Imprensa internacional amplia cobertura sobre Brasil e fala em teste para democracia

Jornais estrangeiros criticam tensão política no país e falam em teste para a democracia

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Fabiana Mariutti Daniel Buarque
São Paulo | Interesse Nacional

A cobertura sobre a apuração dos votos e o resultado do primeiro turno das eleições brasileiras manteve o viés de alta do interesse da mídia internacional pelo país e bateu um novo recorde semanal de número de reportagens sobre o Brasil desde o início deste levantamento.

Na semana de 3 a 9 de outubro foram registradas 111 reportagens com menções de destaque ao Brasil nos sete veículos da imprensa estrangeira analisados pelo Índice de Interesse Internacional (iii-Brasil). O volume recorde de textos coletados é o mais alto registrado desde o início da análise, em abril de 2022.

Jair Bolsonaro, presidente do Brasil, fala à imprensa durante entrevista coletiva no Palácio do Planalto - Evaristo Sá - 4.out.22/AFP

O tom da cobertura foi majoritariamente neutro, com relatos factuais sobre a apuração dos votos, os resultados e os primeiros movimentos políticos em preparação para o segundo turno. No total, 60% das reportagens de tom neutro representam assuntos com natureza factual sobre o país, sem indicação de prejuízo a sua reputação no exterior.

O período registrou ainda 34% de textos com tom negativo, com potencial de piorar a imagem internacional do país. Já o total de notícias positivas, com potencial de melhorar a imagem do país foi de 6%.

A grande proporção de textos de tom neutro indica que o centro da atenção da imprensa internacional foi a cobertura factual dos resultados das eleições. Algumas das publicações estrangeiras, como o britânico The Guardian e o francês Le Monde, chegaram a publicar textos sobre a apuração dos votos no Brasil em tempo real, com números e gráficos mostrando os resultados da eleição na madrugada de segunda-feira.

Ainda assim, alguns veículos mais críticos ao governo de Bolsonaro apresentaram o resultado do primeiro turno com uma cobertura de tom negativo. O jornal britânico, por exemplo, já havia se posicionado a favor da eleição do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno e tratou o crescimento de Bolsonaro na reta final como uma notícia ruim, algo negativo para o país.

Indo além dos dados, um dos principais focos da cobertura foi a ideia de que a votação do dia 2 de outubro e a preparação para o segundo turno são um teste para a democracia brasileira. Alguns dos veículos de imprensa mais importantes do mundo publicaram artigos de opinião e editoriais analisando os resultados e comentando especialmente a votação mais alta do que o esperado do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Após o primeiro turno, o jornal francês Le Monde, por exemplo, publicou um editorial alertando para o que chama de riscos do bolsonarismo marcado pela moral religiosa e por valores retrógrados que se enraízam pelo país. O americano The New York Times publicou um artigo escrito pelo historiador André Pagliarini alegando que, com a ida ao segundo turno, Bolsonaro ficou mais próximo de conquistar um segundo mandato e tentar se manter no poder de forma indeterminada.

The Guardian publicou um artigo de opinião do pesquisador Christopher Sabatini falando sobre a força do bolsonarismo e alegando que, mesmo que Lula vença o segundo turno, terá que enfrentar oposição forte e turbulências em seu governo. No português Público, o historiador Manuel Loff argumentou que o Brasil pareceu ter entrado num processo de transição autoritária.

Em outro texto de opinião do Público, Bárbara Reis sintetiza que com o governo atual, "o número de armas no Brasil triplicou, a desflorestação da Amazônia subiu 60% e o orçamento para a Ciência e Inovação caiu 30%". E no espanhol El País, a jornalista brasileira disse que a eleição consagrou a "vilanocracia", fenômeno descrito como o ato de votar nos piores políticos.

Algumas reportagens de teor desfavorável ao Brasil estão pautadas em assuntos relacionados à extrativismo ilegal na Amazônia e aos indígenas. Por exemplo, o Clarín aborda o aumento de 25% da exploração ilegal de ouro em 2020-2021 devido a falta de controle do governo; entre os compradores principais do garimpo estão no Canadá (31%), Suíça (25%) e Reino Unido (15%). El País retrata a luta das mulheres dos povos indígenas, principalmente as mais velhas, sobre as experiências machistas que viveram em silêncio ao longo de suas vidas.

Retrospectiva

Desde o início de abril, o iii-Brasil, ao estudar a imagem internacional do Brasil, coletou e analisou em média 60 reportagens por semana com menções de destaque ao país nos sete veículos de imprensa analisados.

Ao longo do levantamento das últimas 26 semanas, o iii-Brasil registrou em média 50% de reportagens de tom neutro, 39% de menções com tom negativo e 11% de textos positivos sobre o país.

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