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Guerra na Ucrânia: Conflito entra em 2ª fase com mais armas e ataques centrados

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São Paulo

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Ataques mais intensos, concentrados na região leste e com a perspectiva de um confronto mais violento e com o uso de armamentos mais pesados dos dois lados nos próximos dias.

A guerra na Ucrânia ingressou em uma segunda fase, como o governo russo denomina a investida no território vizinho após a retirada de tropas do entorno de Kiev.

No primeiro momento, o Kremlin promoveu ofensivas contra bases militares importantes em outras partes do território ucraniano, ao mesmo tempo em que suas tropas avançavam pelo leste para dominar cidades próximas a áreas separatistas pró-Moscou.

Agora, após ter encontrado resistência e ter sofrido sua maior baixa desde a Segunda Guerra, a Rússia tenta concentrar forças na região de forma a consolidar o domínio de cidades conquistadas desde então, como Mariupol.

A região está ligada a dois objetivos primários alegados pelo governo de Vladimir Putin para justificar a invasão, iniciada há 46 dias:

  1. o reconhecimento, por parte da Ucrânia, das províncias separatistas de Donetsk e Luhansk como independentes;

  2. o reconhecimento da Crimeia, anexada por Putin em 2014, como sendo um território russo.

Entenda: Dominada por grupos pró-Moscou, Donetsk e Luhansk ficam na região do Donbass, no leste, perto da fronteira com a Rússia. Com os ataques nessa região, Putin tenta criar um corredor terrestre entre seu país, passando pelo Donbass, até a Crimeia, que fica no sul.

A mudança do foco do conflito para o leste é demonstrada pela série de ataques em Kharkiv (1, no mapa abaixo), a segunda maior cidade ucraniana, que foi alvo de 66 bombardeios em apenas 24 horas, segundo divulgaram as autoridades locais neste domingo. Kharkiv fica no nordeste do país —o que indica uma possível tentativa da Rússia de estender para ali o seu corredor.

O mesmo ocorre com Dnipro (2), onde um aeroporto civil foi destruído neste domingo, segundo as autoridades locais. A cidade industrial de um milhão de habitantes é atravessada pelo rio de mesmo nome, que marca o limite das regiões leste do país.

Também estão sendo frequentes os ataques em Kherson (4), próximo à Crimeia; e em Mikolaiv (5), entre a Crimeia e Odessa, o principal porto da Ucrânia. A cidade ao sul fica no caminho para Moldova e poderia ser um elo entre o território que a Rússia quer dominar e a Transnístria —área pró-Moscou no país vizinho.

Essa reorganização dos esforços russos também é o contexto de duas tragédias que chocaram a comunidade internacional na última semana e que estão no centro da disputa narrativa entre Rússia e Ucrânia:

  • Os mortos em Butcha expostos pela saída das tropas de Putin da região de Kiev. Neste domingo, uma nova vala comum, com dezenas de corpos, foi encontrada em Buzova, também perto da capital. A Rússia nega a execução de civis;

  • O ataque à estação de trem em Kramatorsk (3), que deixou mais de 50 mortos. Embora os dois países acusem um ao outro pela ação e não esteja claro se o local era o alvo correto do míssil, a tragédia mostra que a atividade militar segue intensa na região de Donetsk.

Mapa
Folhapress

Para Danielle Ayres, coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e vice-presidente da Abed (Associação Brasileira de Estudos de Defesa), os ataques a essas cidades visam a consolidar o avanço alcançado na primeira fase.

"O objetivo agora não é mais tomar esse território, mas garantir o controle russo a esse território. De modo que num futuro seja possível, numa mesa de negociação, fazer a Ucrânia reconhecer os avanços russos a leste", afirma.

Segundo a pesquisadora, o futuro próximo do conflito vai depender de como o presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, organizará a sua defesa no leste.

  • "Ele pode mandar o seu Exército para ajudar os grupos paramilitares que estão lá, como o Batalhão Azov e um grande quantitativo de mercenários. Mas corre o risco de suas tropas serem dizimadas e de deixar Kiev desprotegida", diz. Nesse caso, há a possibilidade de que o conflito se prolongue, nos moldes do que ocorre na região do Donbass desde 2014;

  • Zelenski pode enviar apenas reforço de armamentos. Diante da discrepância das tropas, o combate poderia se encerrar mais rapidamente com uma eventual derrota ucraniana na região. Mas a resistência da comunidade internacional de dar legitimidade à presença russa na área poderá levar a guerra para uma estagnação no campo diplomático.

Não se perca

Apresentamos três fatores que devem influenciar as próximas semanas de conflito:

Envio de armas: A Ucrânia começou a receber parte do arsenal prometido pela Otan, a aliança militar ocidental. O material vem da Eslováquia e da República Tcheca e inclui sistemas antiaéreos de longa distância, lançadores de foguetes, tanques e blindados. No sábado, o premiê britânico Boris Johnson esteve com Zelenski em Kiev e também anunciou mais ajuda militar.

Novo comando: Segundo a BBC, a Rússia nomeou o general Alexander Dvornikov, que atuou na Síria, para comandar a invasão da Ucrânia e reduzir os reveses de Moscou no conflito. Para autoridades norte-americanas, a mudança sinaliza que mais crimes e brutalidades contra civis ucranianos ocorrerão.

Comoção: Em visita a Butcha na sexta, autoridades da União Europeia prometeram mais apoio à Ucrânia, inclusive para ajudar o país a se integrar ao bloco —aceno que pode irritar a Rússia. A morte de civis na cidade também motivou o anúncio de novas sanções por UE, EUA e Reino Unido.

O que aconteceu neste domingo (10)

  • Nova vala comum com dezenas de corpos foi encontrada perto de Kiev;

  • Aeroporto de Dnipro, no leste da Ucrânia, foi bombardeado;

  • Papa pediu uma trégua de Páscoa que leve a negociações na Ucrânia.

Imagem do dia

Mulher chora, tampa a boca e aperta os olhos em desespero, enquanto é consolada por homens ao seu redor.
Mulher é consolada em Buzova, onde a polícia encontrou o corpo de seu filho em um fosso com dezenas de vítimas; Ucrânia atribui ação às tropas russas - Zohra Bensemra/Reuters

O que ver e ouvir para se manter informado

Uma seleção de cenas de violência e angústia que tomaram cidades ucranianas registradas por fotógrafos desde 24 de fevereiro:

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