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Após 1º debate, Bloomberg tem de torcer para que o que acontece em Vegas fique em Vegas

Ex-prefeito de NY foi duramente criticado e saiu como perdedor do embate democrata

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Aaron Blake
The Washington Post

Os pré-candidatos democratas à Presidência dos EUA participaram de um debate em Las Vegas, em Nevada, dias antes dos caucus nesse estado.

O ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg fez sua estreia na campanha, enquanto avança nas pesquisas de opinião em todo o país. Seguem abaixo alguns vencedores e perdedores do debate.

Vencedores

Bernie Sanders

A julgar pelo debate, ninguém imaginaria que é Sanders o candidato que ameaça acumular uma vantagem potencialmente insuperável em número de delegados nas próximas semanas.

Em vez de voltar sua atenção a ele, os outros candidatos enfocaram principalmente Bloomberg e acabaram acertando ataques melhores uns contra os outros do que contra Sanders.

Os candidatos Michael Bloomberg (à esq.), Elizabeth Warren e Bernie Sanders durante debate em Las Vegas - Mark Ralston - 19.fev.2020/AFP

Sanders precisou se defender em relação a alguns temas delicados, incluindo sua recusa em divulgar mais informações médicas após o ataque cardíaco que sofreu no ano passado.

Ele também foi forçado a responder às críticas do Sindicato de Trabalhadores Culinários, por querer que ele acabe com o seguro médico privado deles em troca de um Medicare para todos.

Porém, não houve praticamente nada além disso que tenha sugerido que o impulso de Sanders nesta disputa possa mudar. Ele é o favorito em Nevada e, graças às outras disputas entre candidatos que vimos na noite de quarta-feira, parece provável que isso continue.

As críticas arrasadoras de Warren contra Bloomberg

Houve um momento nesta corrida em que Elizabeth Warren estava entrando em choque com Bernie Sanders. Na quarta-feira ela fez um favor imenso a Sanders ao voltar sua serra elétrica contra Bloomberg.

Ela começou chamando a atenção para comentários depreciativos que ele teria feito sobre mulheres no passado –“mulheres gordas” e “lésbicas com cara de cavalo”— e então destacou que elas não foram ditas pelo presidente Donald Trump, mas supostamente por Bloomberg.

“Não podemos substituir um bilionário arrogante por outro”, disse.

Mais tarde, criticou o pedido de desculpas de Bloomberg pela política de “parar e revistar” que ele instituiu em Nova York quando foi prefeito da cidade e que visou minorias étnicas de modo desproporcional.

“A questão aqui não é qual foi o resultado da política, mas qual foi seu objetivo desde o início”, disse Warren. “Desde o começo seus alvos eram homens negros e morenos.”

E, depois, atacou Bloomberg por não dar explicações adequadas sobre o tratamento dado a mulheres em suas empresas.

“E espero que vocês tenham ouvido qual foi sua defesa: ‘Fui gentil com algumas mulheres’”, disse Warren, antes de pressionar Bloomberg a desobrigar mulheres de cumprir acordos de sigilo que assinaram.

Outros pré-candidatos acrescentaram mais críticas, e Bloomberg não teve muitas respostas para nada.

Warren reservou alguns ataques para outro dos adversários principais de Bernie Sanders: Pete Buttigieg. A câmera não estava voltada sobre Sanders durante esses momentos, mas ele devia estar sorrindo ao ver o que sua antiga aliada, aparentemente aliada novamente, estava fazendo por ele.

Perdedores

Michael Bloomberg

O prefeito não tinha muita experiência com debates. O último do qual participou foi em 2009, um encontro um contra um em uma disputa em que ele era o favorito por margem grande.

Esse debate foi inteiramente diferente, e a situação muito rapidamente ficou feia para ele. Enquanto Bernie Sanders parece ser o favorito para conseguir a dianteira em número de delegados, Bloomberg foi o grande alvo de todos desde o primeiro momento.

Ele passou uma impressão de tecnocrata e alguém de Manhattan. Não interveio com frequência para se defender, aparentemente na esperança de que os momentos negativos fossem passar. Mas eles persistiram.

Os ataques mais brutais talvez tenham sido contra a política de parar e revistar. Bloomberg disse que simplesmente foi um erro.

Essa explicação passou ao largo do fato de que ele defendeu a política até esta década e que ela acabou suspensa não por causa de sua evolução pessoal, mas devido a uma ordem judicial.

Bloomberg pareceu até sentir a tentação temporária de defender a motivação por trás da política, mas então pensou duas vezes. “A verdade, em última análise, é que paramos e revistamos gente demais”, disse Bloomberg. “Mas a política... Paramos gente demais.”

Um momento raro que parece ter sido positivo para Bloomberg foi quando ele enfrentou Sanders por este dizer que não deveria haver bilionários.

“Nada melhor do que esta discussão para ajudar Donald Trump a se reeleger”, disse Bloomberg. “Isso é ridículo. Não vamos jogar o capitalismo no lixo. Já tentamos isso. Outros países tentaram. Isso foi chamado comunismo e não funcionou.”

Ele pode ter ido longe demais ao falar em “comunismo”, mas esse é o contraste que Bloomberg quer traçar.

Bloomberg se beneficiou de uma campanha publicitária de centenas de milhões de dólares, anúncios que foram recebidos quase sem contestação em estados para os quais os outros candidatos ainda não voltaram sua atenção.

Ao todo, a quarta-feira foi um batismo de fogo, e seria difícil argumentar que Bloomberg não saiu chamuscado.

Joe Biden

Se houve um candidato que fez quase o papel de espectador no palco do debate na noite de quarta-feira, foi Biden. Não se viu nada que sugira que ele vá conseguir salvar sua campanha.

Isto dito, ele ainda parece estar bem posicionado na primária da Carolina do Sul, que virá depois do Nevada, e talvez isso lhe dê uma chance de sucesso na Super Terça. Quem sabe?

Amy Klobuchar

Ela tem sido regularmente citada como vencedora desses debates, mas na noite de quarta-feira pareceu desesperada e pouco preparada.

Klobuchar teve uma discussão especialmente áspera em torno do fato de não ter sabido dizer a um jornalista qual é o nome do presidente do México. Ela disse “presidente López Obrador”, mas não conseguiu pronunciar seu nome corretamente.

Em seguida, tentou citar outros dados sobre outros líderes estrangeiros, mas tropeçou, aparentemente consultou suas anotações e só conseguiu citar o sobrenome de um outro presidente latino-americano.

“Quem é o presidente de Honduras?”, disse ela, olhando rapidamente para baixo. “Hernández.”

Sem querer concluir demais a partir de um só momento, esse momento não foi bom. Amy Klobuchar precisava ter se saído melhor, considerando a posição em que se encontra nesta corrida.

O que Sanders disse sobre seus apoiadores

Na primeira parte do debate, uma das principais linhas de ataque contra Sanders foi sobre a agressividade de seus apoiadores, especialmente online.

Buttigieg argumentou que um candidato é responsável pelo que ele inspira em seus seguidores.

“Por que essa atitude ocorre especialmente entre os seus partidários?”, Buttigieg perguntou a Sanders.

Mas este não concordou com a premissa. “Não acho que seja o caso”, falou. “Simplesmente não é verdade.”

É verdade, como pode atestar qualquer jornalista político. Os partidários de Sanders podem não ter o monopólio desse tipo de tática, mas o problema é 100% maior com seus apoiadores.

E negar que haja algo de incomum com eles é desviar do problema. Isso reforça a ideia de que Sanders não está levando a questão muito a sério.

Tradução de Clara Allain

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