Descrição de chapéu China

Taiwan estende serviço militar obrigatório ante tensão crescente com a China

Medida, que amplia período de 4 meses para 1 ano, começa a valer a partir de 2024

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Taipé | Reuters e AFP

Taiwan estenderá o período que seus cidadãos precisam prestar o serviço militar obrigatório a partir de 2024, de quatro meses para um ano. A presidente Tsai Ing-wen fez o anúncio na manhã desta terça-feira (27), citando entre as justificativas a crescente tensão envolvendo a China, que vê a ilha como uma província rebelde.

A pressão de Pequim, elevada nos campos militar, diplomático e econômico, culminou, entre domingo (25) e segunda (26), na maior incursão aérea da história em 24 horas contra as defesas de Taipé. Foram 71 aviões de combate no ar, com 47 deles invadindo a chamada linha mediana, que divide a fronteira virtual da ilha e da China continental sobre o estreito de Taiwan.

Segundo a ditadura, a ação serviu como um alerta a Taipé, depois de os Estados Unidos aprovarem um pacote com mais ajuda militar ao território —US$ 10 bilhões nos próximos cinco anos.

Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, anuncia, em Taipé, novas medidas para reforçar a defesa civil da ilha
Presidente de Taiwan, Tsai Ing-wen, anuncia, em Taipé, novas medidas para reforçar a defesa civil da ilha - Ann Wang - 27.dez.22/Reuters

Autoridades ouvidas pela agência de notícias Reuters disseram que a reforma no serviço militar taiwanês era discutida ao menos desde 2020. Ela vai atingir todos os homens nascidos a partir de 1º de janeiro de 2005.

Tsai reafirmou nesta terça que a ilha deseja a paz, mas precisa ser capaz de se defender. "Enquanto Taiwan for forte o suficiente, será o lar da democracia e da liberdade e não se tornará um campo de batalha", disse a presidente, em entrevista coletiva após uma reunião do governo sobre a segurança nacional.

"Só conseguiremos evitar a guerra se nos prepararmos para uma guerra. E só podemos impedir uma guerra se tivermos capacidade de combater uma guerra."

Segundo ela, decretar a extensão do período de recrutamento foi "incrivelmente difícil", mas o sistema militar atual, incluindo o treinamento de reservistas, é ineficiente para lidar com as crescentes ameaças de Pequim —especialmente na hipótese de o regime de Xi Jinping lançar um ataque rápido à ilha.

"O atual serviço de quatro meses não é suficiente para enfrentar uma situação que muda de maneira rápida e constante", disse.

"Taiwan quer dizer ao mundo que, entre a democracia e a ditadura, acreditamos firmemente na democracia. Entre a guerra e a paz, insistimos na paz. Mostremos coragem e determinação para proteger nossa pátria e defender a democracia."

Os recrutas passarão por um treinamento mais intenso, incluindo exercícios de tiro, instrução de combate usada pelas forças dos Estados Unidos e operação de armas mais poderosas, a exemplo de mísseis antiaéreos Stinger e antitanque. Taipé tem reclamado do atraso de Washington em entregar armamentos, ainda que Tsai tenha apontado, nesta terça, que a situação vem melhorando.

A representação diplomática dos EUA em Taiwan saudou a extensão do recrutamento e disse que a reforma "contribui para a manutenção da paz e da estabilidade" na região. Teoricamente, os americanos não considerem a ilha independente, mas na prática prometem proteger o território de um ataque chinês.

Chieh Chung, pesquisador da National Policy Foundation, um think tank com sede em Taipé, estimou à Reuters que a extensão do serviço militar obrigatório poderia aumentar a força da ilha em até 70 mil soldados a partir de 2027. Atualmente, o território tem 175 mil militares, contra um poderio amplamente superior de Pequim.

Do ponto de vista convencional, a China, com 2 milhões de soldados, é dona do maior efetivo do mundo e teve em 2021 o segundo maior orçamento de defesa, atrás dos EUA.

Ainda nesta terça, o Ministério da Defesa de Taiwan disse que os recrutas serão encarregados de proteger a infraestrutura principal da ilha, permitindo que forças mais experientes respondam mais rapidamente no caso de qualquer tentativa de invasão.

O serviço militar obrigatório era muito impopular em Taipé porque recordava a ditadura que liderou a região por décadas. O governo anterior ao da atual presidente reduziu o período de um ano para quatro meses com o objetivo de criar uma força principalmente voluntária, mas pesquisas recentes mostram que mais de 75% dos taiwaneses consideram o período muito curto.

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