Descrição de chapéu Folhajus

Júri condena homens brancos que mataram Ahmaud Arbery nos EUA

Jovem negro fazia exercícios em um subúrbio na Geórgia quando foi alvo de tiro de espingarda

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Brunswick (Geórgia) | Reuters

O júri de um tribunal na Geórgia considerou culpados três homens que perseguiram e mataram, no ano passado, Ahmaud Arbery, jovem negro que saiu de casa para correr em um bairro de maioria branca no subúrbio da cidade de Brunswick.

O caso aconteceu em fevereiro de 2020. Arbery, 25, estava desarmado e foi morto com um tiro de uma espingarda disparado por um morador, que o perseguia junto com o pai e um vizinho.

Travis McMichael durante julgamento na Geórgia
Travis McMichael durante julgamento na Geórgia - Stephen B. Morton/Reuters

Gregory McMichael, 65, seu filho Travis McMichael, 35, e o vizinho William "Roddie" Bryan, 52, declararam-se inocentes das acusações, que incluem assassinato, agressão qualificada e cárcere privado. Eles alegaram legítima defesa.

O assassinato intensificou protestos nacionais contra o racismo e a violência policial no ano passado, depois que um vídeo do tiroteio, gravado com um celular, foi difundido. Não havia dúvidas de que Travis McMichael havia disparado três vezes em Arbery à queima-roupa.

Os advogados dos McMichael argumentaram que o assassinato se justificava por ter ocorrido depois que Arbery passou correndo pela garagem da família, em um bairro que havia sofrido uma onda de roubos recentes. Pai e filho pegaram suas armas e perseguiram Arbery em uma caminhonete. Bryan, desarmado, juntou-se aos dois momentos depois.

Os acusados disseram que pensaram que Arbery poderia estar por trás dos roubos. Entretanto, não surgiram evidências de crimes cometidos pela vítima durante suas frequentes corridas pelo bairro.

Já os promotores disseram que os réus "presumiram o pior" sobre um homem negro que saiu para correr na tarde de domingo. Ele foi perseguido pelos réus por cerca de cinco minutos.

O júri considerou Travis McMichael culpado de nove crimes, entre eles homicídio doloso e lesão corporal grave. Já Gregory McMichael e William "Roddie" Bryan foram considerados culpados de homicídio culposo —quando não há a intenção de matar—, lesão corporal grave e outros crimes menores. O veredicto saiu após duas semanas de julgamento.

A diferença na classificação dos homicídios se deve ao fato de Travis ter sido o único que disparou contra Arbery, ainda que os demais tenham participado do crime. Os três podem pegar prisão perpétua, e a data da audiência de sentença será definida nas próximas semanas. ​

Pessoas do lado de fora do tribunal que condenou três homens pelo assassinato de Ahmaud Arbery comemoram o veredito do júri - Marco Bello - 24.nov.21/Reuters

O júri do caso é composto de 11 pessoas brancas e 1 negra, o que foi motivo de protestos. Em outro caso que despertou manifestações contra a violência policial e o racismo, o da morte de George Floyd, asfixiado por um policial de Minneapolis em maio de 2020, a composição do júri foi diferente: havia quatro jurados negros, seis brancos e dois multirraciais.

Durante a audiência, o pai de Ahmaud, Marcus Arbery, teve de deixar o tribunal a pedido do juiz após celebrar, em voz alta, a condenação de um dos culpados. Depois, já do lado de fora do edifício, disse considerar o veredicto uma vitória não apenas pela memória do filho.

"Todas as vidas são importantes", disse. "Não queremos ver ninguém passando por isso. Eu não gostaria de ver nenhum pai assistir a seu filho ser linchado e abatido daquele jeito."

Os três condenados pelo assassinato do jovem ainda enfrentarão um julgamento federal, marcado para fevereiro. Nesse caso, a acusação é de que a motivação para o crime foi racial, questão discutida superficialmente no tribunal estadual. Promotores do caso afirmam que Travis McMichael usou linguagem racista ao se referir à vítima.

Benjamin Crump, advogado de direitos civis que representa a família de Arbery, disse que o julgamento federal representa uma oportunidade para expor o "ponto crucial" do caso. "Isso foi baseado na cor da pele de Ahmaud Arbery", afirmou.

O caso de Brunswick foi amplamente visto como mais um teste de como o sistema de Justiça dos EUA lida com casos de pessoas negras desarmadas mortas por brancos. Do lado de fora do tribunal, mais de cem pessoas se reuniram e gritaram pedindo por justiça enquanto os veredictos eram lidos. Bandeiras, incluindo uma do movimento Black Lives Matter (vidas negras importam), também foram agitadas.

O julgamento vem poucos dias após movimentação contrária de outro tribunal americano que inocentou Kyle Rittenhouse, jovem branco que matou dois homens, também brancos, durante um ato antirracista em Kenosha (Wisconsin). Os dois casos impulsionam o debate público sobre a violência armada nos EUA, algo que o presidente Joe Biden chegou a classificar como um "constrangimento internacional".

O democrata reagiu à condenação dos assassinos de Arbery. "Embora o veredicto mostre que nosso sistema de Justiça está fazendo seu trabalho, só isso não é suficiente", disse, em um comunicado. "Devemos nos comprometer com a construção de um futuro no qual ninguém seja alvo de violência por causa da cor de sua pele."

Outras autoridades também deram declarações. O republicano Brian Kemp, governador da Geórgia, disse em nota que "Arbery foi vítima de um vigilantismo que não tem lugar na Geórgia". "Esperamos que a família Arbery, nosso estado e aqueles em todo o país que têm seguido seu caso possam agora seguir em frente por um caminho de cura e reconciliação."

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