Democratas colocam dúvidas em segundo plano e apostam em Biden para 2024

Atual presidente dos EUA deve encarar disputa a despeito de incertezas sobre sua idade e sua força nas urnas

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Shane Goldmacher
The New York Times

No momento em que o presidente Joe Biden se aproxima do anúncio formal de sua candidatura à reeleição em 2024, um dos fatos mais importantes da campanha é algo que não chegou a acontecer: não emergiu nenhum adversário sério para ele nas primárias.

Biden praticamente já superou quaisquer rivais, não obstante os receios por sua idade –com 80 anos, ele já é o presidente mais velho na história dos EUA— e as dúvidas persistentes que grande número de eleitores democratas tem a seu respeito. Sondagens reiteradas indicam que os democratas anseiam por um rosto novo em 2024, mas não sabem quem poderia ser.

O presidente dos EUA, Joe Biden, em reunião na Casa Branca, em Washington
O presidente dos EUA, Joe Biden, em reunião na Casa Branca, em Washington - Kevin Lamarque - 20.abr.23/Reuters

Depois que os democratas ganharam em mais corridas que o previsto nas eleições de meio de mandato de 2022, qualquer energia para desafiar Biden se dissipou rapidamente. A esquerda tem continuado a seu lado, apesar de Biden ter recentemente feito gestos mais explícitos de aproximação com o centro. E os possíveis rivais dele permaneceram à margem da disputa.

A entrada precoce de Donald Trump na corrida esclareceu de imediato que o que está em jogo para os democratas em 2024 será tão importante quanto foi em 2020. O ex-presidente mostrou ser a maior força unificadora na política democrata dos últimos dez anos, e os mesmos fatores que levaram o partido a unir-se em torno de Biden quatro anos atrás continuam presentes hoje. Somem-se a isso as vantagens de estar ocupando a Casa Branca, e qualquer contestação parece mais destinada a machucar Biden levemente que a derrotá-lo.

Há planos prontos para Biden iniciar formalmente uma campanha para 2024 já nesta terça-feira (25), com um vídeo discreto lançado no aniversário do início de sua campanha quatro anos atrás. É um início que muitos democratas estão encarando mais com estoicismo que com entusiasmo.

"Precisamos de estabilidade", diz o deputado Jamaal Bowman, de Nova York, progressista que conquistou sua vaga em 2020 derrotando um colega mais velho e moderado na primária. "Biden nos dá estabilidade."

A possibilidade de Biden ser escolhido candidato presidencial pela segunda vez nem sempre esteve garantida. Sendo o presidente atual, ele era o favorito absoluto, é claro. Mas pessoas próximas à Casa Branca se surpreenderam com a rapidez com que todas as alas do partido passaram de encarar Biden com receio e preocupação para aclamá-lo com quase unanimidade, pelo menos em público.

Maria Cardona, membro do Comitê Democrata Nacional e estrategista do partido, não entende as dúvidas em relação a Biden ser a melhor aposta dos democratas, especialmente contra Trump, 76, que ainda é o pré-candidato republicano favorito. "Independentemente das ressalvas, independentemente do receio de que ele esteja envelhecendo –ele está, e essa será uma questão com que ele e sua campanha terão que trabalhar—, quando sua contraparte é quase tão velha quanto ele mas é tão o oposto do que este país merece, não há dúvida de que temos que apostar nele."

Por enquanto, os únicos rivais de Biden a já terem anunciado sua pré-candidatura são Marianne Williamson, cuja última pré-candidatura não passou de um asterisco na campanha de 2020, e Robert F. Kennedy Jr., que está fazendo uso de seu sobrenome para promover suas posições antivacina.

"Os democratas se queixam de que Biden talvez seja velho demais", acrescenta Cardona. "Mas quando se pergunta a eles ‘quem pode ser, então?’, não há nenhum outro nome."

Governadores democratas destacados e ambiciosos, incluindo Gavin Newsom, da Califórnia, e J.B. Pritzker, de Illinois, já deixaram claro que não contestarão a indicação de Biden, e os outros pré-candidatos de 2020, tampouco. E muitas pessoas bem posicionadas no partido deixaram de ver com bons olhos o potencial político da opção da próxima na "linha de sucessão", a vice-presidente Kamala Harris.

O deputado Raúl Grijalva, 75, afirma que a esquerda está totalmente focada "na luta contra os ismos: fascismo, racismo, sexismo". Isso ganhou precedência sobre a idade de Biden, diz. "Se vamos eliminar pessoas em função de serem velhas, acho que isso não seria justo e equitativo."

Os números alcançados por Biden em sondagens junto a democratas continuam apenas medianos. Uma sondagem da NBC News divulgada neste mês apontou que 70% de todos os americanos, incluindo 51% dos democratas, afirmam que Biden não deveria candidatar-se a um segundo mandato. Se o governador da Flórida, Ron DeSantis, for escolhido o candidato republicano, Biden terá mais dificuldade na eleição geral. DeSantis, 44, tem se saído melhor que Trump em um confronto hipotético com Biden.

Falando reservadamente, alguns importantes doadores e organizadores de arrecadações para Biden ainda se preocupam com sua capacidade de resistir bem tanto a uma campanha quanto a um segundo mandato. Aqueles que doaram ou arrecadaram US$ 1 milhão ou mais em 2020 foram convidados para um encontro reservado com o presidente nesta semana.

Um rico doador havia cogitado circular uma carta exortando Biden a não se candidatar, mas foi dissuadido por correligionários porque não teria adiantado e teria causado constrangimento ao presidente, segundo uma pessoa ciente do episódio que pediu anonimato. Alguns colaboradores disseram que estão num estado de angústia suprimida ou suspensa: estão totalmente, mas nervosamente, atrás de Biden.

Os democratas em geral, e a Casa Branca em particular, conhecem bem a história moderna das campanhas de reeleição presidencial e sabem que quase todos os presidentes recentes que perderam uma reeleição enfrentaram rivais sérios nas primárias. Foram os casos de George H.W. Bush em 1992, Jimmy Carter em 1980, Gerald Ford em 1976 e, antes de ele se retirar da disputa e de os democratas acabarem perdendo, Lyndon B. Johnson em 1968.

Some-se esse padrão à ameaça de uma segunda Presidência de Trump, e o resultado é que os democratas se alinharam de modo quase uniforme em formação leal a Biden, especialmente desde que o partido evitou uma "onda vermelha" republicana e as derrotas que haviam sido previstas por muitos.

"As pessoas reconheceram que ele era o único candidato que conseguiria derrotar Donald Trump e proteger a democracia americana", diz o deputado democrata David Cicilline, de Rhode Island, falando da escolha de Biden para ser o candidato democrata em 2020. "E a situação continua a ser a mesma."

Tradução de Clara Allain

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