Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Ucrânia acusa Rússia de atacar último reduto de defensores em Mariupol

Putin havia ordenado Exército a não invadir usina de Azovstal; prefeito apontado por Moscou nega combates na cidade

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

Forças da Rússia realizaram ataques neste domingo (24) contra a usina de Azovstal, último reduto de combatentes ucranianos na cidade portuária de Mariupol, disseram autoridades de Kiev.

O comando das Forças Armadas ucranianas afirmou que a Rússia abriu fogo e realizou operações ofensivas no local.

O complexo siderúrgico de Azovstal, último reduto de combatentes ucranianos em Mariupol - Victor - 22.abr.22/Xinhua

"Estamos sofrendo baixas, a situação é crítica [...] Temos muitos homens feridos, [alguns] estão morrendo, é uma [situação] difícil com relação a armas, munição, comida, remédios [...] Está piorando rapidamente", disse em vídeo publicado no YouTube o comandante da 36ª Brigada da Marinha da Ucrânia, Serhii Volina, de dentro do complexo. Segundo as autoridades ucranianas, cerca de mil pessoas estariam no local.

Konstantin Ivaschenko, apontado pela Rússia como prefeito de Mariupol após a ocupação da cidade, negou que combates estivessem acontecendo no local, informou a agência de notícias russa Tass. As alegações de Kiev e de Moscou não puderam ser verificadas de maneira independente.

Diante da situação tensa, a Ucrânia propôs neste domingo uma rodada de negociações com a Rússia para debater o destino dos civis, estimados em 100 mil, e dos militares de Kiev que ainda estão na cidade, segundo afirmou Oleksii Arestovitch, conselheiro do presidente Volodimir Zelenski.

As conversas teriam como objetivo estabelecer um cessar-fogo imediato em Mariupol, corredores humanitários em diferentes dias e a libertação ou troca de combatentes em Azovstal. A interrupção dos conflitos para retirar civis também foi pedida pela ONU neste domingo.

A vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereschuk, disse que civis continuam sitiados na cidade portuária e que nenhum corredor humanitário foi aberto neste domingo devido a ataques russos.

Na semana passada, o presidente Vladimir Putin declarou vitória em Mariupol, ainda que tenha ordenado o Exército a não atacar combatentes ucranianos cercados em Azovstal. Em reunião transmitida pela TV, ele orientou que seu ministro da Defesa bloqueasse a usina "para que nem mesmo uma mosca pudesse passar", em vez de tentar invadi-la.

Apesar do aceno, Zelenski afirmou no dia anterior que a Ucrânia abandonará as negociações de paz se a Rússia matar militares ucranianos entrincheirados na usina. Já em pronunciamento emocionado na milenar catedral de Santa Sofia, neste domingo, quando se comemora a Páscoa ortodoxa, o mandatário afirmou que seu país irá superar "tempos sombrios"​.

Este domingo também foi marcado pela primeira visita de mais alto nível de representantes americanos à Ucrânia desde o início da invasão russa, há dois meses, com o encontro entre Zelenski e os secretários de Estado e de Defesa dos EUA, Antony Blinken e Lloyd Austin, em Kiev.

O governo dos EUA manteve sob intenso sigilo a reunião até que as duas autoridades tivessem deixado o país, segundo o jornal The New York Times, mas o presidente ucraniano havia anunciado a visita na véspera, detalhando que que discutiria o tipo de armamento necessário para a Ucrânia combater a invasão. Ele disse também que espera que o presidente Joe Biden vá a Kiev para "apoiar o povo ucraniano", quando a situação de segurança permitir.

Os EUA e os aliados da Otan, a aliança militar ocidental, têm demonstrado uma crescente prontidão para fornecer equipamentos mais pesados e sistemas de armas mais avançados. O Reino Unido prometeu enviar veículos militares e considera fornecer tanques à Polônia.

Se confirmada, a visita da delegação americana ocorre em um momento de avanço da ofensiva de Moscou sobre o leste e o sul da Ucrânia. Civis morreram em ataques russos na região de Lugansk neste domingo, disse o governador Serhii Gaida. "Hoje, novamente, civis morreram. Nossos compatriotas. Eles [os russos] não acreditam em nada sagrado", disse o político, em pronunciamento por vídeo.

Já o governador de Donetsk, Pavlo Kirilenko, disse que duas crianças foram mortas em bombardeios na região e em Kharkiv a procuradoria regional relatou um morto e três feridos por ataques na cidade de Tchuguiv.

Os russos, por sua vez, relataram que um vilarejo na região de Belgorodo, na fronteira com a Ucrânia, foi alvo de bombardeios vindos do outro lado da divisa, mas não houve vítimas ou danos materiais, segundo a agência Tass.​

Ainda neste domingo, o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, conversou por telefone com Zelenski e reforçou a necessidade da retirada de civis de Mariupol. Segundo comunicado da Presidência da Turquia, Erdogan disse que a situação no porto "fica mais triste a cada dia".

O turco prometeu apoio nas negociações entre Kiev e Moscou por um cessar-fogo. "O presidente disse que estava pronto para oferecer toda a assistência que puder durante o processo de negociação, incluindo mediação."

Erdogan deve conversar com Putin, nesta segunda-feira (25). Em março, a Turquia sediou uma rodada de negociação entre os chanceleres da Ucrânia e da Rússia.

O ex-presidente da Ucrânia Viktor Iuschenko defendeu neste domingo o apoio internacional a Kiev como uma ferramenta essencial para derrotar a invasão russa. "Uma das melhores armas que nós temos agora contra [Vladimir] Putin é apoio e solidariedade internacionais. Isso é algo que realmente o incomoda", escreveu Iuschenko, que governou a Ucrânia de 2005 a 2010, em artigo de opinião no jornal britânico The Guardian.

Ele afirma que, mesmo tendo sido alvo de ataques de Putin durante sua campanha eleitoral, procurou manter uma relação de trabalho com o líder vizinho após chegar à Presidência. "Mas o Putin com quem eu lidei não existe mais. Desde então, ele virou um déspota brutal e completamente isolado que não aceita nenhuma oposição", escreve.

"Esta guerra é um momento decisivo, não só na história ucraniana, mas na defesa da democracia. Não é apenas um conflito regional entre a Ucrânia e a Rússia, mas uma luta contra a tirania e o imperialismo".

O papa Francisco reforçou seu pedido de trégua na guerra entre Rússia e Ucrânia em meio à celebração da Páscoa ortodoxa.

"É triste que as armas cada vez mais tomem o lugar das palavras. Renovo o apelo a uma trégua pascal, o menor sinal tangível de um desejo de paz. Que parem os ataques para aliviar o sofrimento das populações exaustas", disse o pontífice durante missa dominical celebrada na praça São Pedro. Bandeiras ucranianas podiam ser vistas na multidão.

Com Reuters e AFP

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.