Descrição de chapéu Armênia

Erdogan diz esperar que França se livre o quanto antes do 'fardo' de Macron

Conflito entre Armênia e Azerbaijão e assassinato de professor têm elevado tensões entre presidentes de Turquia e França

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ancara (Turquia) | Reuters

O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, disse nesta sexta (4) esperar que os franceses se livrem o quanto antes do líder francês, Emmanuel Macron, a quem descreveu como um fardo para a França.

O elo entre os países, membros da Otan (a aliança militar ocidental), têm sido tensos nos últimos meses devido a diferenças políticas em relação ao conflito no Cáucaso e à publicação de caricaturas de Maomé.

"Macron é um fardo para a França. Ele e a França estão atravessando um momento muito perigoso, na verdade", afirmou o líder turco a repórteres, em referência aos protestos em cidades francesas motivados por um projeto de lei que veta a divulgação de imagens de ações policiais.

"Minha esperança é que a França se livre do problema de Macron o quanto antes."

Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na mesquita de Santa Sofia, em Istambul
Presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, na mesquita de Santa Sofia, em Istambul - Presidência da Turquia via Reuters

Turcos e franceses trocam acusações sobre seus papéis no recente conflito em torno da região separatista de Nagorno-Karabakh, internacionalmente reconhecida como parte do Azerbaijão, mas formada, em sua maioria, por armênios étnicos.

A França diz que a Turquia, aliada dos azeris, alimentou os confrontos entre os países, enquanto Ancara, por sua vez, nega a acusação e diz que os franceses, parte do grupo de Minsk, formado na década de 1990 com Rússia e Estados Unidos para mediar a questão histórica, não foram neutros.

Para o líder turco, o status de Paris como mediador acabou após demonstrações de apoio à Armênia. No fim de novembro, uma resolução do Senado francês pediu a independência de Nagorno-Karabakh.

"Ilham Aliyev [presidente do Azerbaijão] deu alguns conselhos aos franceses. O que ele disse? 'Se eles amam tanto os armênios, então deveriam dar Marselha aos armênios'. E eu estou fazendo a mesma recomendação. Se eles amam os armênios tanto assim, deveriam dar Marselha a eles", afirmou Erdogan.

Um acordo mediado pela Rússia para o conflito, que desta vez começou no último dia 27 de setembro, prevê que os armênios continuem controlando a maior parte de Nagorno-Karabakh, mas desocupem os sete distritos de maioria azeri na região, tomados nos confrontos entre os países entre 1992 e 1994.

Os azeris também vão manter o controle da cidade histórica de Shushi, vista como um símbolo da resistência armênia na região. As concessões previstas no acordo levaram mais de 3.000 pessoas a protestarem contra o premiê armênio, Nikol Pashinyan, nas ruas da capital do país, Ierevan.

A tensão entre franceses e turcos cresceu também devido ao assassinato do professor Samuel Paty, decapitado após mostrar a alunos, em aula sobre liberdade de expressão, cartuns que retratavam Maomé. O islamismo considera uma blasfêmia desenhar a imagem do profeta.

Como resposta, Macron prometeu intensificar medidas para defender o secularismo e combater o islamismo radical. "Samuel Paty foi morto porque os islâmicos querem nosso futuro, mas a França não desistirá de nossos cartuns", afirmou o presidente francês, durante homenagem ao professor.

Erdogan, então, voltou a atacar o presidente francês. "Qual é o problema do indivíduo chamado Macron com o islã e os islâmicos? Macron precisa de tratamento mental", disse ele. Antes, em 2019, a semanas de uma cúpula da Otan, o líder turco já havia dito que o par francês estava em "estado de morte cerebral".

A declaração mais recente levou a França a convocar de volta o seu embaixador na Turquia para consultas. Os franceses classificaram as declarações de Erdogan como um insulto.

No dia seguinte, em discurso na TV, o presidente pediu aos turcos que boicotassem produtos franceses. A França tem a maior população muçulmana da Europa Ocidental, cerca de 9 milhões de pessoas, ou 9% da população do país. Há anos, o governo francês defende a política de secularismo de Estado, com medidas como a proibição do uso de niqabs (véu muçulmano para cobrir o rosto) em locais públicos.

A publicação de uma charge em que Erdogan é representado levantando as vestes de uma mulher e descobrindo suas nádegas pelo jornal satírico francês Charlie Hebdo, no final de outubro, também contribuiu para o acirramento. O turco prometeu processar a publicação e adotar "ações diplomáticas".

A publicação de cartuns de Maomé já levou dois terroristas a atacarem o Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, matando 12 pessoas. Franceses e turcos também têm trocado farpas sobre a guerra civil da Líbia e a explorão de petróleo no Mediterrâneo. Em agosto, a França enviou um navio militar à área de exploração que é disputada por Turquia e Grécia, aumentando as divergências com Erdogan.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.