Ditador da Belarus ameaça cortar fornecimento de gás russo para a Europa

Em meio à crise com a Polônia, Lukachenko sobe o tom; Rússia envia mais bombardeiros nucleares

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São Paulo

O ditador da Belarus, Aleksandr Lukachenko, ameaçou nesta quinta-feira (11) cortar o fornecimento do gás russo que passa pelo território de seu país em direção ao mercado europeu.

O líder fez sua ameaça em uma reunião com ministros para discutir a crise com a Polônia, sua vizinha que o acusa de forçar a passagem de refugiados atraídos de países como Iraque e Afeganistão. Varsóvia diz que Lukachenko trabalha sob as ordens do russo Vladimir Putin.

Um bombardeiro estratégico russo Tu-160 patrulha o espaço aéreo belarusso escoltado por um caça Su-30SM da Força Aérea local nesta quinta (11)
Um bombardeiro estratégico russo Tu-160 patrulha o espaço aéreo belarusso escoltado por um caça Su-30SM da Força Aérea local nesta quinta (11) - Ministério da Defesa da Rússia/via Reuters

"Nós aquecemos a Europa, e eles ainda nos ameaçam com o fechamento de fronteiras. E que tal se nós cortássemos o gás natural para eles? Então eu recomendaria que as lideranças da Polônia, da Lituânia e de outros povos sem cérebro para pensar antes de falar", disse.

Dos 5 principais gasodutos que levam o produto russo para a Europa, onde Moscou domina 40% do mercado, 1 passa pela Belarus: o Iamal-Aurora Boreal, que desemboca na Polônia. Ele tem capacidade para enviar 84 bilhões de metros cúbicos anuais de gás, ou 27% do total à disposição da Rússia.

A ameaça é especialmente dirigida aos europeus às vésperas do inverno e no contexto da crise de abastecimento do produto, segunda principal matriz energética do continente, que levou ao aumento de preços e à acusação de que a gigante russa Gazprom estava represando o fornecimento.

A reação do ditador também é direcionada à ameaça da União Europeia (UE) de aplicar mais uma rodada de sanções a pelo menos 30 indivíduos e organizações belarussas.

O país já sofre punições devido à repressão que o ditador aplicou à oposição após vencer mais uma eleição de fachada, em agosto do ano passado. A líder opositora Svetlana Tikhanovskaia, exilada na Lituânia, disse à agência de notícias AFP que a UE não deveria negociar com Minsk.

Lukachenko também falou sobre provocação de tropas polonesas sobre soldados belarussos na região de fronteira em que estão cerca de 4.000 dos 15 mil refugiados ora em seu país. Não há provas disso, mas a tensão é clara, com ambos os países reforçando suas posições.

A Polônia é, assim como a Lituânia, membro tanto da UE quanto da Otan, o clube militar do Ocidente que se opõe à Rússia, única grande aliada de Lukachenko —nos planos de Putin, os países idealmente seriam unificados num proposto Estado da União.

A crise vinha ganhando peso nos últimos meses, mas na segunda (8) ela explodiu, com os poloneses acusando a Belarus de forçar os imigrantes a tentar invadir seu território. Dezenas de pessoas foram presas, e Varsóvia, acusada por ONGs de direitos humanos de tratar de forma brutal os refugiados.

Na capital polonesa, milhares de pessoas marcharam em comemoração ao dia da independência local, com manifestantes pedindo a expulsão de eventuais imigrantes que conseguirem entrar no país. O governo, conservador de direita, é um dos mais polêmicos da UE.

Houve nesta quarta (10) 468 tentativas de invasão por refugiados. Nesta quinta, emergiu o relato da morte de um garoto curdo de 14 anos, ainda não comprovada.

Manifestantes com bandeiras polonesas em marcha pelo dia da independência do país em Varsóvia - Dawid Zuchowicz - 11.nov.21/Agencja Wyborcza/Reuters

A Rússia, por sua vez, mantém o apoio à retórica belicosa de Lukachenko. Depois de colocar dois bombardeiros Tu-22M3 em patrulha no país vizinho na quarta, despachou dois aviões ainda mais poderosos, bombardeiros Tu-160, nesta quinta.

Ambos os modelos fizeram ataques simulados. "Sim, esses são bombardeiros capazes de levar armas nucleares. Mas não temos outra opção. Nós temos de ver o que estão fazendo além de nossas fronteiras. Deixem eles gemer e gritar", disse, com sua sutileza usual, Lukachenko.

A demonstração de força ocorre num momento de atrito renovado de Moscou com Kiev, com a concentração de tropas russas perto da fronteira ucraniana, denunciada pelos EUA como preocupante.

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