Descrição de chapéu Guerra da Ucrânia Rússia

Finlândia remove última estátua pública de líder soviético em meio a tensões com Rússia

Monumento será levado a armazém em Kotka; país rompeu neutralidade após Guerra da Ucrânia

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Kotka (Finlândia) | AFP

A última estátua pública de Vladimir Lênin remanescente na Finlândia foi desmontada na terça-feira (4) em uma cidade no sudeste do país, que vem removendo monumentos relacionados à União Soviética desde que a Rússia iniciou sua invasão da Ucrânia, em fevereiro.

Dezenas de pessoas assistiram à remoção do monumento, na cidade de Kotka —algumas delas com garrafas de espumante, para serem estouradas na conclusão do processo. A reportagem da agência de notícias AFP, de toda forma, viu ao menos um homem se manifestar contra a medida carregando uma bandeira soviética.

O monumento, de autoria do escultor estoniano Matti Varik (1939-2011), representava Lênin em atitude pensativa, com a mão apoiando o queixo. Ele foi doado a Kotka em 1979 pela pelo governo de Tallinn, cidade-irmã, então parte da União Soviética também.

Funcionários da prefeitura de Kotka removem estátua de Vladimir Lênin de praça da cidade finlandesa - Sasu Makinen - 4.out.22/Lehtikuva/AFP

"Remover das ruas a estátua do fundador de um dos regimes mais brutais do mundo, o comunismo soviético, é uma grande conquista", disse à AFP Matti Leikkonen, 77. O monumento será inicialmente colocado em um armazém.

De acordo com Markku Hannonen, funcionário municipal de Kotka que participou da remoção da estátua, muitos moradores da cidade apreciavam a peça —ou ao menos a viam como algo familiar. Multiplicavam-se também, por outro lado, os pedidos para que ela fosse removida, "porque refletia um período de repressão na história finlandesa".

Em abril, a cidade de Turku, no sudoeste, também retirou um busto de Lênin no centro da cidade. Em agosto, a capital, Helsinque, desmontou uma estátua de bronze chamada "Paz Mundial" que havia sido dada de presente por Moscou em 1990.

As medidas fazem lembrar a retirada de monumentos, nos Estados Unidos e em países europeus, que homenageavam figuras associadas ao passado escravagista, na esteira de debates mundiais sobre o racismo incensados pelo movimento Black Lives Matter.

No caso finlandês, estão associadas a uma série de rupturas desencadeadas pela Guerra da Ucrânia. A onda começou em maio, quando o país, que tem uma das maiores fronteiras terrestres com a Rússia, de 1.300 km, fez um pedido formal para entrar na Otan, a aliança militar ocidental capitaneada pelos EUA —o movimento seria seguido pela Suécia.

A medida rompeu um status de neutralidade histórico, estabelecido depois de dois conflitos contra a União Soviética durante a Segunda Guerra Mundial. A Finlândia então estabeleceu tacitamente essa posição na Guerra Fria, em troca de garantias de que nunca mais seria alvo de tentativas de invasão por Moscou.

A neutralidade nórdica sempre teve tudo a ver com a Rússia. A Suécia era um reino expansionista e invadiu o grande vizinho no século 18, mas em 1809 decidiu se isolar após perder a Finlândia para o Império Russo. Nas duas guerras que lutou contra os russos entre 1939 e 1944, Helsinque conseguiu evitar a anexação pelos soviéticos, mas perdeu 10% de seu território. Foi justamente esse trauma que levou o país a adotar a política estrita de não alinhamento.

Na prática, contudo, a neutralidade era parcial, em especial no caso sueco. Ambos os países são membros da União Europeia desde 1994, o que lhes dá acesso a uma cláusula de defesa mútua nos padrões da Otan, embora seja pouco conhecida e ninguém saiba como seria acionada.

Caso as adesões se confirmem —e é improvável que não o sejam—, o movimento deixará a Suíça como fortaleza de neutralidade na Europa. Antes, Genebra e Helsinque dividiam o holofote para encontros de cúpula da Rússia com países ocidentais, como na reunião entre Vladimir Putin e Donald Trump em 2018, realizada na capital finlandesa, ou na do russo com Joe Biden, sediada na cidade suíça no ano passado.

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