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Peru convoca embaixador e critica 'interferência' do México sobre Castillo

AMLO vem defendendo ex-presidente, que pediu asilo no país; Dina volta a dizer que estuda antecipar eleição

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Lima | Reuters e AFP

O Ministério das Relações Exteriores do Peru convocou, nesta sexta-feira (9), o embaixador do México no país após uma série de declarações do presidente Andrés Manuel Lopéz Obrador em defesa do agora ex-chefe do Executivo peruano Pedro Castillo, preso por tentar um golpe de Estado na quarta (7).

Na prática diplomática, convocar um embaixador estrangeiro é um ato de reprimenda. Segundo a chancelaria de Lima, as falas de AMLO e de outras autoridades mexicanas configuram uma "interferência nos assuntos internos do Peru".

Na quinta, primeiro dia do mandato da nova presidente, Dina Boluarte, Obrador disse que Castillo vinha sendo vítima de assédio desde que venceu as eleições e que seus adversários políticos "não aceitavam que ele governasse".

Manifestantes em ato contra a destituição de Pedro Castillo pedem antecipação de eleições em frente ao Congresso, em Lima, pelo 3º dia seguido - Sebastián Castañeda - 9.dez.22/Reuters

O mexicano também afirmou que seu país esperaria alguns dias para reconhecer Dina como presidente —antes vice, ela foi empossada pelo Parlamento logo após a destituição de Castillo, aprovada com uma moção de vacância que ignorou a ordem do populista para que o Congresso fosse dissolvido.

O México de alguma maneira se viu envolvido nessa crise política mais aguda porque Castillo teria tentado fugir para a embaixada —o trajeto, porém, foi interrompido depois que a Polícia Nacional Peruana acionou a equipe de segurança do próprio político e ordenou que o motorista se desviasse da rota prevista, levando o então presidente para a Prefeitura de Lima, onde ficou sob custódia de policiais.

Na quinta, o embaixador do México no Peru se reuniu com Castillo no centro em que o político está detido. O agora ex-presidente, segundo o governo do país da América do Norte, fez um pedido formal de asilo, dizendo-se perseguido —e a chancelaria disse ter iniciado consultas com autoridades de Lima sobre o caso.

Apoiadores do populista voltaram a se reunir em diferentes cidades, com registro pontual de confrontos com as forças de segurança, para criticar sua deposição e pedir por eleições antecipadas.

Em outra frente da crise, Dina voltou a afirmar nesta sexta que está disposta a discutir este último tema com a sociedade, mas descartou por ora disparar mudanças na Constituição —uma demanda de partidos de esquerda e bandeira de Castillo.

A nova presidente, que já tinha falado sobre o assunto na quinta, voltou a ele enquanto centenas de fazendeiros bloqueavam um trecho da principal rodovia da costa do Peru, exigindo o pleito antecipado.

"Se a sociedade e a situação justificarem, então, em conversa com as forças democráticas e políticas do Congresso, sentaremos para conversar", disse. "Não fui eu que causei essa situação, estou apenas cumprindo um papel constitucional."

A presidente do Peru, Dina Boluarte, com militares em cerimônia pelo Dia do Exército - Divulgação Presidência - 9.dez.22/Reuters

Ela contou que planeja visitar o antecessor na prisão, acrescentando que os movimentos dele surpreenderam a todos, incluindo ministros. Mais tarde, Dina afirmou ter conversado com seu homólogo argentino, Alberto Fernández. "Ele expressou seu apoio e colaboração no âmbito do fortalecimento de nossa democracia", escreveu no Twitter.

Castillo segue preso na sede da Direção de Operações Especiais (Diroes), mesmo centro em que está detido Alberto Fujimori, ditador de 1990 a 2000. Na quinta, a Justiça ordenou a prisão preventiva por sete dias, depois de o Ministério Público argumentar que uma eventual soltura possa atrapalhar investigações.

O político é acusado dos crimes de rebelião e conspiração, que têm penas previstas de 10 a 20 anos de prisão.

Nesta sexta, um ex-chefe de gabinete de Castillo que o visitou vendeu à imprensa a ideia de que ele pode ter sido induzido a tentar dissolver o Congresso. "Eu perguntei: 'Por que você fez a leitura [do decreto]?'. Ele me respondeu que não se lembrava", disse Guido Bellido, que questionou as condições mentais do populista e pediu que as autoridades providenciem um exame toxicológico.

A versão de que Castillo agiu sob efeito de alguma substância também foi ventilada por Guillermo Olivera, um de seus advogados. "Todo mundo viu que ele estava lendo de maneira trêmula, suponho que ele estava um pouco sedado."

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