Rishi Sunak conquista maioria conservadora e será novo premiê do Reino Unido

Depois de ter sido derrotado por Truss em disputa prévia, ex-secretário de Finanças assume país em crises

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São Paulo

Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças do Reino Unido, foi apontado na manhã desta segunda-feira (24) como novo líder do Partido Conservador e, por consequência, será o novo primeiro-ministro britânico.

O político de 42 anos, a primeira pessoa não branca a ser chefe do governo no país, venceu a corrida iniciada após Liz Truss renunciar ao cargo na quinta (20), como resultado do fracasso de seu plano econômico. A confirmação veio depois de a parlamentar Penny Mordaunt, sua principal concorrente, desistir da disputa. Ele tomará posse oficialmente como premiê na manhã desta terça (25).

Rishi Sunak, ex-secretário de Finanças do Reino Unido, caminha perto de seu comitê de campanha em Londres - Hannah McKay - 24.out.22/Reuters

Filho de pais que emigraram de nações da África Oriental, Sunak tem ascendência indiana e ganhou notoriedade no país após liderar a economia, com relativa estabilidade e forte apoio em auxílios governamentais, em meio à crise gerada pela pandemia de coronavírus. Também foi um dos primeiros a pular fora do governo de Boris Johnson quando a gestão mergulhou em uma espiral de escândalos —o movimento ajudou a precipitar a renúncia do então premiê.

Boris chegou a ser cotado para tentar voltar ao cargo e tinha começado a angariar apoios entre os correligionários, mas anunciou no domingo (23) que não entraria na disputa, abrindo vantagem para Sunak.

O ex-secretário havia conquistado o apoio público de ao menos 51% dos parlamentares conservadores —são 357 no total. Para que candidatos avançassem na disputa, era necessário coletar ao menos cem endossos.

Penny Mordaunt, que se notabilizou em 2019 como ministra da Defesa na gestão de Theresa May, tinha cerca de 27 endossos públicos na manhã desta segunda, antes de desistir da corrida. Sua campanha dizia, porém, que ela já se aproximava de 90 —número ainda assim insuficiente para seguir na disputa.

Mordaunt não falou sobre a cifra no comunicado em tom amistoso no qual manifestou a desistência. Em vez disso, disse que Sunak terá seu total apoio e que, com as eleições internas, seus correligionários demonstram aquilo que buscam para o país: estabilidade.

"Trata-se de uma decisão histórica, que mostra, mais uma vez, a diversidade e o talento do nosso partido; estou orgulhosa da nossa campanha e grata a todos que apoiaram minha candidatura." Ela vinha atuando como líder do governo Truss no Parlamento.

Pouco depois da declaração dela, compartilhada nas redes sociais, Graham Brady, chefe do Comitê 1922 —grupo parlamentar responsável por organizar a eleição entre os conservadores—, confirmou que Sunak havia sido eleito líder da legenda.

Sunak será o primeiro premiê empossado pelo rei Charles 3º. O monarca estava em sua residência em Sandringham, mas voltou para Londres. Na terça, deve receber Truss e Sunak —ela, para oficializar a renúncia; ele, para ser nomeado como primeiro-ministro.

A rainha Elizabeth 2ª, morta em 8 de setembro, nomeou ao longo de 70 anos de reinado 15 primeiros-ministros, sendo a última Liz Truss, recebida pela rainha apenas dois dias antes da morte da soberana.

O futuro premiê chegou a disputar a corrida anterior pela liderança britânica, contra Truss. Mas angariou cerca de 42% dos votos dos cerca de 160 mil membros do Partido Conservador, ante 57,4% da rival.

Truss, em breve comunicado, parabenizou Sunak pela vitória e disse que ele terá seu total apoio para governar. A ex-primeira-ministra Theresa May também enviou uma mensagem: "Sunak vai trazer a calma, a competência e o pragmatismo necessárias ao nosso país".

