Em seu provável terceiro mandato, Xi Jinping poderá ter de encarar desafios maiores do que os já enfrentados nos seus dez anos no comando da China. Três riscos importantes o acompanharão nos próximos anos.
A guerra é um risco de probabilidade menor, mas impacto brutal. Pequim claramente se prepara para um conflito em torno de Taiwan mesmo que não pretenda dar início a ele —inclusive porque, hoje, o desfecho de um potencial conflito é incerto. O certo, sim, é que jovens chineses estão cada vez mais convencidos de que ainda viverão uma guerra. E, mesmo que não ocorra um conflito a curto prazo, tensões geopolíticas seguramente crescerão nos próximos anos, representando por si só riscos importantes para Xi.
O segundo vem da área econômica e está associado às repercussões, para o líder, de uma trajetória de crescimento mais baixo. Nos últimos 40 anos, os chineses se acostumaram, geração após geração, a que seus filhos tivessem uma vida materialmente melhor. O patamar do crescimento menor é uma novidade que impacta a sociedade e a economia. Afeta ambições não apenas do país, mas dos indivíduos.
Como se ouvia à boca pequena entre estrangeiros em Pequim, o modelo político chinês ainda não foi testado num ambiente de crescimento econômico baixo.
O terceiro risco é de política interna e se relaciona à supervalorização da figura do líder, o que é acompanhado do aumento do nacionalismo e do enaltecimento da ideologia. Lembro que me impressionou a notícia, em 2019, de que um aplicativo sobre Xi Jinping teria sido, num dado momento, o app mais baixado de toda a China e contaria com mais de 100 milhões de usuários ativos. Não faltam observadores a lembrar os riscos do culto à personalidade, o que se revelou desastroso ao final da era Mao.
Esses três riscos —na geopolítica, na economia e na política interna— se retroalimentam. No discurso de quase duas horas de Xi na abertura do Congresso do PC em curso, expressões normalmente associadas à economia, como "desenvolvimento", "reforma", "mercado" —e mesmo "economia" em si—, foram muito menos recorrentes do que nas falas dos congressos anteriores, de cinco e dez anos atrás, aponta a plataforma China Neican.
Por outro lado, o léxico político-ideológico ganhou espaço, com palavras como "história", "marxismo", "autoconfiança" e "ideologia" sendo mais citadas do que no passado. "Ciência e tecnologia" foram mencionadas impressionantes 44 vezes no discurso deste ano —mas no pano de fundo estão, cada vez mais, preocupações com autossuficiência e segurança nacional. As referências a "segurança", aliás, triplicaram em 2022 em comparação com 2012.
No espectro das possibilidades, há evidentemente o cenário em que Xi mitiga riscos e maximiza oportunidades. Nesse cenário de limonada a partir de limões, nacionalismo, tensões geopolíticas e ameaças externas contribuem para consolidar o apoio popular a uma autoridade forte, que seria competente o bastante para retribuir na forma de entregas para a sociedade.
Esses resultados, no entanto, teriam menos foco no crescimento econômico, inclusive porque os números exuberantes do passado não são mais possíveis, e passariam a estar mais voltados à garantia da estabilidade e da segurança, também porque o ambiente externo favorece esse ajuste de prioridades.
Os próximos anos colocarão à prova a capacidade de Xi lidar com riscos crescentes. A resposta do atual dirigente ao desafio está no aumento da própria autoridade. Há uns anos, ao refletir sobre as razões da queda do império soviético, ele concluiu que, com frequência, a derrocada de grandes potências ocorre por causa de líderes fracos. Xi não pretende entrar para a história como um deles.
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