Descrição de chapéu Partido Republicano

Órgão de fiscalização acusa George Santos de irregularidades em contas de campanha

Filho de brasileiros eleito deputado nos EUA teria ocultado doadores e desviado verbas para uso pessoal

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Washington | Reuters

Um órgão de fiscalização ligado ao governo dos Estados Unidos protocolou uma ação contra o deputado republicano George Santos, filho de brasileiros que admitiu ter mentido em seu currículo para ser eleito, com acusações envolvendo suas contas de campanha.

O Campaign Legal Center, órgão não partidário, pediu à Comissão Federal Eleitoral (FEC, na sigla em inglês) que abra uma investigação sobre o congressista. O órgão aponta que Santos teria ocultado doadores e usado parte do dinheiro arrecadado para pagar o aluguel de sua residência.

"A comissão [FEC] deve investigar a fundo o que parecem ser mentiras igualmente descaradas sobre a maneira como sua campanha arrecadou e gastou dinheiro", afirma o órgão na ação, em referência às admissões, por parte do deputado, de ter mentido em seu currículo na campanha.

O deputado George Santos em sessão na Câmara dos EUA - Mandel Ngan - 5.jan.23/AFP

Procurado pela agência de notícias Reuters, o gabinete de Santos encaminhou as perguntas aos responsáveis pela campanha, que não responderam às requisições de comentários sobre o caso.

O pedido do Campaign Legal Center ganha relevância porque questões envolvendo contas eleitorais eram consideradas o principal flanco de pressão dos democratas para que o Departamento de Justiça abra uma nova investigação sobre o deputado, depois de ele tomar posse mesmo em meio às controvérsias. Falsificar finanças de campanha é um crime federal.

Santos, eleito por um distrito tradicionalmente democrata de Nova York que representa partes do Queens e de Long Island, já é alvo de uma investigação aberta pela promotoria do condado de Nassau devido às "inúmeras invenções e inconsistências associadas" a ele. "Ninguém está acima da lei, e, se um crime foi cometido neste condado, nós vamos acusá-lo", disse a promotora Anne Donnelly.

No Brasil, o Ministério Público do RJ informou na semana passada que deve reabrir uma apuração contra o político —indiciado em 2008 por estelionato, depois de ter furtado um talão de cheques, que usou para fazer compras em Niterói; os cheques não tinham fundos. O processo estava suspenso porque as autoridades brasileiras não conseguiam localizá-lo, mas sua eleição permitiria a identificação de seu paradeiro, motivando um pedido formal ao Departamento de Justiça dos EUA para notificá-lo.

"[Santos] parece ter gasto US$ 13,5 mil para pagar o aluguel de sua residência, em flagrante violação da lei", diz a queixa apresentada nesta segunda-feira (9) à FEC.

Nela, o Campaign Legal Center afirma ainda que a prestação de contas da campanha também não é compatível com outros dados já divulgados por ele sobre sua renda e ativos. "As circunstâncias indicam que indivíduos ou empresas ainda ocultas podem ter canalizado dinheiro irregularmente para a campanha de Santos." Um porta-voz da FEC disse que a comissão não comenta questões em andamento.

O caso pode aumentar a pressão sobre o deputado, que tomou posse normalmente, em meio à pressão democrata para que não o fizesse. Ainda que tenha se tornado uma espécie de pária em seu primeiro dia na Câmara, nos dias seguintes, durante as votações para a presidência da Casa, ele se mostrou mais enturmado —inclusive com a trumpista Marjorie Taylor Greene.

Santos votou em todas as 15 rodadas em Kevin McCarthy, que acabaria eleito. Ao anunciar sua posição em uma delas, ele foi flagrado por uma fotógrafa da agência de notícias Reuters e pela transmissão ao vivo da sessão fazendo um gesto com as mãos associado a grupos de supremacia branca.

Em dezembro, o jornal The New York Times, que primeiro revelou as inconsistências no currículo de Santos, publicou uma reportagem detalhando suspeitas sobre suas contas eleitorais.

Uma empresa chamada Cleaner 123, por exemplo, recebeu ao longo de quatro meses quase US$ 11 mil (R$ 57,3 mil), com as despesas listadas pela campanha como "aluguel de apartamento para funcionários", em uma casa em Long Island. Mas um vizinho disse que o próprio Santos morava lá havia meses, e outros dois contaram ter visto o agora deputado e seu marido entrando e saindo.

Os EUA têm uma regra que proíbe o uso de verbas de campanha para despesas pessoais.

As contas também incluem dezenas de despesas atreladas de US$ 199,99 (R$ 1.043), 1 centavo abaixo do valor para o qual a lei federal exige recibos, e mais de US$ 40 mil (R$ 208,6 mil) em viagens aéreas —número que se assemelha aos registros de campanha de líderes partidários no Congresso, não de um congressista recém-eleito. Não se sabe se o gasto foi de fato ilegal ou apenas incomum.

Joe Murray, advogado de Santos, disse em nota que algum dinheiro foi gasto "imprudentemente" por uma empresa demitida pela campanha há mais de um ano, mas que todos os gastos foram legais.

"Despesas de campanha para membros da equipe, incluindo viagens, hospedagem e refeições, são normais. A sugestão de que a campanha de Santos se envolveu em qualquer gasto irresponsável de fundos é simplesmente ridícula." A reportagem também levantou questões sobre a situação financeira do trumpista filho de brasileiros, que as informações mostram ter melhorado drasticamente desde 2020, quando ele relatou ganhar apenas US$ 55 mil (R$ 287 mil) por ano.

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