Sunak é um dos políticos mais ricos do Reino Unido. Seu pai é médico de família do sistema público de saúde; sua mãe, uma farmacêutica. Ele estudou em Oxford e em Stanford, onde conheceu e se casou com Akshata Murty, filha de um bilionário indiano do ramo da tecnologia. O casal tem duas filhas.

Ele terá o desafio de capitanear um país em crise econômica —a inflação acumulada é a maior em 40 anos, em grande parte fruto dos efeitos da Guerra da Ucrânia— e política, em meio à desidratação e ao descrédito de que o Partido Conservador é alvo após sucessivas trocas de liderança.

Em junho, a inflação ultrapassou a média anual de 10% pela primeira vez desde 1982, quando o país era governado por Margaret Thatcher (1979-1990). O índice caiu para 9,9% em agosto e voltou a 10,1% em setembro —mais que o triplo do registrado no mesmo mês em 2021.

Ainda na campanha contra Truss, Sunak foi assertivo. "A primeira regra de qualquer crise é assumir que se enfrenta uma. Vou liderar um esforço nacional para aumentar nosso suprimento de energia doméstica e cortar desperdícios. Vou trabalhar para que o Reino Unido esteja totalmente independente de energia por volta de 2045."

Não há ainda, porém, um detalhamento dos planos do novo líder conservador para a economia. Mesmo em seu site de campanha, lançado para a disputa contra a ora demissionária primeira-ministra, suas propostas para dez desafios do país são breves.

Em breve discurso na sede do partido nesta segunda —no qual fez uma deferência à antecessora, definida como alguém que atuou "com dignidade e graça"—, Sunak disse que o país enfrenta um profundo desafio econômico e que unir seu partido e a sociedade será sua prioridade. Segundo ele, estabilidade e unidade são a única forma de superar a situação.

"Servirei a todos vocês com humildade e trabalharei dia após dia para isso", afirmou. "É o maior privilégio da minha vida poder servir ao partido que amo e ter a chance de devolver ao país a quem devo tanto."

Sunak já está sendo pressionado por membros do Partido Trabalhista, assim como pelos Verdes e pelo conservador Reform, a convocar eleições gerais. As siglas argumentam que os conservadores não dispõem mais de legitimidade democrática para governar.

"O país não pode aguentar mais divisões internas de um pequeno grupo de conservadores elitistas cujas políticas para lutar contra a crise no custo de vida fracassaram", disse Adrian Ramsay, colíder dos Verdes.

Sunak não se posicionou publicamente sobre o tema, mas parlamentares que participaram de uma reunião com o futuro premiê disseram que a possibilidade não está sendo aventada.

Favorito dos conservadores para assumir o desafio de guiar o país e o partido, ele também despontou como o político da sigla menos impopular em uma pesquisa conduzida pelo instituto YouGov com mil britânicos entre os dias 14 e 16 —antes, portanto, de Truss renunciar.

No levantamento, o futuro premiê britânico aparece com um índice de favorabilidade (que mostra o saldo de opiniões positivas e negativas) de -28. Negativa, a cifra pode parecer um balde de água fria, mas apenas se olhada fora de contexto: Mordaunt tinha -33 e Boris, -40.

Sunak também era o menos impopular entre aqueles que dizem pretender votar no Partido Trabalhista se houvesse uma eleição geral. Nesse caso, seu índice de favorabilidade é de -35, contra -48 de Mordaunt e -74 de Boris.

Se o Partido Trabalhista entra na corrida, porém, o cenário muda. Outra pesquisa do YouGov com 12 mil britânicos na última semana mostra que 38% dizem considerar que Keir Starmer, líder trabalhista, seria a melhor opção para premiê. Outros 29% dizem preferir Sunak e 32% não têm certeza.

Entre as mensagens o parabenizando, Sunak recebeu uma de Narendra Modi, premiê da Índia, ex-colônia britânica. O nacionalista disse que espera trabalhar com Londres em questões importantes e que o diwali —feriado hindu que cai nesta segunda— celebra uma "ponte viva" com os indianos no Reino Unido, em referência à ascendência de Sunak. "Que transformemos laços históricos em uma parceria moderna."

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