A Assembleia Constituinte da Venezuela, ligada ao regime de Nicolás Maduro, decidiu, na noite desta terça-feira (2), retirar a imunidade parlamentar do deputado Juan Guaidó, presidente da Assembleia Nacional.
Autodeclarado presidente interino do país, Guaidó fica sujeito a ser denunciado e processado pela Justiça comum, o que pode levar à sua prisão.
A decisão da Constituinte, adotada por unanimidade, atende a um pedido feito na véspera pelo Supremo Tribunal de Justiça (TSJ). Ambos os órgãos são controlados por apoiadores do regime.
"Não vamos fugir da nossa responsabilidade", disse Guaidó a jornalistas em Caracas, após o anúncio.
"Eles pensavam que isso ia ser fácil, mas não será. Se quiserem avançar, vão ter que assumir as consequências", completou o parlamentar.
Guaidó é acusado pelo regime de usurpar as funções de Nicolás Maduro, de planejar um atentado contra o ditador e de ter deixado o país ilegalmente.
Ele saiu clandestinamente da Venezuela em fevereiro para visitar vários países sul-americanos —inclusive o Brasil—, após o fracasso de sua tentativa de fazer entrar pelas fronteiras de Brasil e Colômbia doações de alimentos e remédios enviados pelos Estados Unidos.
O congressista retornou à Venezuela no dia 4 de março, pelo aeroporto de Maiquetía, próximo a Caracas.
O líder opositor conta com forte apoio dos EUA, que, no passado, já ameaçaram endurecer sanções contra o regime caso ele seja preso. Guaidó foi reconhecido como presidente interino por mais de 50 países, incluindo o Brasil.
De acordo com o advogado de direito constitucional José Vicente Haro, ouvido pela agência Reuters, a decisão desta terça-feira é uma fraude, já que só poderia ter sido tomada pela Assembleia Nacional, segundo a Constituição venezuelana.
O órgão, contudo, tem seu poder esvaziado na prática desde que foi declarado em desacato, ainda em 2016, pelo próprio TSJ.
À época, o regime passou a não reconhecer as decisões do parlamento e convocou eleições para formar uma Assembleia Constituinte —composta majoritariamente por chavistas.
A lisura do pleito foi criticada pela oposição e pela comunidade internacional.
Em entrevista ao jornal mexicano El Universal publicada nesta terça-feira, Guaidó atacou a base legal que o governo de Maduro usou para justificar sua inabilitação para ocupar cargos públicos por 15 anos, anunciada na última quinta (28).
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