Jurado faz piada com homem negro baleado nos EUA e é expulso de julgamento

Tribunal discute caso de acusado de matar 2 pessoas em protesto antirracista em Kenosha

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Kenosha (Wisconsin) | Reuters

Um jurado foi expulso do julgamento de um jovem acusado de matar duas pessoas durante um protesto antirracista nos Estados Unidos após fazer uma piada com um homem negro ferido pela polícia.

O homem fazia parte do júri popular que julga Kyle Rittenhouse, 18, preso em 26 de agosto de 2020 sob suspeita de ter assassinado duas pessoas durante manifestações contra o racismo e a violência policial em Kenosha, no estado americano de Wisconsin.

Kyle Rittenhouse durante seu julgamento em Kenosha nesta quinta (4); ele é acusado de ter matado dois manifestantes durante protesto antirracista no ano passado
Kyle Rittenhouse durante seu julgamento em Kenosha nesta quinta (4); ele é acusado de ter matado dois manifestantes durante protesto antirracista no ano passado - Sean Krajacic/Pool via Reuters

Segundo promotores, o jurado, um homem branco de meia-idade, fez piada com o caso de Jacob Blake, homem negro que levou vários tiros da polícia na cidade, em 23 de agosto do ano passado. Um vídeo mostra policiais atirando nele pelas costas, a curta distância, na frente de seus três filhos pequenos.

Blake sobreviveu aos disparos, mas foi internado em estado crítico, chegou a ser algemado ao leito no hospital e ficou paralisado da cintura para baixo. O caso gerou indignação e foi a motivação para o protesto antirracista no qual Rittenhouse atirou em três manifestantes, matando dois deles.

Nesta quarta-feira (3), terceiro dia do julgamento de Rittenhouse, os promotores disseram que um dos jurados perguntou ao assessor do juiz: "Por que a polícia de Kenosha atirou sete vezes em Jacob Blake? Porque as balas acabaram".

O promotor-assistente do condado de Kenosha, Thomas Binger, afirmou ao magistrado que a piada era de mau gosto e mostrava preconceito racial.

O juiz, Bruce Schroeder, pediu que o homem repetisse a piada, mas ele se recusou a fazê-lo e pareceu ofendido ao ser questionado. "Não tive nada a ver com o caso", afirmou.

Schroeder afirmou então que era importante manter a confiança pública no caso e que não tinha outra solução a não ser remover o homem do julgamento. Com isso, sobraram 19 pessoas no júri —12 jurados principais e 7 suplentes.

Rittenhouse responde a acusações de, entre outros crimes, homicídio e tentativa de homicídio por ter atirado em Joseph Rosenbaum, Anthony Huber e Gaige Grosskreutz —os dois primeiros morreram em decorrência dos ferimentos. À época, ele tinha 17 anos.

O adolescente morava em Antioch, no estado de Illinois, a cerca de 33 km de Kenosha. Ele cruzou a divisa até o estado vizinho em resposta ao chamado de grupos civis, formados majoritariamente por pessoas brancas, que se organizaram nas redes sociais para convocar ativistas contrários à pauta dos protestos.

Esses grupos alegavam proteger propriedades de saques e depredações durante as manifestações. Rittenhouse estava armado com um fuzil AR-15. Imagens gravadas por testemunhas registraram o momento em que manifestantes tentaram desarmá-lo após ele atirar em um deles. O adolescente então fez disparos à queima-roupa contra seus perseguidores, o que resultou em duas mortes.

"Parece ser um membro de milícia que decidiu ser um justiceiro, tomar a lei com as próprias mãos e atingir manifestantes inocentes", disse, à época, o vice-governador de Wisconsin, o democrata Mandela Barnes.

Grosskreutz, que sobreviveu aos tiros de Rittenhouse, processou o departamento de polícia de Kenosha, bem como o gabinete do xerife local. Na ação, ele acusa as autoridades de terem delegado a uma "milícia itinerante" a missão de "proteger a propriedade e ajudar a manter a ordem". ​

Júri com apenas um negro na Geórgia

Nesta quarta (3), na Geórgia, a escolha de um júri de 11 brancos e 1 negro para o julgamento de três homens brancos que perseguiram e mataram a tiros um jovem negro no ano passado despertou críticas.

Ahmaud Arbery, 25, foi assassinado enquanto se exercitava em Satilla Shores, bairro de maioria branca no subúrbio de Brunswick, em fevereiro de 2020. Arbery estava desarmado e foi morto pelo tiro de uma espingarda disparada por um morador, que o perseguia junto com o pai e um vizinho. Eles alegaram legítima defesa.

Mulher segura cartaz pedindo justiça para Ahmaud Arbery em frente ao tribunal do condado de Glynn, em Brunswick, na Geórgia, nesta quinta-feira (4)
Mulher segura cartaz pedindo justiça para Ahmaud Arbery em frente ao tribunal do condado de Glynn, em Brunswick, na Geórgia, nesta quinta-feira (4) - Octavio Jones/Reuters

O caso intensificou os protestos nacionais contra o racismo e a violência policial no ano passado, depois que um vídeo do tiroteio, gravado com um celular, foi difundido.

A escolha do júri no Tribunal Superior do Condado de Glynn levou três semanas. Os promotores tentaram, sem sucesso, argumentar que os advogados de defesa estavam rejeitando muitos jurados em potencial por serem negros, o que a Suprema Corte dos Estados Unidos considera inconstitucional.

O pai da vítima, Marcus Arbery, 58, se disse desanimado com a composição racial do júri, mas afirmou que a justiça prevalecerá. "Eles podem escolher o júri que quiserem, mas as evidências vão mostrar que mataram meu filho a sangue frio", declarou.

O juiz do Tribunal Superior Timothy Walmsley disse ter aceitado as alegações de "neutralidade em relação à raça" realizadas pelos advogados de defesa de Gregory McMichael, seu filho Travis e o vizinho William "Roddie" Bryan.

Os três homens se declararam inocentes de acusações criminais, incluindo assassinato e agressão.

Em outro caso que despertou protestos contra a violência policial e o racismo, o da morte de George Floyd asfixiado por um policial de Minneapolis em maio de 2020, a composição do júri foi diferente: havia quatro jurados negros, seis brancos e dois multirraciais.

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