Descrição de chapéu América Latina

Cristina Kirchner confirma que não será candidata a presidente da Argentina

Vice-presidente já vinha dando sinais de que não participaria das eleições, mas havia grande expectativa sobre decisão

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Buenos Aires

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, confirmou numa carta publicada em suas redes sociais nesta terça (16) que não será candidata à Presidência. A peronista já dava sinais de que não participaria das eleições, em outubro, mas havia grande indefinição e expectativa quanto à sua decisão final.

"Já disse isso no dia 6 de dezembro de 2022. Não serei animal de estimação do poder por nenhuma candidatura. Tenho demonstrado, como ninguém, privilegiar o projeto coletivo sobre a posição pessoal", escreveu ela no extenso comunicado a seus apoiadores, referindo-se à Suprema Corte.

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, durante inauguração de centro esportivo em Buenos Aires em dezembro de 2022 - Assessoria de imprensa Cristina Fernandez de Kirchner/AFP

"Não vou entrar no jogo perverso que nos impõem com fachada democrática para que esses mesmos juízes, hoje empoleirados na Corte, emitam uma decisão me inabilitando ou retirando de mim qualquer candidatura, para deixar o peronismo em absoluta fragilidade diante da disputa eleitoral", continuou.

A desistência ocorre quase um mês após o presidente Alberto Fernández anunciar que não entrará na disputa. Seu antecessor e opositor, Mauricio Macri (2015-2018), havia feito o mesmo gesto em março pela aliança Juntos por el Cambio. A poucos meses do pleito, a corrida é considerada muito incerta.

Com a saída dos três líderes, sobram como opções do lado peronista o ministro da Economia, Sergio Massa, e Daniel Scioli, hoje embaixador em Brasília. Também tem sido citado o nome do ministro do Interior, Eduardo "Wado" De Pedro, mais ligado ao grupo político de Cristina.

Na oposição, os principais nomes cotados para disputar as primárias são Horacio Larreta, governador da capital federal, e Patricia Bullrich, ex-presidente do Partido Progressista. Já o ultradireitista Javier Milei ganha força como terceira via, diante de brigas nas duas principais coalizões e do descontrole da inflação.

Na carta, Cristina novamente usou a narrativa de que ficará inelegível após ser condenada por corrupção em dezembro do ano passado. Isso, porém, só ocorrerá caso a decisão da Justiça argentina em primeira instância seja confirmada pelas esferas superiores, o que não deve ocorrer antes das eleições.

No caso conhecido como "Causa Vialidad", ela foi acusada de desviar verbas na forma de concessões de obras públicas na província de Santa Cruz à empresa de um amigo dos Kirchner. A acusação se refere à época de seu mandato como presidente (2007-2015) e também ao mandato de seu marido, Néstor Kirchner (2003-2007).

Cristina afirma ser vítima de "lawfare", termo usado para casos em que o Judiciário persegue um investigado por razões políticas, e sustenta que a condenação estava escrita desde o início do processo.

"Não se trata de uma decisão precipitada ou de momento, mas de uma decisão fundamentada e pensada. Eu os conheço, sei como pensam, como agem e como vão agir. Eu os vi ao longo da história e experimentei o jogo deles na minha própria pele e na da minha família, com uma perseguição amarrada com precisão cirúrgica ao calendário eleitoral", escreveu a vice-presidente nesta terça.

A política também chamou a Suprema Corte de "Partido Judiciário" no texto: "Desde 2016, o Partido Judiciário funciona como uma força-tarefa da [coalizão de oposição] Juntos por el Cambio e dos grupos econômicos concentrados em eliminar seus adversários políticos".

Assim como Fernández já havia feito, ela criticou a decisão do tribunal de suspender as eleições que aconteceriam no último domingo (14) em duas províncias cujos candidatos favoritos eram governistas. A questão era se os postulantes poderiam buscar sucessivas reeleições.

"Assim como três pessoas [os juízes] fizeram com as províncias de Tucumán [no noroeste do país] e San Juan [na fronteira com o Chile], não tenham dúvidas de que o farão contra mim para impedir o peronismo de participar do processo democrático, ou enfraquecê-lo, levando-nos a um beco sem saída", escreveu.

Na carta, a vice ainda fez uma recapitulação histórica da democracia e das crises da Argentina, voltando a criticar Macri e o empréstimo de US$ 57 bilhões que fez em 2018 com o Fundo Monetário Internacional.

Cristina também disse que "fantasmas do passado voltaram", em referência a episódios de violência política, incluindo a tentativa de um brasileiro de atirar nela no ano passado. Ela acusa a oposição de ter promovido e financiado esses atos e critica a mídia por ter dado ampla cobertura a esses grupos.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.