Descrição de chapéu Governo Biden

Após bater meta, Biden dobra meta e mira 200 mi de doses nos primeiros 100 dias

Em 1ª entrevista coletiva desde que assumiu, presidente dos EUA afirma que pode disputar reeleição

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Washington

Nos planos de Joe Biden, sua primeira entrevista coletiva como presidente dos EUA seria palco para capitalizar os recentes sucessos de seu governo, como a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão de alívio econômico e os avanços significativos na vacinação contra Covid-19.

Nesta quinta (25), o democrata cumpriu parte do roteiro ao dobrar a meta e prometer 200 milhões de pessoas imunizadas nos EUA até o fim de abril, quando completa cem dias no cargo, mas não conseguiu desviar do escrutínio diante da grave crise imigratória e a pressão por medidas mais rígidas no controle de armas que assolam o país.

O presidente dos EUA, Joe Biden, conversa com jornalistas em sua primeira entrevista coletiva na Casa Branca - Jim Watson/AFP

Diante dos jornalistas, Biden declarou ainda que sua expectativa é concorrer à reeleição em 2024, quando terá 81 anos, apesar de, até agora, ter sinalizado que seria um presidente transitório, de um mandato só. "Meu plano é me apresentar à reeleição. Essa é a minha expectativa."

O democrata ressaltou que antecipou em 42 dias o cumprimento de sua meta de aplicar 100 milhões de doses em cem dias no cargo e, diante dos saltos no programa de imunização —por dia, são 2,5 milhões de vacinas aplicadas em média no país—, decidiu usar o anúncio como boa notícia diante de temas adversos.

"Em 8 de dezembro, disse que esperava vacinar 100 milhões de pessoas em meus cem primeiros dias [de governo]. Alcançamos essa meta na semana passada, no 58º dia, 42 dias antes do previsto. Hoje estou colocando um segundo objetivo: no meu centésimo dia no cargo, teremos vacinado 200 milhões de pessoas", afirmou Biden. "Sei que é ambicioso dobrar a meta inicial, nenhum país está nem perto disso."

Questionado sobre os problemas de imigração e controle de armas, que não têm sido enfrentados com rapidez por seu governo, Biden admitiu que "não há resposta fácil" para a crise na fronteira e disse que foi eleito para "resolver problemas e não criar divisões."

Ele tentou minimizar o recorde de pessoas que tentam entrar nos EUA sem documento, mas prometeu focar essas questões, consideradas por ele preocupações de longo prazo.

Jornalistas, dispostos na Casa Branca com respeito ao distanciamento social, em entrevista coletiva de Joe Biden
Jornalistas, dispostos na Casa Branca com respeito ao distanciamento social, em entrevista coletiva de Joe Biden - Leah Millis - 25.mar.21/Reuters

"Fui eleito para resolver problemas, e o mais urgente era Covid-19 e a crise econômica para milhões de americanos, por isso coloquei todo o meu foco nisso", afirmou. "Os outros problemas de imigração e armas são políticas de longo prazo, estaremos aptos a fazer, mas o fundamental era dar às pessoas alguma paz de espírito para que elas não estejam preocupadas se vão perder algum membro da família."

Auxiliares do democrata marcaram a entrevista coletiva com nove dias de antecedência, o que foi considerado um erro por quem observa Washington de perto. A dinâmica dentro da Casa Branca é volátil, e as críticas a Biden têm aumentado pelo descontrole na fronteira entre México e EUA, com número recorde de detenção de imigrantes, e cobranças para agir de forma mais assertiva sobre a regulação de armas, após dois massacres a tiros que deixaram 18 mortos em menos de uma semana.

De acordo com levantamento da CNN americana, o democrata é o presidente que mais demorou para conceder uma entrevista coletiva nos últimos cem anos. Seus 15 antecessores mais recentes o fizeram com até 33 dias de Casa Branca —Biden já está há dois meses no posto.

PANDEMIA

Biden tem capitalizado o avanço da campanha de vacinação, que deu um salto nos EUA desde sua posse e, junto com a queda nas mortes e hospitalizações, levou o país a uma rota de mais confiança. O democrata diz que os americanos poderão viver algo perto do normal até julho. Ao todo, cerca de 130 milhões de doses já foram aplicadas nos EUA —44 milhões de americanos estão completamente imunizados e 85 milhões receberam ao menos a primeira dose, ou seja, 26% da população.

