O líder da chamada Frente Nacional de Resistência, facção que ainda combate o Talibã no último reduto das forças opositoras no Afeganistão, disse neste domingo (5) que se dispõe a negociar com o grupo fundamentalista islâmico que voltou ao poder no país.
Ahmad Massoud, um dos comandantes da Frente, fez o anúncio por meio de publicação no Facebook. As forças opositoras atuam no vale de Panjshir, cerca de 100 km a nordeste de Cabul, onde têm travado combates intensos com os talibãs. A região concentra as forças remanescentes do Exército do governo de Ashraf Ghani, que caiu ante os extremistas no dia 15 de agosto.
“A princípio, a Frente concorda em resolver os problemas atuais, em pôr fim imediato aos combates e em continuar as negociações”, disse Massoud, segundo a agência de notícias Reuters. “A fim de alcançar uma paz duradoura, a Frente está preparada para encerrar os combates sob a condição de que o Talibã também interrompa seus ataques."
Mais cedo, o Talibã disse que havia entrado na capital da província de Panjshir, único enclave no país que ainda não foi tomado pelos extremistas. Ao longo da última semana, o grupo chegou a cantar vitória sobre os opositores na região, informação negada pela Frente.
A proposta de uma rodada de negociações teria sido costurada por lideranças religiosas locais. Não foi a primeira vez que os dois grupos tentaram se sentar à mesa. A ofensiva do grupo fundamentalista na última quinta (2) resultou justamente, segundo um porta-voz, de negociações fracassadas.
Os talibãs não comentaram a fala de Massoud. Sem resposta, a Frente pediu na noite deste domingo (no horário de Brasília, já segunda-feira no Afeganistão) um cessar-fogo ao Talibã, em troca de se abster de qualquer ação militar contra o grupo. Neste domingo (5), a ONU disse que o Talibã se comprometeu em garantir a segurança de trabalhadores humanitários e o acesso à ajuda no Afeganistão.
"As autoridades prometem que a proteção e a segurança da equipe humanitária e o acesso humanitário às pessoas necessitadas serão garantidos e que os trabalhadores humanitários —homens e mulheres— terão liberdade de movimento garantida", disse em nota Stephane Dujarric, porta-voz das Nações Unidas.
A organização, que nesta semana alertou para uma "catástrofe humanitária iminente", realizará uma reunião em 13 de setembro em busca de aumentar a ajuda humanitária ao Afeganistão. Nesta semana, o secretário de Estado dos EUA, Anthony Blinken, também deve discutir o tema em viagem ao Qatar.
Cercado por montanhas, o terreno do vale de Panjshir dificulta invasões e foi a única parte do Afeganistão que permaneceu fora do controle do Talibã durante o primeiro regime do grupo extremista, entre 1996 e 2001. Desta vez, porém, a região se encontra completamente cercada pelos fundamentalistas.
Massoud é filho do militar que liderou os rebeldes daquela época, Ahmad Shah Massoud, o "Leão de Panjshir". Outro dos comandantes da Força de Resistência atual é o ex-vice-presidente Amrullah Saleh.
No sábado (4), o general Mark Milley, chefe do Estado-Maior dos EUA, alertou para o risco de uma guerra civil no Afeganistão em razão dos combates na região. “Minha avaliação militar é que as condições têm grandes chances de se desenvolverem para uma guerra civil. Não sei se o Talibã será capaz de consolidar o poder e estabelecer a governança”, disse Milley à Fox News, apontando para o risco de “reconstituição da Al Qaeda ou um crescimento do Estado Islâmico ou outra miríade de grupos terroristas”.
O Talibã voltou ao poder no Afeganistão 20 anos depois de ter sido deposto por uma coalizão liderada pelos Estados Unidos, na esteira do 11 de Setembro. Os americanos acusavam o grupo de abrigar os terroristas da Al Qaeda responsáveis pelos atentados. Diante da perspectiva da retirada das tropas americanas do país, concluída na última segunda-feira (30), combatentes talibãs conduziram uma ofensiva fulminante sobre o país, avançando sobre diversas capitais provinciais até retomar Cabul.
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