Lula conversa com Putin, recusa viagem à Rússia e reitera planos do 'clube da paz'

Chamada com líder russo ocorre poucos dias após desencontro do brasileiro com Zelenski na cúpula do G7

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Brasília

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou nesta sexta-feira (26) que conversou com o presidente russo, Vladimir Putin, e recusou um convite para ir ao Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo, que será realizado no próximo mês de junho.

O petista disse que dialogou por telefone com o russo e explicou que, neste momento, não pode ir ao país, reiterando entretanto a disposição do governo de mediar esforços de paz na Guerra da Ucrâniaplano que também colocaria Índia, Indonésia e China na mesa de negociação.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com líderes do setor automobilístico no Palácio do Planalto, em Brasília
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante encontro com líderes do setor automobilístico no Palácio do Planalto, em Brasília - Ueslei Marcelino - 25.mai.23/Reuters

"Conversei agora por telefone com o presidente da Rússia. Agradeci a um convite para ir ao Fórum Econômico Internacional de São Petersburgo e respondi que não posso ir a Rússia nesse momento, mas reiterei a disposição", escreveu Lula no Twitter.

Lula e Putin conversaram cerca de uma hora. Estavam ao lado do brasileiro o chanceler Mauro Vieira, o assessor especial do presidente para política externa, Celso Amorim, e auxiliares. O líder petista não disse porque declinou do convite de ir à Rússia.

Segundo fontes do Palácio do Planalto, Lula escutou de Putin reclamações sobre países do Ocidente, acusados pelo russo de não desejarem verdadeiramente a paz no conflito iniciado há 15 meses. O brasileiro, então, teria mantido posição de neutralidade, evitando criticar o presidente Volodimir Zelenski.


Os dois ainda discutiram o Brics —bloco que dividem com Índia, China e África do Sul. Lula disse que participará da cúpula da organização em agosto, e Putin teria sinalizado que também que pode ir ao evento, mas não confirmou presença. A cúpula acontecerá na África do Sul, país que reconhece o mandato do TPI (Tribunal Penal Internacional) e que, em tese, teria de prender o russo em seu território. Em março, o tribunal emitiu um mandado de prisão contra Putin por supostos crimes de guerra relacionados à deportação ilegal de crianças ucranianas —ele não viajou ao exterior desde então.

Na quinta-feira, o presidente brasileiro também conversou com o dirigente da China, Xi Jinping. Nas redes sociais, Lula afirmou ter falado sobre a guerra e sobre a participação dos países na cúpula do Brics.

As conversas com Putin e com Xi ocorreram no momento em que Lula vive uma situação sensível em relação à diplomacia sobre a Guerra da Ucrânia. Na última semana, o petista esteve no G7, grupo que reúne algumas das principais economias do mundo, em Hiroshima, no Japão. No evento, o brasileiro discutiu o conflito com os líderes da França e do país anfitrião, mas não se encontrou com Zelenski.

O ucraniano e o brasileiro tinham uma conversa marcada, que acabou não ocorrendo. A comitiva de Lula disse que, a convite de Zelenski, concordou com uma solicitação de encontro entre os líderes e ofereceu ao menos três horários para a reunião. Horas depois, a equipe foi informada de que o encontro não aconteceria mais. Questionado se estava frustrado por não ter enfim conversado com o homólogo brasileiro, Zelenski disse: "Acho que ele [Lula] ficou desapontado".

Depois, Lula disse a jornalistas não ter ficado propriamente decepcionado, e sim "chateado" com o cancelamento da reunião. "Gostaria de encontrar com ele e discutir o assunto", disse, em referência à sua proposta de mediação de paz da guerra entre Moscou e Kiev.

O governo Lula defende a criação de um "clube da paz" formado por países vistos por Brasília como não alinhados a nenhum dos lados do conflito para negociar o fim da guerra. A iniciativa, contudo, não gerou entusiasmo entre líderes do Ocidente em parte devido à falta de clareza.

A proposta perdeu força após declarações de Lula repercutirem mal e gerarem dúvidas acerca da alegada neutralidade do Brasil. Ainda quando era pré-candidato à Presidência, no primeiro semestre de 2022, o petista chegou a dizer que Zelenski era tão culpado quando Putin pela guerra no Leste Europeu.

Já no cargo, Lula recebeu críticas não apenas por fazer declarações semelhantes, mas também por ter recebido em Brasília o chanceler russo, Serguei Lavrov. Em abril, o presidente disse que Zelenski "não pode ter tudo o que ele pensa que vai querer" e sugeriu que talvez Kiev tivesse de ceder território para chegar a um acordo com a Rússia. No mesmo mês, depois de encontrar Xi Jinping, voltou a dizer que a Ucrânia também é responsável pela guerra.

Lula não foi à Rússia desde que foi eleito pela terceira vez, mas enviou Celso Amorim para encontrar Putin e Lavrov no Kremlin e para prospectar os cenários para uma negociação de paz, segundo o governo. Na ocasião, o ex-chanceler disse à Folha ter ficado surpreso com a receptividade do governo Putin —o próprio presidente russo o recebeu para uma conversa que durou uma hora.

Neste mês, Amorim viajou a Kiev, onde se reuniu com Zelenski, com membros do gabinete ucraniano e com o vice-chanceler Andrii Melnik, futuro embaixador da Ucrânia no Brasil. Segundo ele, os diálogos com os governos de Rússia e Ucrânia foram positivos, mas a ambição brasileira de mediar a paz levará tempo.

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