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Premiê alemão encara sinais de insatisfação antes de completar 6 meses no cargo

Além de derrotas em eleições regionais, Scholz vê aprovação chegar ao pior nível desde que assumiu

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Milão

Perto de completar seis meses como premiê da Alemanha, Olaf Scholz recebeu, nas últimas semanas, sinais claros de que parte do eleitorado está insatisfeita com sua liderança. Com a pior aprovação desde que assumiu, viu o Partido Social Democrata (SPD) ser derrotado nas duas eleições realizadas neste mês.

O revés mais importante aconteceu no último domingo (15), no estado de Renânia do Norte-Vestfália, o mais populoso do país, com cerca de 18 milhões de habitantes. Em um reduto tradicional, o SPD, de centro-esquerda, recebeu 26,7% dos votos, o pior resultado da história da legenda na região, e ficou em segundo lugar. À frente, a CDU (União Democrata-Cristã), de centro-direita, obteve 35,7%.

O premiê da Alemanha, Olaf Scholz, antes de reunião de gabinete do governo, em Berlim
O premiê da Alemanha, Olaf Scholz, antes de reunião de gabinete do governo, em Berlim - Hannibal Hanschke/Reuters

O resultado respinga em Scholz ainda mais devido ao seu envolvimento pessoal na campanha de Thomas Kutschaty, cujo material de propaganda destacava o apoio do premiê, com fotos dos dois juntos.

No domingo anterior, o alerta já tinha sido dado no estado de Schleswig-Holstein, onde a CDU obteve uma marca ainda mais ampla, com 43,4%. Ali, o SPD ficou em terceiro lugar, com 16%. Em ambas as eleições, chamou a atenção o desempenho dos Verdes, que viram seu percentual de votos (18,2%) quase triplicar em cinco anos em Renânia do Norte-Vestfália. Em Schleswig-Holstein, lograram o segundo lugar (18,3%).

Embora seja consenso que questões de política externa costumam ter baixa influência nas urnas, ainda mais em pleitos regionais, a Guerra da Ucrânia tem sido apontada como uma das razões pela performance ruim do SPD. A explicação passa mais pelo modo de Scholz se comunicar do que pelos atos em si.

"Muito do que Scholz diz sobre a Ucrânia é geralmente bem recebido pela população. Mas a forma como ele se expressa faz com que a imprensa o caracterize como muito hesitante. E um chefe de governo hesitante contradiz as expectativas da população, especialmente em tempos de crise", afirma a cientista política Ursula Münch, diretora da Academia de Educação Política, em Tutzing.

Dois exemplos que receberam críticas foram a decisão, considerada lenta, de enviar armas pesadas para a Ucrânia –o que efetivamente foi anunciado no final de abril, dois meses após o início da guerra– e um apoio visto como pouco enfático ao presidente ucraniano, Volodimir Zelenski.

Nas pesquisas de avaliação, a aprovação do premiê entre os eleitores desceu ao pior nível desde que entrou no lugar de Angela Merkel (CDU), no início de dezembro. Em 39%, a taxa daqueles que se declaram satisfeitos com a atuação de Scholz caiu 17 pontos percentuais ao longo de abril.

O estilo de comunicação mais discreto tem sido apontado como fator negativo para sua popularidade mesmo antes da guerra. Logo após a invasão russa, ele esboçou uma mudança de rumo em um discurso no Parlamento, no qual anunciou a decisão de aumentar as despesas militares da Alemanha, poucos dias após ter suspendido a certificação do projeto do gasoduto Nord Stream 2, com a Rússia —duas viradas históricas na política externa do país que contribuíram para que a aprovação do premiê atingisse 56%.

"Desde então, ele deixou de comentar suas decisões em público. A população alemã sente falta de uma demonstração clara sobre quais são os próximos passos. Existe um silêncio", diz Frank Baasner, diretor do Instituto Franco-Alemão, em Ludwigsburg, dedicado a temas políticos e econômicos entres os países.

Na segunda-feira (16), como possível efeito da derrota eleitoral do SPD, o premiê participou, no estúdio de uma emissora de TV, de um bate-papo com telespectadores. "Nestes tempos, é particularmente importante explicar nossas ações. Especialmente a guerra e seus efeitos", escreveu Scholz no Twitter.

Baasner diz que, além das deficiências na comunicação, tem havido um contraste forte com a maneira de se expressar de seus ministros Robert Habeck (Economia) e Annalena Baerbock (Relações Exteriores), ambos verdes e, atualmente, os políticos mais populares do país, com 56% de aprovação cada um –o que se reflete no bom desempenho da legenda nas eleições. "Há uma diferença enorme entre o modo de Scholz e mesmo de líderes conservadores e liberais e o modo dos verdes. Baerbock é muito presente, fala de maneira muito clara, compreensível. Diz coisas como 'eu não sei'. É uma mudança completa."

No contexto externo, a personalidade do premiê é comparada à do presidente da França, Emmanuel Macron, reeleito para mais cinco anos. "Scholz tem um jeito mais passivo de fazer política, enquanto Macron se posiciona como um líder", afirma o diretor. Mas, na maioria dos pontos, os dois estão de acordo atualmente, inclusive no que diz respeito à guerra, com ambos buscando protagonizar tentativas de uma solução mais diplomática do que bélica, mantendo conversas constantes com Rússia e China. "É certo que há uma diferença na velocidade das decisões, mas as estratégias estão de acordo até agora."

Apesar do momento negativo internamente, os especialistas não veem uma situação ameaçadora para o governo Scholz, embora haja desafios dentro da coalizão que o apoia, formada, além de SPD, pelos liberais do FDP (Partido Democrático Livre) e pelos Verdes. A questão mais delicada é com os ecológicos, fortalecidos pelos resultados recentes das urnas regionais.

Além de melhorar sua comunicação com a população, especialmente nos próximos meses, quando os efeitos da guerra devem continuar a pressionar os preços da energia e de alimentos, Scholz, dizem os analistas, precisa exercer sua liderança de forma mais clara. "Às vezes, parece que quem lidera são os dois ministros verdes, e isso não é bom para o SPD", afirma Baasner.

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