Igreja nos EUA faz acordo com Judiciário para apurar crimes sexuais

Decisão submete sacerdotes suspeitos de abuso e pedofilia a supervisão da Justiça americana

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Nova York | AFP

A Promotoria de Nova York divulgou nesta terça-feira (25) um acordo inédito com a diocese da cidade de Buffalo, a segunda maior do estado. A decisão vai submeter sacerdotes suspeitos de abusos sexuais à tutela do Judiciário, rompendo décadas de silêncio da igreja americana a respeito de escândalos.

Nos Estados Unidos, a Igreja Católica vem desde 2019 amargando a revelação de crimes sexuais cometidos por autoridades religiosas, especialmente contra menores de idade. No final daquele ano, em dezembro, o papa Francisco anunciou a renúncia do bispo Richard Malone, de Buffalo, devido a seu envolvimento na gestão de um escândalo de pedofilia.

O papa Francisco e sua sombra durante audiência no Vaticano - Remo Casilli - 5.out.22/Reuters

Investigações ocorreram nas oito dioceses católicas do estado, e a procuradora-geral de Nova York, Letitia James —conhecida por encabeçar processo contra a família de Donald Trump— demandou em 2020 a submissão de sacerdotes suspeitos de abuso sexual ao controle judicial. O pedido vingou, e o acordo foi celebrado.

Segundo um comunicado da procuradora, o próximo passo é a realização de auditorias, que serão supervisionadas por Kathleen McChesney, ex-subdiretora-executiva do FBI e especialista em escândalos sexuais na Igreja Católica americana.

"A diocese e seus dirigentes fracassaram durante tempo demais em sua missão principal de guiar e proteger nossos filhos", afirmou James. A procuradora lamentou, ainda, que autoridades eclesiásticas tenham optado por "defender os perpetradores de abusos sexuais em vez dos mais vulneráveis" e "provocaram em muitos uma crise de fé".

Com cerca de 600 mil fiéis, a Igreja Católica de Buffalo agorá terá de se submeter ao "controle e à responsabilidade" da Justiça estadual de Nova York, enfatizou James. "Ninguém está acima da lei, e quem a viola no estado de Nova York sempre deverá prestar contas."

O acordo estabelece ainda que dois ex-bispos de Buffalo, Richard Malone e Edward Grosz, ficam proibidos de ocupar cargos em organizações beneficentes religiosas ou laicas no estado.

A cidade, que viu a crise bater às portas das catedrais em 2018, não é a única nos EUA em que crimes sexuais ligados ao clero foram registrados. Na diocese de Albany, capital do estado de Nova York, o ex-bispo Howard Hubbard admitiu ao Judiciário em 2021 que soube, durante 25 anos —entre 1977 e 2002— de abusos cometidos contra crianças, sem que jamais tivesse tomado uma providência a respeito.

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