Os EUA seguem líderes em número de casos e vítimas por Covid-19 —são mais de 545 mil óbitos—, mas as curvas têm melhorado, e as mortes caíram 30% nas últimas duas semanas, segundo o New York Times.

Em 11 de março, Biden havia anunciado que todos os americanos adultos poderiam ser vacinados a partir de 1º de maio, zerando as filas de prioridade, mas a vacinação acelerada fez com que a meta pudesse ser atingida antes disso.

Após um começo considerado lento (com média de 900 mil vacinas aplicadas por dia entre dezembro e janeiro), os EUA deram um salto para a média de 2,5 milhões de imunizantes administrados diariamente —a abertura de centros de vacinação em massa, farmácias e supermercados aderindo à campanha e pesquisas que mostram o aumento do apoio no país ao imunizante contribuíram para os avanços.

IMIGRAÇÃO

A primeira grande crise do governo Biden é o descontrole na fronteira entre México e EUA, onde autoridades não mostram ter capacidade ou recursos para lidar com uma escalada recorde em duas décadas no número de imigrantes que tentam entrar em território americano sem documentos —muitos deles são crianças desacompanhadas.

Durante a entrevista coletiva, Biden admitiu que "não há resposta simples" para a crise na fronteira e disse que é "totalmente inaceitável" ter crianças detidas por mais tempo do que a lei americana permite e em condições inapropriadas.

O presidente afirmou que "está trabalhando" para tirar os menores dos centros de detenção o mais rapidamente possível, com segurança, mas sem dar detalhes sobre a operação. "As únicas pessoas que não vamos deixar ficar sentadas sozinhas do outro lado do Rio Grande, sem ajuda, são crianças”, disse Biden.

Apesar disso, o presidente tentou minimizar a crise e rejeitou a ideia de que o aumento no fluxo de imigrantes está ancorado na tese de que ele é um "cara legal", mais permissivo com estrangeiros sem documentos.

"Não é porque sou um cara legal [que as pessoas estão tentando entrar nos EUA], acontece todo ano." Na avaliação do presidente, o fluxo nas fronteiras é "sazonal" e sempre fica maior durante o inverno no hemisfério norte, mesmo sob o governo Donald Trump, conhecido por suas medidas rigorosas na divisa. "Alguém sugere que houve um aumento de 31% [dos imigrantes tentando entrar nos EUA] sob Trump porque ele era um cara legal e estava fazendo coisas boas na fronteira? Não é por isso que estão vindo."

O democrata afirmou que as pessoas tentam atravessar para os EUA porque estão fugindo da violência e da pobreza de seus países e acreditam que, agora, têm menos possibilidade de morrer durante a jornada. A maior parte, explicou, está sendo enviada de volta para seus lugares de origem, e seu objetivo é "reconstruir o sistema" para acomodar os imigrantes, com justiça e segurança, investindo na melhora das condições de vida dos países da América Latina.

Jornalistas experientes relatam restrições à imprensa para acompanhar o trabalho das patrulhas na divisa, o que não acontecia nem mesmo durante o governo Trump.

Sob pressão, Biden começou a agir no início desta semana na tentativa de mitigar o desgaste. Na entrevista coletiva, comprometeu-se com transparência e disse que, em breve, vai conceder mais acesso aos repórteres à divisa, sem detalhar quando.

Nesta quarta-feira (24), anunciou que a vice-presidente, Kamala Harris, vai liderar os esforços dos EUA para conter a crise na fronteira, em trabalho conjunto com o México e países da América Central.

Um dia antes, o Serviço de Alfândega e Proteção das Fronteiras (CBP, na sigla em inglês) havia publicado fotos e vídeos que mostravam as condições de crianças imigrantes detidas, em um movimento que autoridades chamaram de "esforço pela transparência".

A divulgação das imagens pelo governo foi feita um dia após o site de notícias Axios revelar fotos internas de um centro de detenção no Texas, mostrando condições de superlotação e improviso das instalações em meio à pandemia.

Cerca de 9.400 menores estão entre os detidos e expulsos no mês passado, segundo dados do CBP. Se considerados os números de outubro a fevereiro, o total é de quase 30 mil crianças e adolescentes.

ECONOMIA

Biden aproveitou sua rápida fala de abertura, antes das perguntas dos jornalistas, para celebrar o pagamento da nova rodada de auxílio emergencial aos americanos, em cheques no valor de US$ 1.400 (R$ 7.904) para famílias que ganham até um teto de renda anual.

