Chanceler argentino diz que 'relação com Brasil não está fácil' para haver encontro entre presidentes

Para Felipe Solá, um dos entraves é enfrentamento da pandemia do coronavírus

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Buenos Aires

Em entrevista a jornalistas estrangeiros nesta quinta-feira (16), o chanceler argentino, Felipe Solá, disse que "a relação com o Brasil não está fácil" para haver um aguardado encontro entre os dois presidentes.

Jair Bolsonaro e Alberto Fernández estiveram numa mesma reunião pela primeira vez em um evento virtual da Cúpula do Mercosul, no início do mês. Mas ainda não tiveram um encontro bilateral.

Eles trocaram farpas durante a campanha eleitoral do país vizinho, no ano passado, quando Bolsonaro apoiou o então presidente Mauricio Macri. Após a vitória, o líder brasileiro não foi à posse de Fernández.

O ministro das Relações Exteriores da Argentina, Felipe Solá, fala com a imprensa durante visita ao Brasil, em fevereiro - Valter Campanato - 12.fev.2020/Agência Brasil

Segundo o chanceler, um dos entraves, embora "não o único", é o fato de "estarem em pólos opostos" no combate ao coronavírus. "Enquanto a Argentina privilegia a saúde, o Brasil se preocupa com a economia."

Solá também disse que não há previsão para que turistas brasileiros possam voltar a viajar à Argentina —a liberação depende de decisões sobre a flexibilização da quarentena, que devem ser tomadas até sexta.

Embora as fronteiras aéreas estejam fechadas até 1o de setembro, o país anunciou nesta quinta (16) a autorização para que duas linhas internacionais comerciais (Miami e Madri) começassem a operar em agosto, por meio das Aerolíneas Argentinas.

O chanceler afirmou que o trânsito entre países do Mercosul é prioridade, mas que a liberação está ligada à possibilidade de realizar testes e estabelecer formas de controle, "o que é muito difícil, principalmente com relação às nossas fronteiras terrestres".

Sobre o acordo entre União Europeia e Mercosul, ao qual Fernández havia feito ressalvas durante a campanha eleitoral, o chanceler disse que não haverá retrocessos no que já está acordado.

Para ele, contudo, a tragédia ambiental na região amazônica influenciou alguns recuos do lado europeu.

"O Brasil foi o centro das discussões com os incêndios na Amazônia e fez com que europeus olhassem para o assunto. Os europeus olham a Amazônia como se fosse o pulmão do mundo, enquanto a posição do Brasil é de dizer que é um pulmão brasileiro", disse.

Solá defende que há uma discussão importante sobre se os incêndios foram voluntários ou acidentais. "Não tenho autoridade para dizer que houve uma política de avanço sobre a floresta de forma deliberada por conta do presidente Bolsonaro."

As instabilidades na Bolívia e Venezuela também foram tema de críticas de Solá. Reafirmou que a Argentina não reconhece o governo interino boliviano, por sua "gênese golpista", e disse que ele é fruto de um movimento violento que causou mortes de camponeses.

"Isso é próprio de um governo militar. Isso está ocorrendo na Bolívia nos últimos meses, e não temos relação com esse governo", afirmou.

A Bolívia vive instabilidade política desde as contestadas eleições presidenciais de 2019, que concederam uma controversa vitória em primeiro turno a Evo Morales.

Aquele seria seu quarto mandato consecutivo, mas, em meio a acusações de fraude na contagem de votos, protestos violentos em várias cidades e pressão das Forças Armadas, Evo renunciou.

Partiu para o México e depois passou a viver na Argentina, com status de refugiado.

Desde então, quem governa de modo interino é a direitista Jeanine Añez, cuja legitimidade no cargo também é contestada, pelo fato de ter usado brechas constitucionais para assumir a Presidência.

Sobre a Venezuela, o chanceler condenou as sanções dos Estados Unidos contra o país. Para ele, a pressão econômica dificulta a resolução da crise e a solução deve ser tratada "entre os venezuelanos". ​

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