Iraque vê manifestação invadir Parlamento pela 2ª vez em 4 dias; ato deixa 125 feridos

Partidários de clérigo xiita Moqtada al-Sadr protestam contra crise política que trava decisões no país

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Bagdá | Reuters

Milhares de manifestantes voltaram a invadir uma zona fortificada de Bagdá, onde estão embaixadas e prédios do governo, e entraram no Parlamento do Iraque neste sábado (30). O ato, de apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr, representa uma escalada na crise política do país, que já tinha dado sinais de agravamento na quarta (27), quando movimento semelhante aconteceu.

Nesta segunda invasão, ao menos 125 pessoas, entre manifestantes e policiais, ficaram feridas depois de confrontos. Os partidários de Al-Sadr, que voltaram a derrubar barreiras de concreto para poder avançar à chamada zona verde, jogaram pedras contra os agentes, que responderam com gás lacrimogêneo, canhões de água e bombas de efeito moral para tentar dispersar o ato.

De acordo com o relato de médicos e autoridades de segurança, alguns dos feridos tiveram lesões graves —não há informação oficial sobre o estado de saúde deles.

Apoiador de Moqtada al-Sadr exibe foto do clérigo durante invasão ao Parlamento do Iraque, em Bagdá - Ahmad Al-Rubaye - 30.jul.22/AFP

"Estamos pedindo por um governo livre de corrupção no Iraque, essa é a demanda do povo", disse à agência Reuters um manifestante, identificado como Abu Foad, em frente ao prédio do Parlamento já invadido. Comunicado do grupo disse que o protesto durará "até novo aviso"; o líder do Legislativo anunciou a suspensão das sessões por tempo indeterminado.

As pessoas carregavam fotos de Al-Sadr e bandeiras iraquianas e gritavam contra grupos rivais. Parte se dirigiu também à sede da Suprema Corte, que o clérigo acusa de interferência política de forma a impedir que seu partido forme um governo no país.

O Iraque vive, desde a eleição de outubro passado, um período recorde de imobilidade, com mais de 290 dias sem um presidente e um primeiro-ministro efetivo —Mustafa al-Kadhimi, que assumiu em 2020 após uma série de protestos levarem à renúncia de Adel Abdul Mahdi, continua no cargo como uma espécie de premiê tampão, enquanto as forças políticas não chegam a um acordo.

A missão das Nações Unidas no país e o premiê em exercício, Mustafa al-Kadhimi, pediram por uma desescalada nas tensões.

O pleito de meses atrás confirmou o partido ligado a Al-Sadr como maior força do país, mas o clérigo retirou de cena seus 74 parlamentares (de um total de 329 na Casa) no mês passado, depois de não conseguir formar um governo que excluísse os rivais xiitas, apoiados pelo Irã e acusados de ligação com grupos paramilitares.

Esses partidos herdaram os assentos, mas o religioso indicou que poderia mobilizar sua base de apoio —que inclui uma milícia própria— para protestos caso uma coalizão que ele desaprovasse fosse costurada. Seus partidários, então, manifestaram rejeição aos nomes de Nouri al-Maliki, acusado de ser corrupto, e de Mohammed al-Sudani, visto como preposto do ex-premiê.

Desde a queda do ditador sunita Saddam Hussein, o Iraque tem um sistema pelo qual se convencionou que os partidos xiitas, que representam a maioria demográfica do país, ocupam o cargo de primeiro-ministro; os curdos, a Presidência; e os sunitas, a chefia do Parlamento. A crise de agora envolve também as principais legendas curdas, que não se entendem sobre a indicação à Presidência.

A paralisia deixou o Iraque sem Orçamento para 2022, atrasando reformas econômicas e investimentos em infraestrutura tidos por analistas como cruciais para o país superar décadas de conflitos. A população afirma que a situação exacerba um quadro de desemprego, ainda que o cenário seja de receitas crescendo, em meio à alta nos preços do petróleo, e relativa paz desde a derrota do Estado Islâmico.

Antes desse impasse, o período mais longo sem um chefe de Estado ou gabinete se deu em 2010, quando Nouri al-Maliki obteve um segundo mandato depois de 289 dias de negociações.

Ammar al-Hakim, integrante da coalizão xiita que se opõe a Al-Sadr criticou o clérigo em entrevista à BBC. "Gostaríamos que eles esperassem até que um governo fosse formado para avaliar seus resultados, dar uma chance. Se não for Sudani e um segundo ou terceiro for indicado, eles se oporiam da mesma maneira", disse.

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