideram a base do governo, reclamam de não serem suficientemente ouvidos. 

Os liberais, que abraçaram o governo por diferenças com seu rival de segundo turno, o esquerdista Gustavo Petro, se enfraqueceram junto a seu eleitorado, que considerou seu movimento uma traição. 

E o Partido de la U, o de Santos, sem Santos no cenário, se fragmentou.

Duque, com experiência apenas de senador (2014-2018), precisa agora mostrar-se conciliador e capaz de uma liderança junto ao parlamento, além de definir melhor sua estratégia para a paz. Uma vez que se considera um melhor economista do que especialista em temas de segurança e de combate ao narcotráfico, deveria escolher um nome forte para cuidar da área.

Nos próximos dias 13 e 15, Duque terá sua prova de fogo, sendo recebido na Casa Branca por um Donald Trump que vem se mostrando amigo da Colômbia. Porém, tem exigido em contrapartida que esta combata com mais ênfase a expansão dos territórios dedicados ao cultivo de coca para a produção de cocaína. 

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