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Partido Republicano partido democrata

Apesar de reveses, bancada negacionista das eleições nos EUA mostra força

Mais de 140 candidatos republicanos que contestam vitória de Biden em 2020 se elegeram no pleito de meio de mandato

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São Paulo

Alguns dos principais negacionistas eleitorais americanos podem sair de mãos abanando das eleições de meio de mandato. Até as 17h45 (de Brasília) desta quarta (9), com a contagem de votos ainda em curso, figuras emblemáticas do movimento "Stop the Steal" estavam atrás de seus adversários.

A candidata republicana ao governo do Arizona, Kari Lake, que acusava os democratas de terem roubado a eleição de 2020 e prometia acabar com a contagem automática de votos no estado, instituindo apuração manual, perdia para sua rival democrata. O candidato a secretário de estado do Arizona, Mark Finchem, outro fervoroso adepto da teoria da conspiração, também estava perdendo.

Doug Mastriano, um republicano que transformou a contestação ao sistema eleitoral em mote principal de sua campanha ao governo da Pensilvânia, perdeu para o democrata Joshua Shapiro.

O ex-presidente Donald Trump acompanha pela TV a apuração das eleições de meio de mandato junto com apoiadores, em Mar-a-Lago
O ex-presidente Donald Trump acompanha pela TV a apuração das eleições de meio de mandato junto com apoiadores, em Mar-a-Lago - Joe Raedle/Getty Images/AFP

Mas mesmo com esses reveses uma coisa é certa: a bancada dos negacionistas eleitorais veio para ficar. Entre os 569 candidatos republicanos a vagas na Câmara, no Senado, em governos estaduais e para os cargos locais de secretário de Estado e procurador-geral, 291 contestaram ou se recusaram a aceitar o resultado da eleição do presidente Joe Biden em 2020, segundo cálculo do Washington Post.

Desses, ao menos 168 já tinham conseguido se eleger, provando que o negacionismo eleitoral é popular –ou, ao menos, não custa votos. Entre eles, radicais como a deputada Marjorie Taylor Greene, negacionista e disseminadora das conspirações do QAnon, e o senador Rand Paul, do Kentucky, que afirmou: "A fraude aconteceu, a eleição foi roubada de muitas maneiras".

Ao todo, 51% dos candidatos republicanos abraçaram as alegações falsas do ex-presidente Donald Trump de que a eleição presidencial de 2020 foi fraudada –embora a campanha do republicano tenha perdido mais de 60 ações judiciais contestando o resultado do pleito.

Na esteira da invasão do Capitólio por extremistas insuflados por Trump, em 6 de janeiro de 2021, alguns legisladores republicanos discordaram do antecessor de Biden e de suas alegações falsas, que resultaram em violência. Mas eles se tornaram alvo da ira do ex-presidente. Nas primárias, Trump apoiou adversários desses legisladores, e grande parte daqueles que ousaram criticar o líder republicano acabou derrotada.

Isso porque o negacionismo eleitoral está em alta —segundo pesquisa da Universidade Monmouth de setembro, 61% dos eleitores republicanos ainda acreditam que Biden venceu porque houve fraude.

Trump trata de deixar a chama conspiracionista acesa. "Está acontecendo a mesma fraude eleitoral de 2020???", escreveu o ex-presidente na tarde de terça em sua rede social, a Truth Social.

A vitória dos negacionistas é uma ameaça à democracia dos Estados Unidos. Governadores e secretários de estado poderão influenciar as regras das eleições presidenciais de 2024, dificultar o acesso de eleitores às urnas, atrasar resultados e contestar a contagem.

Outro problema é que, para muitos, a democracia continua a ser um tema abstrato –inflação e segurança falam mais alto na hora de escolher candidatos. Democratas tentaram transformar em bandeira a defesa da democracia e da integridade do sistema eleitoral, mas o tema parece não ter ganho muita tração.

Com a contagem de votos se estendendo, esperava-se a versão midterms da Grande Mentira, com republicanos contestando a apuração. Para os negacionistas, só um resultado é aceitável —a vitória.

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