O governo na Bolívia anunciou neste sábado (17) que investiga se Brasil e Chile tiveram algum envolvimento nos confrontos entre manifestantes e forças de segurança que ocorreram no país após a renúncia de Evo Morales, em 2019.
Segundo o porta-voz Jorge Richter, serão averiguadas relações que possam ter existido, em ajuda e contribuições, sem dar mais detalhes.
Nos últimos dias, o presidente Luís Arce disse ter havido um golpe de Estado contra Evo no fim de 2019. Os dois são do mesmo partido, o MAS (Movimento ao Socialismo). O mandatário acrescentou que a iniciativa foi apoiada por diversos governos e por ONGs americanas —ele também acusa Equador e Argentina de enviarem armas e equipamentos antidistúrbios.
A divulgação da investigação foi feita por Richter durante entrevista a uma rádio dos sindicatos de cocaleiros. Ele falava sobre as denúncias feitas há uma semana pelo chanceler Rogelio Mayta contra o governo do ex-presidente argentino de direita Mauricio Macri.
Macri foi acusado por Mayta de ter ajudado com armas e suprimentos o governo provisório da presidente interina Janine Añez a reprimir os protestos. Segundo Richter, o governo de Arce espera que o Ministério Público argentino ajude a esclarecer esse fato, e que Macri, que negou as acusações, possa dar detalhes a respeito.
No mês passado, o Executivo da Bolívia também responsabilizou o governo equatoriano de Lenín Moreno por ter despachado munição de guerra e equipamento antimotim.
Os protestos em 2019 começaram após Evo, que presidia a Bolívia desde 2006, disputar um quarto mandato nas urnas. A apuração mostrou que ele teria vencido, mas houve acusações de fraudes. Após um ultimato das Forças Armadas, Evo renunciou em 10 de novembro de 2019 e deixou o país em seguida.
Depois de passar algumas semanas no México, foi para a Argentina, onde foi recebido pelo governo de Alberto Fernández, que tomou posse em dezembro de 2019. Uma investigação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) constatou que 35 mortes foram registradas nos confrontos daquele ano. Houve conflitos entre apoiadores e opositores de Evo em várias partes do país.
Dois dias depois da renúncia, Añez chegou ao poder em uma controversa manobra legislativa, aproveitando-se de uma brecha na legislação boliviana, uma vez que todos os que estavam na linha de sucessão direta renunciaram após a saída do ex-presidente.
Sem ter reunido quórum nem na Câmara de Deputados nem no Senado, ela justificou que assumiria a Presidência de acordo com o que estabelece o regimento do Senado sobre sucessão na Casa. Segundo as regras, ante a renúncia do presidente e do primeiro vice-presidente do Senado, o regimento permitia que ela, segunda vice-presidente, assumisse o comando.
Na época, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro foi um dos primeiros líderes a reconhecer a então senadora como mandatária do país vizinho, poucas horas após ela se declarar presidente.
Añez governou o país por cerca de um ano, e passou o cargo a Luiz Arce, eleito nas urnas, em novembro de 2020. Em março deste ano, a ex-presidente interina foi presa, sob as acusações de conspiração, sedição e terrorismo nos dias que se seguiram à renúncia de Evo.
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