Descrição de chapéu twitter

Arábia Saudita condena estudante a 34 anos de prisão por usar o Twitter

Doutoranda em universidade do Reino Unido não era conhecida por ativismo nas redes sociais

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São Paulo

Uma estudante foi condenada a 34 anos de prisão na Arábia Saudita por manter uma conta do Twitter e seguir e compartilhar postagens de dissidentes e ativistas.

Segundo o jornal britânico The Guardian, Salma al-Shehab foi detida no país natal dias antes de voltar para a Europa após um período de férias; ela é estudante de doutorado na Universidade de Leeds, no Reino Unido.

A saudita, que tem 34 anos e é mãe de dois filhos pequenos, foi inicialmente condenada a seis anos de prisão. Mas um recurso interposto por um promotor na semana passada, citando outras acusações, levou a uma nova sentença —de 34 anos na cadeia, seguidos por uma proibição de viagens pelos 34 anos seguintes.

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A doutoranda saudita Salma Al-Shehab, de 34 anos - Democracy Now/Reprodução

De acordo com a Freedom Initiative, organização sem fins lucrativos localizada em Washington, esta é a sentença mais longa dada a uma ativista de direitos das mulheres em Riad.

Shehab não era conhecida como ativista, nem na Arábia Saudita nem na Europa. Sua conta no Twitter, aberta em 2010, mistura fotografias de seus filhos pequenos e posts de dissidentes sauditas exilados pedindo a liberdade de prisioneiros do país.

Segundo o Guardian, que teve acesso a transcrições do julgamento, as novas acusações incluíam a alegação de que Shehab estava auxiliando indivíduos que "buscavam criar tumulto e desestabilizar a segurança civil e nacional", ao seguir suas contas no Twitter e compartilhá-las.

O jornal britânico afirma que a estudante ainda tem chance de entrar com um novo recurso.

O Departamento de Estado dos Estados Unidos informou que está avaliando o caso de Shehab.
"Exercer a liberdade de expressão para defender os direitos das mulheres não deve ser criminalizado, isso nunca deve ser criminalizado", disse o porta-voz do Departamento, Ned Price, a jornalistas.

A sentença, emitida por uma corte especial de terrorismo, vem a público pouco depois de uma série de encontros entre o príncipe saudita Mohammed bin Salman e mandatários ocidentais. No mês passado, ele foi recebido em Paris pelo presidente francês, Emmanuel Macron, e foi visitado pelo presidente americano, Joe Biden, no Oriente Médio. Meses antes, Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido, também foi a Riad.

Conhecido pela sigla MbS, o príncipe herdeiro e líder na prática do país tenta romper o isolamento imposto a ele após acusações de desrespeito aos direitos humanos e de ser o mandante do assassinato do jornalista Jamal Khashoggi.

Ajuda nesse movimento o fato de potências ocidentais procurarem o sucessor do trono da Arábia Saudita, um dos maiores produtores de petróleo do mundo, em meio à Guerra da Ucrânia e ao aumento dos preços de energia.

Ativistas de direitos humanos vinham alertando que visitas do tipo poderiam encorajar a monarquia a escalar sua repressão a dissidentes e demais ativistas pró-democracia. Em editorial recente, o jornal The Washington Post reproduziu o alerta, escrevendo que as aproximações "oferecem mais um vislumbre do lado brutal da ditadura saudita sob o príncipe e dirigente de fato", que se apresentaria como um modernizador só na fachada.

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