Chuvas na África do Sul deixam mais de 300 mortos e cenário de catástrofe

Em Durban, mais de 6.000 moradias foram destruídas; costa do continente sofre com tempestades tropicais cada vez mais fortes

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Durban (África do Sul) | Reuters e AFP

O número de mortes causadas pelas chuvas intensas que devastaram parte da costa leste da África do Sul nesta semana subiu para 306, segundo o mais recente balanço do governo divulgado nesta quarta-feira (13).

Essas foram as tempestades mais fortes em mais de 60 anos no país, que deixaram paisagens destruídas, com desmoronamento de pontes, deslizamentos de terra e estradas submersas ao redor da cidade portuária de Durban, epicentro da catástrofe, na província de Kwazulu-Natal.

Estrada destruída em Durban, na África do Sul, após fortes chuvas que deixaram mais de 250 mortos - Phill Magakoe/AFP

Dezenas de pessoas estão desaparecidas, e os socorristas falam em um cenário de pesadelo. "Nossos necrotérios estão sob pressão", disse Nomagugu Simelane-Zulu, representante do departamento de saúde da província.

A Polícia Nacional deslocou 300 agentes para a região, enquanto a Força Aérea enviou aviões para ajudar nas operações de resgate. Trombas-d'água inundaram as ruas, onde apenas os topos dos semáforos eram visíveis. As torrentes também destruíram uma série de pontes, carros e imóveis. Mais de 2.000 casas e 4.000 moradias informais, como barracões, foram danificadas.

As chuvas obrigaram o porto, o mais importante da África subsaariana, a interromper suas operações, já que a principal estrada de acesso ao terminal sofreu graves danos. Contêineres foram arrastados e formaram montanhas de metal e sucata. Além disso, um caminhão-tanque foi avistado boiando no mar após ser arrastado para fora da estrada. Deslizamentos de terra forçaram também a suspensão dos serviços ferroviários.

O governo da província disse que a catástrofe "causou um caos incalculável e causou grandes danos a vidas e infraestrutura".

A Igreja Metodista Unida no município de Clermont foi reduzida a escombros. Quatro crianças de uma família do bairro foram mortas quando um muro desabou sobre elas. Outras casas pendiam precariamente da encosta.

"Vemos como essas tragédias atingem outros países, como Moçambique ou Zimbábue, mas agora somos nós os afetados", disse o presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, que encontrou famílias perto das ruínas da igreja.

O presidente da África do Sul, Cyril Ramaphosa, visita vítimas de chuvas que mataram mais de 250 no país - Phill Magakoe/AFP

Em Moçambique, ao norte da África do Sul, uma inundação no último mês deixou mais de 50 mortos. A costa sudeste da África está na linha de frente dos sistemas marítimos que têm causado desastres naturais na região —de intensidade crescente em meio às mudanças provocadas pela crise climática.

Os países vizinhos da África do Sul sofrem com tempestades tropicais quase todos os anos, mas os sul-africanos, em geral, enfrentam menos problemas do tipo. Em abril de 2019, porém, inundações deixaram cerca de 70 mortos na África do Sul.

"Sabemos que a mudança climática está piorando, passamos de tempestades extremas em 2017 para o que deveriam ser inundações recordes em 2019, mas 2022 claramente supera isso", disse Mary Galvin, professora de estudos de desenvolvimento da Universidade de Joanesburgo.

Partes do estado de KwaZulu-Natal receberam 450 milímetros de chuva em 48 horas, segundo o serviço meteorológico, quase metade dos 1.000 mm de chuva previstos para o ano inteiro em Durban. Nesta quarta, ainda chove em partes da província, mas a previsão é de que o tempo melhore.

As escolas em áreas não afetadas pelas enchentes reabriram na quarta-feira, mas com menos alunos em sala. Um professor de uma escola primária no subúrbio de Inanda, em Durban, disse que apenas dois dos 48 alunos compareceram às aulas.

Durban é a mesma cidade onde protestos em massa e revoltas em julho de 2021 deixaram mais de 350 mortos.

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