EUA rejeitam caças da Polônia para a Ucrânia e fazem patrulha com bombardeiro nuclear

Americanos vão reforçar defesa de Varsóvia com duas baterias antiaéreas Patriot

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São Paulo

Os Estados Unidos rejeitaram a oferta feita pela Polônia de transferir sua frota de caças MiG-29 para uma base americana na Alemanha e, daí, para reforçar a Força Aérea da Ucrânia, como havia pedido o presidente Volodimir Zelenski.

Ao mesmo tempo, Washington manteve nesta semana as patrulhas com quatro bombardeiros estratégicos B-52 no Leste Europeu, mandando um sinal à Rússia, que está em alerta nuclear máximo desde o domingo seguinte à invasão do país vizinho, 27 de fevereiro.

Caça MiG-29 ucraniano escolta um bombardeiro B-52 americano durante exercício conjunto em 2020
Caça MiG-29 ucraniano escolta um bombardeiro B-52 durante exercício conjunto em 2020 - Forças Armadas da Ucrânia - 4.set.2020/Reuters

O Pentágono também anunciou que enviará duas baterias antiaéreas Patriot para o território polonês, visando a garantir que não haja um transbordamento do conflito ucraniano para fronteiras de membros da Otan, a aliança militar comandada pelos EUA.

Os três movimentos estão interligados. A proposta polonesa pegou o Pentágono de surpresa na terça-feira (8). "Simplesmente não está claro para nós se há uma racionalidade substantiva nela", disse com franqueza o porta-voz John Kirby.

Na noite desta quarta (9), o embaixador em Washington Marek Magierowski disse que Varsóvia entendeu a mensagem. "Nossos parceiros americanos rejeitaram a proposta. O que precisamos enfatizar agora de novo é a unidade e a coesão da Otan. Sigamos em frente", disse à CNN.

A Polônia queria, com a ideia, que os EUA fossem os guardiões e executores do plano de fornecer caças para Zelenski. Antes da guerra, a Ucrânia tinha 37 modelos de caças soviéticos MiG-29 e 34 Su-27. Muitos foram abatidos, segundo os relatos disponíveis.

Na Otan, a Polônia tem a maior frota de caças leves MiG-29, herança do tempo em que o país era comunista e fazia parte do Pacto de Varsóvia. São 28 aviões. Um dos mais famosos aviões soviéticos, eles foram adaptados ao longo do tempo para serem integrados a armamentos e sistemas de comunicação e dados padrão Otan.

Os poloneses entraram na Otan em 1999, na primeira expansão da aliança após a Guerra Fria, algo que até hoje não foi perdoado pela Rússia. O "casus belli" central de Vladimir Putin na Ucrânia é justamente o avanço dela a leste, que já abarcou 14 países que foram socialistas, incluindo 3 repúblicas ex-soviéticas no Báltico.

Outro país vizinho da Ucrânia, a Eslováquia, que entrou na grande expansão de 2004, tem 11 MiG-29. A Bulgária (também da classe de 2004), mais distante, tem 15, mas são aviões em fase de desativação. Em tese, pilotos ucranianos podem pilotar todos esses modelos.

Desde o começo da guerra, a União Europeia e os EUA falam em enviar caças para Zelenski. Assim como na questão da zona de exclusão aérea pedida pelo ucraniano à aliança, contudo, a ideia parece esbarrar no temor de passar a impressão de envolvimento excessivo no conflito com os russos.

Não há uma linha desenhada no chão. Zona de exclusão aérea implicaria pilotos e operadores de defesa aérea ocidentais na Ucrânia. Putin alertou, sem sutileza, sobre "consequências nunca vistas" se alguém se intrometesse em sua operação. Em outras palavras, Terceira Guerra Mundial, nuclear.

Aparentemente, a Otan percebeu que enviar caças talvez seja tão aceitável quanto o fornecimento até aqui de cerca de 20 mil mísseis antitanque e antiaéreos para Kiev. "Nós continuamos as consultas com a Polônia e outros aliados da Otan sobre a questão e os difíceis desafios logísticos dela", disse Kirby.

No começo da semana, o porta-voz do Ministério da Defesa russo fez o alerta. "O uso da rede de aeródromos desses países [da Otan] para basear aviação militar ucraniana com o uso subsequente da força contra a Rússia pode ser considerado o envolvimento desses Estados no conflito", disse o general Igor Konachenkov.

Kirby concordou com a lógica na noite de segunda. A alternativa seria desmontá-los e enviar por caminhões, o que os exporia a bombardeio e eventual escalada se houvesse pessoal da Otan envolvido.

Ao mesmo tempo, os EUA precisam mostrar prontidão, e aí que entram os B-52, mamutes voadores que desde os anos 1950 são o esteio da força de bombardeiros americana. Eles podem lançar armas convencionais ou nucleares, como mísseis de cruzeiro. São um recado em si.

No início de fevereiro, com a invasão sendo chamada de iminente pelo Ocidente, quatro desses aviões foram deslocados para a base aérea britânica de Fairford. São exercícios rotineiros, mas o momento não é. De lá, têm conduzido missões semanais de patrulha na Europa, a mais recente sobre a Romênia na segunda (7).

Além disso, a instalação dos Patriot na Polônia visa a deixar bem clara a linha divisória entre as ações russas e o espaço aéreo da Otan. Até aqui, Moscou foi bastante cautelosa, tanto que opera de forma bastante leve no oeste ucraniano, onde se concentram os refugiados da guerra na cidade-chave de Lviv.

Tanto é assim que há uma linha de comunicação de emergência estabelecida entre Rússia e EUA sobre operações na região para evitar que eventuais mal-entendidos virem uma declaração de guerra. Mas isso pode mudar, basta um caça russo sair do caminho e ser abatido na Polônia ou um míssil de Moscou cair do outro lado da fronteira.

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