Descrição de chapéu Governo Biden

EUA enviam equipe técnica ao Haiti para avaliar possível ajuda ao país

Governo Biden teme risco de nova crise de imigração nas fronteiras americanas

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Porto Príncipe, Wilmington (EUA) e São Paulo | Reuters

Em meio às investigações em torno do assassinato do presidente Jovenel Moïse e a um pedido de envio de tropas, os EUA mandaram neste domingo (11) uma equipe técnica ao Haiti para determinar quais são as necessidades de segurança e de apoio ao país caribenho, afirmou John Kirby, porta-voz do Pentágono.

O presidente americano, Joe Biden, analisará as informações obtidas durante a visita para decidir como ajudar o Haiti, que vive grave crise provocada pela morte de Moïse. De acordo com Kirby, em entrevista à Fox News, a missão envolverá membros do Departamento de Segurança Interna e do FBI.

Não está claro por quanto tempo a equipe dos EUA permanecerá no Haiti. Um funcionário do governo ouvido pela agência de notícias Reuters sob condição de anonimato disse que a Casa Branca, para avaliar a situação, consultará parceiros regionais e a ONU (Organização das Nações Unidas).

Policiais perto de grupo de haitianos perto da embaixada dos EUA em Tabarre, no sábado (10) - Valerie Baeriswyl - 10.jul.21/AFP

Na sexta, autoridades do Haiti pediram que os EUA e a ONU enviassem tropas para ajudar a estabilizar o país. O envio de forças de paz das Nações Unidas depende de aval do Conselho de Segurança e traz à memória a presença de tropas internacionais no Haiti entre 2004 e 2017, em uma missão que teve protagonismo do Brasil. A força de ocupação deu algum semblante de normalidade ao país durante o período, mas, desde a saída da ONU, o Haiti retomou seu ciclo de instabilidade política e institucional.

Biden se vê frente a uma escolha difícil: enviar militares seria um revés na proposta do democrata de reduzir a atuação militar americana no exterior, como mostra a retirada acelerada do efetivo dos EUA do Afeganistão, onde a intervenção prometia ser breve e acabou durando duas décadas.

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Por outro lado, uma omissão do democrata pode gerar uma nova crise de migração em massa rumo aos EUA —o Haiti, localizado no Caribe, fica a 1.100 km da Flórida. No sábado (10), dezenas de haitianos foram até a embaixada americana na capital, Porto Príncipe, para pedir asilo.

Segundo reportagem do jornal americano The New York Times, autoridades do governo Biden inicialmente não estavam dispostas a enviar soldados para ajudar o país caribenho, e, assim, o mais provável seria que os americanos ajudassem a treinar militares e policiais haitianos, sem se envolver em combates.

Em 1915, os EUA enviaram uma missão militar ao Haiti, também após o assassinato de um presidente, e acabou ocupando o país por 19 anos. Em 2010, após o terremoto, o governo de Barack Obama enviou US$ 100 milhões em ajuda. Cerca de 1 milhão de haitianos vivem nos Estados Unidos atualmente.

O governo Biden já havia anunciado o envio de agentes do FBI e do Departamento de Segurança Interna para avaliarem como o governo americano pode ajudar nas investigações sobre a morte de Moïse. Ainda não se sabe quem foi o mandante do crime nem a causa.

Autoridades haitianas dizem que 28 homens armados participaram na ação e já prenderam, até o momento, 19 suspeitos, entre colombianos e haitianos-americanos que integravam um grupo paramilitar. Segundo o jornal Miami Herald, alguns dos suspeitos disseram, em depoimento, que receberam a missão de prender Moïse e levá-lo para o palácio presidencial, mas que, ao chegar, encontraram-no morto.

De acordo com a imprensa local, Moïse foi achado com ao menos 12 marcas de tiros. “O escritório e a sala foram saqueados. Nós o encontramos deitado de costas, [usando] calça azul, camisa branca manchada de sangue e boca aberta”, disse o magistrado Carl Henry Destin ao jornal haitiano Le Nouvelliste.

Neste sábado (10), Jimmy Cherizier, líder de uma das gangues mais poderosas do Haiti, disse que seus homens poderão tomar as ruas para exigir respostas sobre o assassinato, o que ampliaria a instabilidade no país. Para ele, Moïse foi morto por um conluio que envolveu a burguesia, policiais e estrangeiros.

"Foi uma conspiração nacional e internacional contra o povo haitiano. Dissemos a todas as nossas bases para se mobilizarem e tomarem as ruas para que haja esclarecimentos sobre o assassinato", disse Cherizier, conhecido como "Barbecue" (churrasco) e líder do grupo G9, que reúne nove gangues haitianas.

Ele afirmou ainda que seus seguidores poderiam praticar "violência legítima" e que é hora de os donos do sistema —empresários de origem síria e libanesa que dominam setores da economia— deixarem o poder. Alguns deles tinham rusgas com Moïse. "É hora de as pessoas negras, com o cabelo crespo como nós, serem donos de supermercados, concessionárias de carros e bancos."

As declarações aumentam o temor de violência descontrolada em Porto Príncipe, onde gangues e polícia vivem em confronto pelo controle das ruas, o que piora a situação de um país marcado pela miséria.

Há também cisões na cúpula do governo, pois três nomes reclamam o direito de comandar o Haiti. Com a morte do presidente, o premiê interino Claude Joseph assumiu o comando e declarou estado de sítio durante duas semanas, medida que ampliou os poderes do Executivo. Há dúvidas, porém, sobre sua legitimidade, já que o sucessor de Moïse, segundo a Constituição, seria o presidente da Suprema Corte.

O cargo, porém, está vago desde que seu titular, René Sylvestre, morreu de Covid-19.

Só que Joseph também estava prestes a deixar o cargo de premiê. Ariel Henry deveria ter assumido o posto na quarta, mas os desdobramentos do crime impediram a posse. Assim, o interino segue no comando, com apoio dos EUA e da ONU. Na sexta, porém, o Senado do país aprovou uma resolução para indicar Joseph Lambert, líder da Casa, como presidente do país. Mas o Senado conta atualmente com apenas 10 dos 30 assentos preenchidos, e só oito parlamentares concordaram com a medida.

A morte acirrou a crise política do país, que tinha no centro da disputa uma discussão sobre o término do mandato de Moïse. Ele foi eleito em 2015 e deveria ter tomado posse em 7 de fevereiro de 2016 para um mandato de cinco anos. Em meio a acusações de fraudes, porém, o pleito foi anulado e teve que ser refeito no ano seguinte. Durante esse período, o país foi comandado por um governo interino.

Moïse saiu vencedor na nova votação e assumiu o comando do Haiti em 7 de fevereiro de 2017. Como o mandato presidencial no país é de cinco anos, ele alegava que deveria permanecer no cargo até fevereiro de 2022, portanto —uma alegação apoiada pela Organização dos Estados Americanos (OEA) e pelos EUA. A oposição, porém, defendia que seu mandato deveria ter se encerrado em fevereiro deste ano.

Em meio a essa discussão, o então presidente decidiu suspender dois terços do Senado, toda a Câmara dos Deputados e todos os prefeitos e passou a comandar o país via decretos —o que rendeu uma onda de protestos contra o governo e acusações de autoritarismo.

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