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Número de mortos após explosão de caminhão no Haiti sobe para 75

Vítimas tentavam coletar combustível, cuja disponibilidade é escassa no país devido à ação de gangues locais

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O número de mortos após a explosão de um caminhão-tanque em Cap-Haitien, segunda maior cidade do Haiti, na madrugada desta terça (14), subiu para 75 nesta quarta (15). O acidente ocorre quatro meses após um terremoto deixar mais de 2.000 mortos e fragilizar a situação socioeconômica do país caribenho.

Ao jornal Le Nouvelliste, um membro da comissão municipal de Cap-Haitien informou que moradores procuravam coletar combustível depois de o caminhão, que transportava 9.000 galões, sofrer um acidente ao tentar desviar de uma motocicleta. Mais de 48 pessoas ficaram feridas, e cerca de 40 casas próximas ao local pegaram fogo.​

Policiais e bombeiros retiram os corpos carbonizados após a explosão de um caminhão-tanque no Haiti - Samuel Volcy - 14.dez.21/Reuters

Bombeiros relataram que, dentre os corpos parcialmente carbonizados no local estavam os de muitas mulheres e crianças, ainda que o número seja incerto. "Estamos longe de fazer um balanço, porque deve haver muitos mortos dentro das casas que foram queimadas", afirmou um dos oficiais ao Le Nouvelliste.

As equipes de resgate já recuperaram 61 corpos.

O premiê Ariel Henry, que também chefia o governo de transição do país após o assassinato do presidente Jovenel Moïse, decretou três dias de luto nacional em memória das vítimas da tragédia. Informou, ainda, que hospitais de campanha estão sendo providenciados para cuidar dos feridos.

"Fiquei sabendo, com desolação, da triste notícia da explosão em Cap-Haitien [...] Em nome de meu governo e de toda a população haitiana, incluindo a diáspora, apresento minhas sinceras condolências aos familiares das vítimas, bem como a todos aqueles direta ou indiretamente afetados por este drama", escreveu Henry no Twitter.

Mais tarde nesta terça, o premiê visitou as vítimas no principal hospital da cidade e prometeu verbas do governo em resposta à tragédia. Henry anunciou também que as vítimas terão direito a um funeral de Estado.

Haitianos fizeram postagens nas redes sociais descrevendo a situação no local como caótica. O jornalista Frantz Duval, editor-chefe do Le Nouvelliste, disse que os hospitais locais, já precarizados, precisam de reforço urgente, em especial remédios e médicos para atender àqueles que sofreram queimaduras.

O hospital Justinien, para o qual foram levados dezenas de feridos após a explosão desta terça, está sobrecarregado. À agência de notícias AFP uma enfermeira do local disse que não há meios para atender a todos os que chegam com queimaduras graves, sendo que a maioria teve mais de 60% da superfície corporal queimada. "Temo que não vamos poder salvar todos", relatou.

O Haiti, país mais pobre da América Latina, enfrenta escassez de combustíveis, em especial devido ao bloqueio que gangues locais têm organizado nas estradas que levam aos postos de petróleo. Hospitais, inclusive aqueles administrados pela ONG internacional Médicos Sem Fronteiras, já denunciaram a situação, descrita como calamitosa.

A atuação das gangues, que há anos aflige o país, tornou-se maior desde o assassinato do presidente Moïse, o que criou um vácuo de poder e deu fôlego para a expansão de grupos criminosos. As gangues chegaram a dificultar a chegada de ajuda humanitária após o terremoto que atingiu os departamentos do sudoeste do país em agosto.

Cresceu, ainda, o número de sequestros organizados por esses grupos em busca de dinheiro. Em meados de outubro, 17 missionários estrangeiros, incluindo mulheres e crianças, foram sequestrados na capital Porto Príncipe —até o momento, cinco deles foram libertados.

O assassinato de Moïse, morto em sua residência oficial quando estava em companhia da primeira-dama, continua sendo investigado. As autoridades já detiveram 45 pessoas, mas ainda não acusaram ninguém pela organização do crime. Henry, que assumiu o cargo após a morte do presidente, chegou a ser apontado como envolvido, mas logo demitiu autoridades ligadas à investigação.

Reportagem do jornal americano The New York Times publicada no último domingo (12) mostrou que, antes de ser morto, Moïse estava preparando um dossiê de funcionários do alto escalão do governo e de empresários ligados ao tráfico de drogas no país para entregar ao governo dos EUA.

Alguns dos presos, de acordo com a apuração que ouviu mais de 70 pessoas em 10 departamentos haitianos, confessaram que recuperar a lista com nomes de supostos traficantes era um dos principais objetivos ao invadir a casa do presidente.

Com AFP

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