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Só 11% comparecem para votar na Tunísia, e oposição fala em 'eleição fantasma'

Políticos dizem que baixo comparecimento reflete medidas antidemocráticas adotadas pelo presidente

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Túnis | Reuters

A Tunísia afirmou que apenas 11% do eleitorado votou no segundo turno das eleições parlamentares, neste domingo (29). Críticos do presidente Kais Saied dizem que a alta taxa de abstenção é reflexo do desdém popular pelo líder e de sua guinada autoritária.

Em março, o presidente anunciou a dissolução do Parlamento. A decisão marcou mais um capítulo de uma série de medidas antidemocráticas que vêm colocando em xeque avanços na democracia do país desde a Primavera Árabe, onda de manifestações que começou na Tunísia em 2011.

Membro do comitê eleitoral fecha uma urna em numa seção eleitoral em Tunis, capital da Tunísia - Zoubeir Souissi -29.jan.23/Reuters

O chefe da comissão eleitoral, controlada por Saied, informou um comparecimento de 11,3% para este segundo turno. Durante o primeiro turno, em dezembro, o comparecimento foi de 11,2%.

Observadores independentes, porém, questionam esses números e acusam as autoridades de muitos distritos de reter dados usados para monitorar a lisura das eleições. A comissão negou as acusações e disse que funcionários das assembleias de voto estiveram ocupados demais para cooperar com os supervisores eleitorais.

Cerca de 887 mil pessoas em um universo de 7,8 milhões eleitores votaram. Os principais partidos boicotaram a votação e espera-se que a maioria das cadeiras vá para os independentes.

"Não estou interessado em eleições que não me dizem respeito", disse Nejib Sahli, 40, enquanto passava por uma seção eleitoral no distrito de Hay Ettahrir, em Túnis, à agência Reuters.

A Tunísia enfrenta um cenário de declínio econômico. O governo cortou subsídios, produtos básicos desapareceram dos mercados, e o Estado busca ajuda estrangeira para evitar a falência. A situação deixou eleitores desiludidos com a política.

"Não queremos eleições. Queremos leite, açúcar e óleo de cozinha", disse Hasna, uma mulher que fazia compras neste domingo no distrito de Ettadamon, na capital.

O parlamento recém-formado teve seu papel reduzido após Saied tomar uma série de medidas antidemocráticas para concentrar poder. Em dezembro de 2021, ele invalidou a Constituição do país, defendendo que o problema político atual decorre da Carta de 2014.

Embora a nova Constituição tenha sido aprovada em referendo no ano passado, apenas 30% dos eleitores participaram. O ativista da oposição Chaima Issa, que liderou protestos contra Saied e enfrenta um tribunal militar sob acusação de insultar o presidente, descreveu a votação como uma "eleição fantasma".

Em uma seção eleitoral no distrito de Ettadamon, nenhum eleitor compareceu durante os 20 minutos que um jornalista da Reuters esteve lá. Em outra seção eleitoral da região, um eleitor que se identificou como Ridha disse que apoiava Saied. "Ele é um homem limpo lutando contra um sistema corrupto."

Em um café em Ettahrir, outro distrito da capital, apenas um dos sete homens sentados bebendo café disse que talvez votaria. Outro, que se identificou apenas como Imad, disse não acreditar que seu voto tenha importância depois das mudanças políticas de Saied.

"Só o presidente está decidindo tudo", disse ele. "Ele não se importa com ninguém e nós não nos importamos com ele e suas eleições."

Muitos tunisianos pareciam receptivos à tomada de poder realizada por Saied em 2021, após anos de coalizões de governo incapazes de reviver uma economia moribunda, melhorar os serviços públicos ou reduzir as desigualdades gritantes.

Mas Saied não expressou nenhuma agenda econômica clara, exceto para protestar contra a corrupção e especuladores financeiros, a quem ele culpou pelo aumento dos preços. Na sexta-feira (27), a agência de classificação de crédito Moody's rebaixou a nota da dívida da Tunísia, dizendo que o país provavelmente não conseguiria pagar empréstimos.

Desde a votação de dezembro, a cobertura da televisão estatal se concentrou no segundo turno, que a oposição disse ter sido um esforço para aumentar o comparecimento. "Esta queda é de uma grande altura", disse Issam Chebbi, líder de um partido político. "Eles estão escondendo as taxas de comparecimento."

Com Reuters

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