O presidente relacionou os aportes diretos à queda da busca por seguro-desemprego, cujos dados mais recentes foram divulgados nesta quinta. "É a primeira vez que os números caem para um nível de antes da pandemia."

Após a aprovação do pacote de US$ 1,9 trilhão em recursos e medidas de alívio econômico em meio à pandemia, Biden reorientou esforços para a nova prioridade legislativa de seu governo: mudanças na infraestrutura dos EUA como forma de pavimentar a implantação de sua agenda ambiental.

Os assessores econômicos do presidente estão preparando um amplo plano de US$ 3 trilhões para promover a economia, cortar as emissões de carbono e reduzir a desigualdade econômica, mas o democrata enfrenta entraves políticos e pode ter que dividir as medidas na tentativa de obter apoio bipartidário.

A ideia é que parte do pacote seja financiado por aumento de impostos sobre as corporações e os americanos mais ricos —o que desagrada aos republicanos. O pacote de ajuda econômica que Biden já assinou neste mês inclui dinheiro para ajudar pessoas e empresas vulneráveis a sobreviver durante a recessão, mas pouco avança na agenda de longo prazo que ele havia prometido durante a campanha, incluindo a transição para energia renovável e a diminuição das desigualdades no país.

O novo pacote poderia, na visão de aliados, fazer esse papel, com a criação de empregos e meios para que os EUA cumpram a meta de eliminar emissões de carbono do setor elétrico até 2035.

REELEIÇÃO

Apesar de ter indicado durante a campanha que seria uma espécie de presidente transitório, Biden disse que sua "expectativa" era concorrer à reeleição depois que uma jornalista observou que Trump diz que pode disputar a Presidência em 2024. "Ai, meu Deus, eu sinto falta dele", ironizou Biden, antes de dizer que seu plano era tentar um segundo mandato.

Após a insistência de repórteres sobre quem seria seu concorrente e a viabilidade dos republicanos, o democrata perdeu um pouco a paciência. "Ah, por favor. Eu nem penso nisso. Eu não tenho ideia. Não tenho ideia se haverá um Partido Republicano, você tem?", disse à jornalista. "Eu sei que você não tem que responder à minha pergunta, mas quero dizer, você sabe, não?"

O democrata afirmou ainda que espera que a vice-presidente Kamala Harris seja mais uma vez sua companheira de chapa, caso concorra em 2024. "Ela tem feito um ótimo trabalho", afirmou Biden. Aos 56 anos, Kamala era vista como uma possível sucessora de Biden em 2024.

POLÍTICA EXTERNA

Fora imigração, o assunto não dominou grande parte da entrevista coletiva, mas serviu para que Biden deixasse mais uma vez clara sua posição agressiva em relação à China, com manutenção —e até escalada— da retórica e políticas anti-Pequim tão características da era Trump.

O democrata disse que o dirigente chinês, Xi Jinping, "não tem um osso democrático no corpo —e com 'd' minúsculo", comparando-o ao líder da Rússia, Vladimir Putin. "Ele [Xi] é um daqueles caras como Putin, que pensam que a autocracia é a onda do futuro."

Apesar do discurso forte, Biden disse ter deixado claro que os EUA não querem confrontos com a China, mas vão insistir que o país asiático siga regras internacionais e não vão tolerar violações de direitos humanos.

Mesmo com as repetidas ofensivas sobre China e Rússia, Biden disse concordar com Barack Obama na avaliação de que a Coreia do Norte é hoje o principal problema de política externa dos EUA —o país lançou dois mísseis balísticos em direção ao mar nesta semana.

O presidente disse que os EUA vão responder ao lançamento dos mísseis se as ameaças forem intensificadas, mas balanceou o discurso com diplomacia e disse estar preparado para negociar. "Eu também estou preparado para alguma forma de diplomacia, mas isso tem que estar condicionado ao resultado final da desnuclearização", disse Biden.

Pressionado a mudar a política de guerra sem fim no Oriente Médio, o democrata disse que "será difícil" para os EUA cumprirem o prazo de retirar todas as forças americanas do Afeganistão até 1º de maio, mas destacou que não tem "intenção de ficar lá por muito tempo". "Não consigo imaginar as tropas ainda lá em um ano."

O governo Biden já havia sinalizado que não cumpriria o prazo de retirada dos soldados, estipulado por Trump, alegando questões como o tamanho grande da tropa e a presença militar prolongada dos EUA na região.

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