George Santos vira pária entre republicanos em 1º dia no Congresso dos EUA

Depois de admitir ter mentido em currículo para ser eleito, trumpista filho de brasileiros passou expediente fugindo de repórteres

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Michael Gold Annie Karni
Washington | The New York Times

Perseguido por repórteres, dos quais tentou se esquivar a todo custo, e rejeitado por integrantes do próprio partido, o republicano George Santos foi tratado como pária em seu primeiro dia no Congresso.

Filho de brasileiros, ele vinha fugindo do escrutínio público havia semanas, ignorando telefonemas e mensagens e escondendo-se em Long Island e no Queens. Só apareceu brevemente em entrevistas a veículos conservadores, fugindo de perguntas sobre a enxurrada de mentiras sobre o seu passado que têm vindo à tona desde que foi eleito deputado por Nova York, em novembro.

George Santos, deputado republicano recém-eleito, isolado entre integrantes do Partido Republicano na Câmara dos Representantes, no Capitólio, em Washington - Evelyn Hockstein - 3.jan.23/Reuters

Nesta terça-feira (3), Santos não teve mais como se esconder. Dezenas de jornalistas o aguardavam em frente ao seu novo gabinete, no edifício Longworth, enchendo-o de perguntas sobre se ele deve respostas a seus eleitores sobre a persona falsa que criou para ser eleito e se tinha algum comentário a fazer em relação às investigações que indicam que ele mentiu no currículo.

Com uma mochila e olhando fixamente para o celular enquanto caminhava ladeado por dois assessores, Santos, 34, deu a impressão de ser um calouro universitário perdido que, recém-chegado ao campus, precisava desesperadamente de um mapa. Ele passou reto pelo gabinete, mas então deu meia-volta, entrou e fechou a porta, sem responder a perguntas. Parecia exausto —e não era nem meio-dia.

Seu pouso acidentado no Capitólio se deu durante a abertura caótica da 118ª legislatura do Congresso americano. Os republicanos estavam preocupados com o drama interno de quem será o novo presidente da Câmara e com uma revolta da ultradireita, que converteu o que deveria ter sido o início triunfal da maioria republicana num espetáculo disfuncional —que nesta quarta (4) só fez se estender.

Era possível ouvir deputados e assessores rindo ao especular quem estava tendo um dia pior: o deputado Kevin McCarthy, da Califórnia, que perdeu votações em série para ser o novo chefe da Casa, ou o novato de Nova York.

Santos parecia encarnar um símbolo do estado de desordem do Partido Republicano: um jovem recém-eleito, que seria o paradigma do ressurgimento inesperado de sua legenda num estado de maioria democrata. Agora, porém, membros da própria legenda se distanciam dele e pedem explicações sobre sua conduta. Alguns pedem que a Câmara abra uma investigação.

"O sujeito que mentiu sobre seu currículo?", questionou o republicano Mike Gallagher, de Wisconsin, ao ser questionado sobre Santos ao sair de uma reunião matinal da votação para presidente. Ele disse que o novo colega "deixou claro que não tem noção da verdade".

Santos passou a manhã sendo perseguido por repórteres enquanto aparentemente se perdia nos corredores do subsolo do Capitólio. Em dado momento, quando procurava um elevador, um segurança o orientou a voltar na direção de onde viera.

Confrontado por uma enxurrada de perguntas a cada passo, Santos permaneceu calado —exceto para dizer que pretendia votar em McCarthy, coisa que fez várias vezes. Perto da porta da entrada sul, enfim encontrou o marido, Matt, e subiu os degraus da frente.

O dia deu a Santos o primeiro gostinho do que é estar cercado por jornalistas que percorrem o Capitólio livremente, enquanto ele tentava se orientar no novo ambiente, mergulhado em um escândalo que ele mesmo criou. Em dado momento, parecia estar andando em direção ao seu gabinete, mas ao ver os cinegrafistas à sua espera deu meia-volta e caminhou no sentido contrário.

Santos está sob a sombra de investigações de promotores federais e locais que apuram potencial atividade criminosa em suas duas campanhas ao Congresso. Na segunda (2), promotores disseram que o Ministério Público do Rio de Janeiro pretende reabrir uma investigação que remete a 2008 —à época, ele foi indiciado por estelionato após furtar um talão de cheques e usá-lo para fazer compras.

Democratas já pedem que ele renuncie, e republicanos intensificaram questionamentos em relação à sua conduta, que inclui alegações falsas sobre as instituições de ensino nas quais estudou, vínculos com firmas de Wall Street em que trabalhou e seus esforços filantrópicos. Todas foram expostas como parte de uma persona inventada para atrair eleitores.

Além de mentir sobre o currículo, Santos teria apresentado declarações incompletas ou inexatas sobre suas finanças ao Congresso. Promotores federais e locais investigam se ele cometeu crimes envolvendo as contas ou declarações financeiras.

Ele, que é católico, ainda mentiu sobre ser judeu e descendente de sobreviventes do Holocausto.

Seu isolamento na Câmara ficou claro momentos antes da antecipada votação para presidente. Ele ficou sentado sozinho no fundo do recinto, olhando fixamente para o telefone, enquanto um grupo de republicanos nova-iorquinos conversava perto dele.

Anthony D’Esposito, outro novato de Long Island, vinha se alinhando a Santos depois que eles venceram em novembro, dando várias entrevistas conjuntas à Fox News. Mas, nesta terça-feira, D’Esposito, batendo papo com outros republicanos, nem sequer cumprimentou Santos na Câmara.

Mais tarde, Andrew Garbarino, outro deputado republicano por Nova York, postou uma foto no Twitter de membros da bancada com McCarthy. "Nova York está na Câmara!", escreveu. Santos não estava na foto.

Tradução de Clara Allain

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