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Ucrânia troca ministro da Defesa pressionado por suspeita de corrupção em meio à guerra

Chefe de inteligência militar substitui Oleksii Reznikov; Kiev cita riscos de nova ofensiva russa

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Kiev | Reuters e AFP

O governo da Ucrânia anunciou, neste domingo (5), uma troca na chefia do Ministério da Defesa, em meio aos efeitos da guerra iniciada com a invasão russa, prestes a completar um ano. O presidente Volodimir Zelenski, aliás, citou que a proximidade do aniversário do conflito tem sido marcada por sinais de uma nova ofensiva de Moscou.

O anúncio da mudança na Defesa foi feito por assessores. David Arakhamia, que comanda a bancada do partido governista Servo do Povo no Parlamento, disse que Oleksii Reznikov será substituído por Kirilo Budanov, até aqui chefe da inteligência militar.

O ministro da Defesa da Ucrânia, Oleksii Reznikov, que será substituído no cargo, em entrevista coletiva em Kiev - Viarcheslav Ratinski - 5.fev.23/Reuters

Arakhamia não especificou quando a troca será efetivada nem que função Reznikov passará a exercer —uma das citadas é a chefia da pasta de Indústria Estratégica. "A guerra às vezes determina mudanças na política de pessoal. As circunstâncias exigem fortalecimento e reagrupamento. É o que está acontecendo agora e acontecerá no futuro", disse, em mensagem no Telegram. "O inimigo está se preparando para uma ofensiva. Estamos nos preparando para nos defender e retomar o que é nosso."

O assessor disse também que áreas do governo como o Ministério da Defesa não deveriam ser chefiadas por políticos, mas por oficiais de carreira da defesa ou segurança. Advogado de formação, Reznikov dera uma entrevista coletiva mais cedo, na qual se limitou a dizer que tinha a consciência limpa e que mudanças no governo caberiam a Zelenski.

Independentemente do momento no front, a pasta a ser assumida por Budanov foi central em uma série de escândalos recentes, que resultaram, no final do mês passado, no primeiro expurgo de autoridades ligadas a suspeitas de corrupção ou má gestão no governo Zelenski.

O que o assessor Mikhailo Podoliak chamou então de sintonia do presidente com os desejos da sociedade pareceu também um movimento destinado a aplacar críticas constantes de governos ocidentais acerca do grau de corrupção da gestão atual, abafadas pela necessidade de união contra os russos.

Reznikov não fora inicialmente atingido pelo expurgo, mas sua pasta se viu envolvida em suspeitas ligadas a contratos superfaturados de refeições para o Exército. O escândalo estourou no momento em que a Ucrânia reforçava os pedidos a seus aliados para o fornecimento de tanques e materiais bélicos para combater as forças russas.

Na ocasião, o agora futuro ex-ministro negou irregularidades e, em um post inflamado no Facebook, transferiu a culpa a seu vice, Viatcheslav Chapovalov, que acabou caindo

Reznikov, 56, tornou-se ministro em novembro de 2021, apenas alguns meses antes de a Rússia invadir a Ucrânia, em fevereiro de 2022. Com o início da guerra, ele passou a se relacionar com autoridades de defesa de países ocidentais e ajudou a supervisionar o recebimento de bilhões de dólares em assistência militar, incluindo lançadores de foguetes e tanques para ajudar Kiev a conter a invasão.

Ele tratou ainda a integração na prática da Ucrânia à Otan como uma prioridade —mesmo que a adesão imediata à aliança militar liderada pelos EUA não fosse possível. O grupo é personagem central do conflito, já que seu avanço no Leste Europeu foi apontado por Moscou como um dos motivos para a invasão.

A saída de Reznikov marcaria um avanço no processo de expurgo promovido por Zelenski, que chega agora a níveis mais altos de autoridade. Antes, a peça mais importante a cair tinha sido Kirilo Timochenko, aliado da campanha eleitoral do presidente em 2019 que era o adjunto da chefia de gabinete. Ao longo da guerra, ele foi criticado pela mídia local por se deixar fotografar dirigindo carros esportivos.

Também em meio a acusações de corrupção caiu o vice-ministro das Regiões, Vasil Lozinski, que admitiu ter recebido US$ 400 mil (R$ 2,1 milhões) em suborno. Foram demitidos ainda o procurador-geral adjunto e outros quatro vice-ministros, todos por má gestão e suspeitas de corrupção.

O militar Kirilo Budanov, chefe de inteligência, que deve assumir o Ministério da Defesa, em entrevista no ano passado com foto de Zelenski ao fundo - Valentin Oguirenko - 25.jun.22/Reuters

Budanov, 37, é visto como um personagem enigmático, condecorado por seu papel em operações sigilosas de inteligência e que rapidamente ascendeu na hierarquia. Ele deve assumir a pasta responsável pelo setor militar em um momento em que sobe de tom a troca de acusações no conflito.

A Ucrânia afirma que se prepara para lidar com uma ofensiva de Moscou enquanto espera poder empreender também ações de contraofensiva, com a chegada de tanques cedidos por países como EUA e Alemanha —que, de resto, demandam semanas de treinamento até poderem ser usados em batalhas. Nesse clima, a Rússia citou neste fim de semana que Kiev planeja ações de bandeira falsa.

"As coisas estão muito difíceis na região de Donetsk, com batalhas ferozes", disse Zelenski em pronunciamento. O foco da guerra hoje continua a ser Bakhmut. "Mas, por mais difícil que seja e por mais pressão que haja, devemos aguentar. Não temos alternativa a não ser nos defender e vencer." Segundo ele, muitos relatórios indicam que Moscou "quer fazer algo simbólico em fevereiro, para tentar vingar suas derrotas do ano passado".

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