Trump processa jornalista que revelou Watergate por uso de entrevistas em audiolivro

Ex-presidente pede US$ 50 milhões a Bob Woodward em ação que também envolve editora da publicação

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São Paulo

O ex-presidente americano Donald Trump está processando o jornalista Bob Woodward por publicar em um audiolivro gravações de conversas que manteve com o republicano em 2019 e 2020.

A ação na Justiça, que pede indenização de US$ 49,98 milhões (R$ 254,6 milhões), atinge também a editora responsável pela publicação, a Simon & Schuster, e sua controladora, a Paramount Global.

Em janeiro, Woodward lançou o audiolivro "The Trump Tapes" (as gravações de Trump), com 20 entrevistas com o republicano. Os advogados sustentam que o material era sujeito a limitações de uso e distribuição.

O ex-presidente Donald Trump em evento para a campanha eleitoral de 2024 no estado da Carolina do Sul
O ex-presidente Donald Trump em evento para a campanha eleitoral de 2024 no estado da Carolina do Sul - Logan Cyrus - 28.jan.23/AFP

"Ao usurpar, manipular e explorar o material, Woodward atuou em conjunto com a Simon & Schuster, que leva o material de diversos autores a centenas de países e territórios, e com a controladora da Simon & Schuster, a Paramount", argumentam os advogados. "Essas entidades, de forma sistemática, flagrante e ilegal, usurparam os direitos autorais de Trump, seus direitos contratuais e de entrevistado."

Em nota, a editora e o jornalista afirmaram que o processo "não tem mérito" e prometeram "se defender agressivamente" na ação. "Todas as entrevistas foram dadas sem a condição de anonimato e gravadas com a concordância de Trump. Além disso, é de interesse público ter o registro histórico do presidente em suas próprias palavras. Estamos confiantes de que os fatos e a lei estão a nosso favor."

Editor-executivo do jornal The Washington Post, Woodward venceu dois prêmios Pulitzer ao longo de sua carreira, um dos mais importantes do jornalismo. Ele foi responsável, junto a Carl Bernstein, por revelar o escândalo de Watergate, em 1972, que derrubou o então presidente Richard Nixon dois anos depois.

Antes de lançar o audiolivro com as entrevistas, o jornalista publicou uma série de três livros, entre 2018 e 2021, sobre a passagem de Trump pela Casa Branca, intitulados "Medo", "Raiva" e "Perigo".

O processo contra o jornalista tem recortes das entrevistas e a alegação de que o resultado publicado, "longe de ser uma gravação crua", foi editado. "As respostas foram manipuladas para alterar a linguagem de Trump, assim como sustentar a narrativa desejada por Woodward, Simon & Schuster e Paramount".

De acordo com o processo, Trump disse ao repórter diversas vezes que as entrevistas deveriam ser usadas no "mundo escrito". "Em nenhum momento Woodward pediu a Trump para expandir as licenças do conteúdo ou fornecer autorização para usar as gravações das entrevistas para um audiolivro ou outro trabalho derivado, como de habitual nas indústrias de publicação e gravação de livros", diz a peça.

No trecho de uma das conversas transcritas no processo, Trump pergunta a Woodward se a entrevista seria apenas para o livro. "Novamente, isso é para o livro que sairá antes das eleições", teria respondido o jornalista. "Raiva" foi publicado dois meses antes do pleito de 2020, em que Trump perdeu para Joe Biden.

Processar jornalistas e jornais se tornou uma estratégia comum do ex-presidente nos últimos anos. Em outubro, abriu um processo contra o canal CNN por difamação. Na ocasião, ele pedia para ser indenizado em US$ 475 milhões (R$ 2,45 bilhões) por notícias que, segundo ele, seriam falsas e tendenciosas.

No processo, de 29 páginas, os advogados de Trump acusam a CNN de tentar prejudicar uma eventual candidatura à Presidência em 2024 e de desestabilizar o futuro pleito em favor da esquerda. Eles argumentam que o veículo se refere ao ex-presidente "com uma série de rótulos escandalosos, falsos e difamatórios, como 'racista', 'lacaio da Rússia', 'insurrecto' e, em último caso, 'Hitler'".

Trump tenta se viabilizar para 2024 enquanto enfrenta diversas crise, que vão de sumiço de documentos sigilosos da Casa Branca à tentativa de adulteração da eleição e suspeita de fraude.

Em dezembro, o comitê da Câmara dos Representantes dos EUA que investiga a invasão do Congresso em 6 de janeiro de 2021, promovida por apoiadores de Trump, recomendou o indiciamento do republicano por quatro crimes: obstrução de procedimento oficial; conspiração para fraudar os Estados Unidos; conspiração para fazer uma declaração falsa; e incitação, assistência ou ajuda a insurreição.

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