Nove foguetes atingiram a Zona Verde da capital do Iraque nesta quinta-feira (13), pouco antes da realização de uma sessão do Parlamento para eleger um novo presidente e, assim, buscar um fim à maior crise política do país em anos.
Um dos projéteis caiu perto do prédio do Legislativo, e ao menos dez pessoas ficaram feridas. Seis delas eram homens das forças de segurança que protegiam a área —sede dos prédios do governo e de missões estrangeiras no país. As outras quatro eram civis, vítimas de uma explosão no bairro vizinho.
Ninguém reivindicou responsabilidade pelo ato. Mísseis têm atingido a área com frequência nos últimos anos, mas eles em geral são lançados por milícias apoiadas pelo Irã e têm ocidentais como alvos.
O Parlamento se reuniu logo depois do ataque, em uma reunião iniciada com duas horas de atraso. Depois da abertura de três sessões que não chegaram a um nome para a Presidência por falta de quórum, a Casa elegeu Abdul Latif Rashid para o cargo, derrotando o ex-líder Barham Salih.
Rashid, 78, formou-se engenheiro no Reino Unido e, no Iraque, foi ministro de Recursos Hídricos de 2003 a 2010. Ele apontou para o posto de premiê Muhammad Shia al-Sudani, que também tem um histórico de ministro, nas pastas de Trabalho e Direitos Humanos.
Sudani já havia sido cotado para posto em outras ocasiões, e essa perspectiva serviu de gatilho para a invasão do Parlamento orquestrada por apoiadores do clérigo xiita Moqtada al-Sadr, de quem é adversário político. A nova gestão tem agora 30 dias para a formação de um gabinete, que deve passar por aprovação do Parlamento.
Com os desdobramentos desta quinta, o Iraque parece encerrar um período de um ano sem um governo, desde as eleições de outubro de 2021 —na prática, Mustafa al-Khadimi vinha cumprindo um mandato tampão como premiê. Na ocasião, o partido de Sadr venceu o pleito, sem maioria absoluta no Parlamento.
Desde então, os partidários do clérigo não conseguiram formar um gabinete e inviabilizaram outras forças de tentar o mesmo. No período mais longo sem uma liderança estabelecida no país, também ocorreram algumas das piores cenas de violência da história recente, protagonizadas por apoiadores do religioso.
Além do aiatolá Ali al-Sistani, grande autoridade religiosa xiita, Sadr é uma das únicas pessoas no Iraque capaz de mobilizar grandes massas. Tem um império financeiro, uma milícia e milhões de seguidores.
Nos últimos meses, centenas deles invadiram, em diferentes ocasiões, o Parlamento e o Palácio Republicano, e entraram em embates com xiitas apoiados pelo Irã que resultaram em pelo menos 30 mortes e mais de 500 feridos.
O clérigo e seus apoiadores exigiam a formação de um governo provisório até que novas eleições fossem marcadas. Eles enfrentavam uma aliança, também xiita, de facções pró-Irã que pedia a formação de um Executivo antes de um novo pleito —a comunidade muçulmana é majoritária no Iraque e domina a vida política desde 2003, época da invasão pelos Estados Unidos.
Sadr esbarra ainda nas divisões internas de outro grupo étnico na disputa do poder, os curdos.
A Presidência do Iraque é um posto sobretudo simbólico, mas seu voto é um importante passo no processo político.
O sistema de divisão de poderes no país é planejado de modo a evitar conflitos sectários. Assim, o presidente é sempre curdo; o primeiro-ministro, xiita; e o líder do Parlamento, sunita. Desacordos entre os maiores partidos curdos que administram a região semiautônoma do Curdistão no norte do Iraque dificultaram a indicação de um presidente. A paralisia política é um grande obstáculo para reformas e grandes projetos de infraestrutura, em um momento de crise econômica profunda.
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