Descrição de chapéu China

China reage a restrições de viagens de vizinhos na Ásia em meio a surto de Covid

Regime suspende emissão de vistos para Japão e Coreia do Sul, mas não replica medida para países do Ocidente

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Petrópolis (RJ)

A China interrompeu parcialmente a emissão de vistos para cidadãos da Coreia do Sul nesta terça-feira (10) —dias depois de reabrir suas fronteiras após três anos de isolamento.

A ação é vista como uma resposta ao anúncio de Seul de que passaria a exigir testes com resultado negativo para Covid-19 de viajantes de Pequim em meio ao surto de coronavírus vivido pelo país asiático desde o relaxamento de sua política de Covid zero, no final do ano passado.

Passageiros chineses desembarcam no aeroporto de Suvarnabhumi, em Bancoc, após a reabertura de fronteiras - Athit Perawongmetha - 9.jan.23/Reuters

Embora a China tenha imposto exigências de testes similares às requisitadas agora pela Coreia do Sul, o porta-voz da chancelaria chinesa, Wang Wenbin, afirmou que a medida sul-coreana é discriminatória e que seu país agiria da mesma maneira. O primeiro desses atos foi implementado já nesta terça, quando a embaixada chinesa em Seul suspendeu a emissão de vistos para viagens de curta duração ao país.

Algo semelhante ocorreu no Japão depois do estabelecimento de restrições à entrada de chineses. De acordo com a agência de notícias Kyodo, Pequim teria alertado uma série de agências de viagem locais de que pararia de emitir novos vistos para japoneses. Questionada pela agência de notícias Reuters, a embaixada chinesa em Tóquio não confirmou nem desmentiu a informação.

Coreia do Sul e Japão não foram as únicas nações a impor restrições a passageiros da China desde o anúncio da retomada de viagens internacionais. A lista inclui mais de dez outros países, entre os quais EUA, Reino Unido e Itália, que expressaram preocupação com o risco de que a alta transmissão de Covid observada no gigante asiático agora dê origem a novas variantes, capazes de escapar às vacinas atuais.

Sanitaristas afirmam que a principal medida adotada —exigir testes negativos antes de embarcar ou na chegada ao aeroporto— não é suficiente para conter novas ondas de casos.

O cenário é agravado pelo fato de que o regime deixou de publicar números oficiais de infecções e mortes em decorrência do vírus. O apagão foi criticado pela OMS (Organização Mundial da Saúde), segundo o qual os números atuais sub-representam o impacto real da doença —a empresa de dados britânica Airfinity Daily estima que o país esteja registrando, por dia, cerca de 3 milhões de casos e 18,9 mil mortes.

As autoridades chinesas negam que a decisão tenha motivação política. "Desde o surto, a China tem tido uma atitude aberta e transparente", afirmou Wang. A mídia estatal também tem afirmado que o pico da Covid já passou, com infecções diminuindo na capital e em várias províncias pelo país.

O princípio de reciprocidade já tinha sido evocado pela China quando os primeiros países anunciaram restrições a viajantes do país. Na ocasião, um porta-voz da diplomacia afirmou que a nação estava disposta a melhorar a comunicação com o mundo, mas se opunha a tentativas de "manipular as medidas de prevenção e controle da epidemia para fins políticos" e que tomaria "as ações correspondentes".

Cabe notar, no entanto, que o regime chinês não aplicou determinações como as impostas à Coreia do Sul a nenhum país ocidental. Pesquisadora da Universidade Fudan, em Xangai, Karin Vazquez, lembra que o vínculo do regime com Seul é muito distinto daquele mantido, por exemplo, com os EUA —tanto em termos econômicos quanto políticos. Agir de forma semelhante em relação aos americanos não seria percebido como reciprocidade, mas como uma afronta, resume ela.

Além disso, criar mais dificuldades para a entrada de estrangeiros não só representaria uma espécie de retomada da política da Covid zero —flexibilizada de forma um tanto abrupta no final do ano passado, após uma onda de protestos com poucos precedentes—, como contrariaria a atual tentativa do regime de propor uma agenda otimista. "Toda a onda positiva da abertura da economia e das fronteiras iria por água abaixo, assim como o quanto o partido e Xi Jinping podem capitalizar em cima dela", diz a pesquisadora.

Ela alerta que, mesmo assim, é possível que seja só uma questão de tempo até que a China use o princípio de reciprocidade para barrar visitantes de países que impuseram restrições àqueles vindos de seu país. Mas isso representaria um enorme custo político —e os desgastes nessa área, que incluem mas não se limitam à pandemia, já tiveram grandes impactos na economia chinesa nos últimos anos.

O estremecimento das relações diplomáticas da China com Coreia do Sul e Japão não parece ter diminuído o otimismo dos mercados asiáticos quanto à reabertura das fronteiras. Antes da pandemia, chineses costumavam gastar cerca de US$ 250 bilhões no exterior por ano.

Com Reuters

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