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Xi executa feito de propaganda na celebração dos 100 anos do Partido Comunista Chinês

Líder dá recado aos EUA e a separatistas em discurso que une história chinesa do século 19 e período atual

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São Paulo

Em pouco mais de uma hora de discurso, o líder chinês, Xi Jinping, conseguiu um feito conciso de propaganda política na celebração dos 100 anos do Partido Comunista, que lidera a China desde que tomou o poder em 1949.

Envergando uma túnica maoísta, falou do passado de luta contra o Ocidente opressor e celebrou os ícones comunistas. Ignorou os horrores perpetrados no processo, deixou ameaças veladas contra adversários internos e externos, projetando ao fim um futuro de brilho e prosperidade para o país.

O líder Xi Jinping, paramentado com túnica maoísta, fala na praça da Paz Celestial nos 100 anos do Partido Comunista Chinês, em Pequim
O líder Xi Jinping, paramentado com túnica maoísta, fala na praça da Paz Celestial nos 100 anos do Partido Comunista Chinês, em Pequim - Li Xueren/Xinhua

Falou “urbi et orbi”, para a cidade e para o mundo, como faz o papa. O sujeito oculto foi a potência dominante, os Estados Unidos e sua Guerra Fria 2.0. Para Washington, além de frases cautelares acerca de como “nações ascendem e decaem”, Xi deixou sua mais assertiva colocação na manhã de quinta (1º).

“A China nunca oprimiu nem vai oprimir ninguém. O povo chinês nunca vai permitir que forças estrangeiras nos oprimam ou escravizem. Qualquer um que quiser isso vai quebrar a cabeça e derramar seu sangue na Grande Muralha de aço, forjada pela carne e sangue de 1,4 bilhão de pessoas”, resumiu, sob o mais ruidoso aplauso de sua monótona fala e previsível discordância de dissidentes políticos.

A esses também houve pouco eufemismo. Ao defender a modernização do Exército de Libertação Popular, as Forças Armadas chinesas, Xi foi enfático na defesa “da soberania e da integridade territorial” da China.

Mais ovação, exceto talvez em Taiwan e Hong Kong, aliás citadas nominalmente com a mais bovina Macau na “saudação aos compatriotas”. Sobre os muçulmanos uigures, nada específico: estavam representados em 1 dos 56 canhões cerimoniais homenageando etnias chinesas.

O tom foi ainda mais duro para a ilha em que se abrigaram os derrotados pelos comunistas nos anos 1940. Xi prometeu “resolver a questão de Taiwan”, “esmagando” qualquer tentativa de independência.

Sobre as cabeças na Praça da Paz Celestial, palco do massacre de estudantes de 1989 que naturalmente não entrou na lista de dificuldades históricas enfrentadas pelo partido, um lembrete dos meios práticos para toda essa exibição de força retórica do líder.

Eram 15 caças furtivos ao radar J-20, joia da coroa da indústria bélica chinesa, na maior quantidade já vista voando ao mesmo tempo no país. Eles encabeçaram a ritualística em solo, forjada na tradição dos desfiles comunistas da União Soviética.

Fosse a China uma democracia e a sua provável recondução para um novo mandato de cinco anos em 2022, uma eleição, a plataforma toda de Xi teria sido descrita no texto lido para 70 mil pessoas. Nada que não tenha sido dito em algum momento dos nove anos dele como líder.

Mas a argúcia discursiva de Xi esteve em criar um rosário coerente do tempo chinês, ligando as humilhações do século 19 ao poderio da segunda maior economia agora. Historiadores irão discordar da linearidade, para não falar nas inúmeras citações à promoção da liberdade e da democracia no maior dos cinco países comunistas restantes do mundo, mas funciona que é uma beleza como propaganda política.

Como não receberá voto popular, lembrou o povo de que a única forma de seguir próspero é 1) Manter o partido acima de tudo e 2) Manter a coesão da liderança partidária. Se o Estado é o partido, o partido cada vez mais é Xi Jinping.

Houve espaço até para simbolismos. Xi reverenciou, claro, o pai da pátria (Mao Tse-tung, embalsamado logo ao lado) e o pai do capitalismo de Estado (Deng Xiaoping).

Mas sobrou espaço de destaque para seus dois antecessores, além de uma citação quase psicanalítica a Liu Shoqi, número 3 do regime por muitos anos que foi humilhado e acabou morrendo durante a Revolução Cultural de Mao, sendo reabilitado por Deng.

O pai de Xi, político como ele, caiu em desgraça naquela época, e o hoje líder foi separado de sua família, indo trabalhar no campo. Seu pai nunca foi plenamente reintegrado.

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