Descrição de chapéu Coronavírus

Europa limita festas dos jovens com medo de rebote de coronavírus

Número de novos casos ainda está longe do pior momento, mas cresce sem parar desde começo das férias de verão

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Bruxelas

Cerveja com os amigos: 30ºC.
Discoteca: 28ºC.
Hospital: 25ºC.
UTI: 22ºC.
Forno crematório: 980ºC.

Se você tem menos de 35 anos, este recado é para você. Sobre um fundo preto, as frases piscam no novo vídeo do governo espanhol contra a epidemia do coronavírus.

Jovens em praia na Holanda
Jovens em praia na Holanda - Ramon van Flymen/ANP/AFP

O alvo são os jovens, e não só na Espanha. Vários países europeus consideram a faixa etária entre 18 a 35 como o principal vetor dos novos casos de Covid-19.

É ainda uma onda rasa, como disse Susanne Johna, representante da associação de médicos da Alemanha, mas está subindo. No trajeto, recuperou antigas restrições e introduziu novas, como a proibição de fumar na rua onde não for possível manter distância de 2 metros.

Discotecas fecharam as portas por todo o continente, e o espanhol “botellón” —grupinhos que se juntam em escadas ou muretas das cidades para beber— pode dar multa de 15 mil euros (R$ 90 mil).

Com o mesmo objetivo, a Bélgica limitou as lojas noturnas, onde garotos compram álcool quando os bares fecham. Passou das 22h, acabou a festa.

A preocupação não é descabida, ainda que a situação atual esteja longe do pico registrado em abril deste ano. Depois de cair a 2.886 novos casos diários no dia 26 de junho, na última quinta (13) o número no continente era mais que o triplo.

Em 31 países (os 27 da União Europeia, mais Reino Unido, Liechtenstein, Noruega e Islândia), houve 10.464. É uma fração do pior dia europeu, 1º de abril, quando 35.782 testes deram positivo, mas não são só os números que importam.

Desses 31 países, 19 domaram a transmissão comunitária: Malta praticamente erradicou o vírus, e outros 18 apresentam apenas clusters, entre eles a Espanha. Se baixarem a guarda, a situação escapa do controle, como tem alertado a OMS (Organização Mundial da Saúde) e a ECDC (agência europeia de controle de doenças infecciosas).

“Contenha. Contenha. Contenha” é o novo mantra do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus e seus principais auxiliares para a pandemia, o diretor-executivo Michael Ryan e a líder técnica Maria van Kerkhove.

“Não há surpresa. Toda vez que se retira a pressão, o vírus volta”, afirmou Ryan sobre os novos surtos de Covid-19 na Europa. “Já temos as ferramentas para impedir uma nova onda”, completa Van Kherkhove.

São elas que os europeus voltaram a tirar da caixa: reconfinamentos localizados, quarentenas obrigatórias, uso de máscara em qualquer espaço público, testes, formulários de contato. As medidas variam de país para país, mas o objetivo é o mesmo: impedir a transmissão do coronavírus.

Como já se sabe, ele passa de uma pessoa a outra quando gotas ou nuvens de saliva de uma atingem olhos, nariz ou boca da outra.

Quanto mais perto e por mais tempo as pessoas ficarem de mais gente diferente, mais rápido crescerá a curva de novos casos e maior o perigo de contágio desenfreado.

Parece simples, mas é preciso contar com a boa-vontade humana, e nem sempre ela aparece, mostram os números. No último dia 6, uma pesquisa realizada em Bruxelas, onde o uso de máscaras na rua é obrigatório, mostrou que 15% optaram por ignorar a regra. Num único fim de semana, 152 resistentes foram multados.

Alguns reclamaram da culpa atribuída à faixa etária, como a dançarina espanhola Adarra Solas, que disse a um repórter: “Apenas chegou o verão. Começamos a relaxar”. Exatamente o problema apontado pelos epidemiologistas.

Grécia, França, Suécia e Holanda também notaram um crescimento maior de caso entre jovens.

O governo alemão criticou publicamente os “foliões descuidados” que ignoraram regras de distanciamento, lotaram boates da ilha espanhola de Mallorca até que as prefeituras fossem obrigadas a fechá-las e então foram fazer o mesmo na Bulgária —onde a moda deste verão eram as “festas da espuma”, com pistas de dança flutuantes sobre imensas piscinas.

“Está faltando disciplina”, reclamou em vídeo o ministro das Capacidades Humanas (pasta que inclui entre outras coisas saúde e educação) da Hungria, Miklós Kásler.

Seja o que for que estiver faltando, o fato é que os novos casos subiram, e com eles as restrições. Na praia belga de Blankenberge, quando a maré subiu, faltou areia para garantir distanciamento entre os banhistas no sábado passado. A polícia pediu que todos saíssem, mas um grupo de jovens se revoltou.

A solução foi imediata: visitas à cidade estão proibidas. Em Antuérpia, a solução foi o toque de recolher entre as 23h30 e as 6h.

Em parte porque são os jovens a maioria dos novos casos de Covid-19 —e o risco de doença grave é menor entre eles—, a curva de mortes na Europa não acompanhou a de infectados.

Por dia, os 31 países têm registrado entre 100 e 300 óbitos por coronavírus, um número que no passado chegou a superar 5.000.

A ciência também evoluiu, novos tratamentos e procedimentos evitaram complicações e não há superlotação hospitalar. E, como afirma o virologista Marc Van Ranst, do conselho de segurança belga, “conhecemos melhor vírus e testamos melhor”, o que explica a diferença crescente entre casos e mortes.

Mas, por menos que sejam, todas as mortes por Covid-19 poderiam ter sido evitadas se não houvesse contaminação.

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