Descrição de chapéu Financial Times China

Consultorias veem onda de ricos buscando sair da China com novo mandato de Xi

Advogados de Hong Kong e Singapura relatam que elite teme segurança e possível criação de imposto

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Edward White Mercedes Ruehl
Seul e Singapura | Financial Times

Chineses ricos estudam colocar em ação planos de saída de sua terra natal à medida que cresce o pessimismo sobre o futuro da segunda maior economia do mundo sob o poder de Xi Jinping e do Partido Comunista Chinês.

No fim de semana, Xi consolidou sua posição como o líder mais poderoso desde Mao Tse-tung, permanecendo como chefe do PC Chinês e de seu poderoso Comitê Permanente do Politburo —coração da hierarquia política da ditadura— por mais cinco anos.

Após o congresso do partido, o político de 69 anos tem um controle inflexível de poder e virtualmente o potencial de liderar o país indefinidamente.

Xi Jinping, 1º à esq., lidera membros do Comitê do Politburo em Congresso do Partido Comunista Chinês, em Pequim - Wang Zhao - 23.out.22/AFP

David Lesperance, advogado baseado na Europa que atendeu a famílias ricas em Hong Kong e na China, diz que Xi estender-se como dirigente para além de dois mandatos é um ponto de inflexão para a elite empresarial chinesa, que prosperou durante décadas enquanto a economia chinesa crescia.

"Agora que ele se confirmou firme no lugar, já recebi de ao menos três famílias de empresários chineses com alto patrimônio as instruções para 'prosseguir’ e executar seus planos de ‘fuga de incêndio’", afirma.

Nos meses que antecederam o Congresso do Partido Comunista, houve especulações de que Xi estava sofrendo pressão no partido, que tem quase 97 milhões de membros, para abandonar políticas controversas, incluindo a política de Covid zero, o apoio tácito a Vladimir Putin na Guerra da Ucrânia e a reafirmação do controle da legenda em todo o cenário empresarial.

Kia Meng Loh, sócio do Dentons Rodyk, escritório de advocacia global com sede em Singapura, que tem 6.000 funcionários na China, afirma que consultas e instruções para a criação de "family offices" —entidades privadas usadas para administrar a riqueza de uma família— também vêm aumentando na cidade-Estado há meses.

"Os clientes com quem trabalho viam o terceiro mandato [de Xi] como uma conclusão previsível muito antes desta semana", diz. Ele acrescenta que Hong Kong, há muito um destino favorito para a riqueza e famílias da elite chinesa, tornou-se menos atraente à medida que Pequim aumentou o controle sobre o território.

O número de "family offices" em Singapura quintuplicou entre 2017 e 2019 e depois quase dobrou, de 400 no final de 2020 para 700 um ano depois, de acordo com o Citi Private Bank.

Ryan Lin, diretor da Bayfront Law, também com sede em Singapura, conta ter sido abordado por cinco famílias durante o Congresso do PC Chinês na semana passada para criar firmas familiares no território. Três dos pedidos já estão em andamento.

Lin, que montou cerca de 30 desses escritórios em Singapura no ano passado, afirma que a maioria dos chineses que atende espera se mudar para lá.

Segundo Lesperance, muitos de seus clientes passaram anos preparando a saída da China, transferindo legalmente capital para jurisdições offshore seguras e arranjando residências alternativas fora do país e novas cidadanias para suas famílias.

Os chineses ricos, diz ele, não estão preocupados apenas com os rumores de um imposto oficial sobre a riqueza que substituiria as doações informais de "prosperidade comum". Eles também estão cada vez mais preocupados com a segurança pessoal, mesmo depois de saírem.

Esses temores se aprofundaram após uma série de desaparecimentos temporários ou prolongados de pessoas de alto perfil nos últimos anos, incluindo o fundador do site de compras Alibaba, Jack Ma, a estrela do tênis Peng Shuai, o financista de elite Xiao Jianhua e a magnata do setor imobiliário Whitney Duan.

"O lema sempre foi: 'Mantenha um barco rápido no porto com barras de ouro e um segundo conjunto de documentos’. O equivalente moderno seria um jato particular, alguns passaportes e contas bancárias estrangeiras", diz Lesperance.

Outros, no entanto, parecem menos preparados. O fundador de uma plataforma imobiliária dos EUA para chineses ricos disse que está lutando para encarar a enxurrada de consultas, já que a maioria dos clientes tinha pressa para deixar o país e não havia se planejado cuidadosamente.

Enquanto isso, empresas de imigração em Xangai e Pequim relataram um aumento nos pedidos de "green cards" dos EUA para pessoas com "habilidades extraordinárias", já que o tempo de espera é menor do que para as permissões de residência com base em investimentos, frequentemente usadas pelos ultrarricos.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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