Ucrânia divulga foto de envolvido em troca de prisioneiros para fustigar Rússia

Imagens podem acirrar guerra de versões em relação a tratamento dado a soldados capturados

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Carolina Amado
Público

Na maior troca de prisioneiros realizada entre Kiev e Moscou desde o início da guerra, a Rússia entregou na última quarta-feira (21) um total de 215 combatentes ucranianos, em troca da libertação, entre outros, do milionário Viktor Medvedtchuk, compadre do presidente Vladimir Putin. Entre eles, estava Mikhailo Dianov, um dos últimos soldados a defenderem Mariupol, no interior da fábrica de Azovstal.

Durante o cerco russo à cidade portuária, um retrato seu, tirado por Dmitro Kozatski, correu o mundo em jornais e nas redes sociais. Nas trincheiras improvisadas do complexo de Azovstal —onde se manteve durante vários meses até a rendição, em maio—, Dianov aparecia com um braço junto ao peito, enquanto com a outra mão fazia um V.

Ele repetiu o gesto quando foi libertado pelas tropas russas, na última semana. Quatro meses depois, uma nova fotografia de Dianov num hospital de Kiev mostra-o irreconhecível.

Combinação de fotos divulgada pela agência AFP mostra o soldado Mikhailo Dianov dentro do complexo de Azovstal durante batalhas em Mariupol e ao ser entregue como parte de troca de presos, em Tchernihiv - Divulgação Batalhão Azov - 11.mai.22 e Serviço de Segurança da Ucrânia - 22.set.22

De acordo com a irmã, Olena Lavrushko, Dianov ficou ferido durante a defesa de Mariupol e não recebeu quaisquer cuidados médicos enquanto esteve preso, o que teria agravado uma fratura no braço —mostrada na fotografia agora divulgada pelos ucranianos.

"Ele está numa condição física muito complicada, mas psicologicamente se mantém muito forte. Está muito feliz por estar de volta e diz: ‘Posso andar e respirar ar puro e livre’", disse Olena ao jornal ucraniano Ukrainska Pravda.

Antes que ele possa passar por uma cirurgia no braço, a prioridade é recuperar peso. Segundo a irmã, ele perdeu quase um terço da massa corporal nos últimos meses.

Oleksandra Matviichuk, dirigente do Centro de Liberdades Civis da Ucrânia, também compartilhou a foto nas redes, citando trecho da Convenção de Genebra que garante o fornecimento de assistência médica a prisioneiros de guerra.

"Vejam como os diminuíram. Essa foto é um murro no estômago", disse Caterina Prokopenko, mulher do comandante do Batalhão Azov, Denis Prokopenko, ao diário italiano Corriere della Sera, referindo-se à fotografia de Dianov.

O regimento, com associações conhecidas com o ideário neonazista, foi incorporado à Guarda Nacional da Ucrânia após o início da guerra civil no Donbass (leste do país) contra separatistas pró-Moscou, em 2014. Ele foi severamente afetado na campanha russa no sul ucraniano, e sua fama tem sido suplantada pelo Regimento Kraken —criado para reunir voluntários, ele opera sob ordens do Ministério da Defesa e está na linha de frente do avanço em Kharkiv, com diversos nacionalistas radicais e egressos do Azov.

"Estou muito feliz pelo fato de meu marido estar vivo, por ter sido extraditado para a Turquia [como parte do acordo entre Kiev e Moscou], mas preocupada com os outros prisioneiros, são milhares. A nossa luta ainda não acabou", disse Caterina aos jornalistas em Washington, onde esteve para pedir por ações do governo dos EUA em relação aos prisioneiros de guerra ucranianos.

"Ainda não me disseram quando nem onde posso visitá-lo. Ele me ligou da Turquia —foi um telefonema muito curto, menos de um minuto— e me disse que está num lugar seguro, fazendo exames médicos, e que me ama."

Ainda no começo da guerra, entre março e abril, órgãos como Anistia Internacional e Human Rights Watch criticaram a exposição de prisioneiros pelo governo de Volodimir Zelenski e cobraram a apuração de imagens que mostrariam soldados ucranianos atirando nas pernas de militares russos rendidos.

Cumprindo o acordo sobre a troca de prisioneiros entre a Ucrânia e a Rússia, os combatentes de Kiev deverão permanecer na Turquia até um cessar-fogo na guerra.

Ainda assim, antes de sair de Tchernihiv, onde a troca foi efetuada, Mikhailo Dianov pôde voltar a ver a filha, num reencontro filmado e partilhado no Twitter pelo conselheiro do Ministério da Administração Interna da Ucrânia, Anton Geraschenko.

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