Quais são os planos de paz para a Guerra da Ucrânia e por que eles não funcionam

Além de China e Brasil, África do Sul e Arábia Saudita também se oferecem para mediar conflito iniciado há quase 15 meses

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São Paulo

Iniciada em fevereiro de 2022, a Guerra da Ucrânia vem registrando poucos avanços de lado a lado nos últimos meses e continua sem perspectiva para acabar. Numa tentativa de conter o conflito que impacta a economia global, vários países apresentaram propostas de paz, mas nenhuma conseguiu êxito até agora.

As iniciativas voltaram a ser discutidas no Japão, durante a cúpula do G7. O presidente ucraniano, Volodimir Zelenski, foi um dos convidados e participou do evento no domingo (21), quando o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), falou em favor dos planos de paz.

Entenda quais são as propostas para colocar fim à guerra e por que elas não avançam.

Membros das delegações da Ucrânia e da Rússia durante reunião de negociações em Gomel, na Belarus
Membros das delegações da Ucrânia e da Rússia durante reunião de negociações em Gomel, na Belarus, no começo da guerra - Sergei Kholodilin - 28.fev.22/Belta/AFP

Plano do Brasil

Brasília defende a criação de um "clube da paz" formado por países não alinhados a nenhum dos lados do conflito para negociar o fim da guerra. A iniciativa é encabeçada pelo presidente Lula, mas esbarra na falta de clareza e não gerou entusiasmo entre líderes ocidentais.

A proposta perdeu força após declarações de Lula repercutirem mal e gerarem dúvidas acerca da alegada neutralidade do Brasil. Em abril, o presidente disse que Zelenski "não pode ter tudo o que ele pensa que vai querer" e sugeriu que talvez Kiev tivesse que ceder território para chegar a um acordo com Moscou. No mesmo mês, depois de encontrar o líder chinês, Xi Jinping, ele voltou a dizer que a Ucrânia também é responsável pela guerra.

Assessor especial de Lula, o ex-chanceler Celso Amorim viajou à Rússia e à Ucrânia com o objetivo de prospectar os cenários para uma negociação de paz. Segundo ele, os diálogos foram positivos, mas a ambição brasileira levará tempo. "Não há solução imediata."

Plano da China

A proposta chinesa, apresentada no aniversário de um ano da invasão russa, é vista com ceticismo pelo Ocidente, que não considera Pequim uma mediadora imparcial. Antes da guerra, Xi Jinping e Vladimir Putin estiveram juntos em Pequim e celebraram uma "amizade sem limites". Em março, o chinês foi a Moscou e reafirmou a aliança com o Kremlin.

Dividido em 12 pontos, o plano chinês é considerado genérico. As propostas repetem em grande medida os posicionamentos que o gigante asiático vinha defendendo desde o início da guerra, entre os quais a oposição ao uso de armas nucleares, o fim das sanções impostas a Moscou e a recusa do que o regime chama de "mentalidade de Guerra Fria" — isto é, a divisão do mundo em blocos.

A China enviou uma delegação à Ucrânia para tentar mediar o conflito. Kiev reiterou que não aceita qualquer negociação em troca de territórios.

Plano da África do Sul

O plano de paz sul-africano está ainda pouco claro, mas, segundo o presidente Cyril Ramaphosa, será apresentado a Putin e a Zelenski em breve. De acordo com ele, Senegal, Uganda, Egito, Congo e Zâmbia também farão parte do esforço de mediação.

A proposta foi apresentada após os EUA acusarem a África do Sul de fornecer armas à Rússia. Ramaphosa nega e diz que seu país é neutro.

A Ucrânia é um dos maiores fornecedores mundiais de grãos, e a interrupção do transporte no mar Negro agravou a crise alimentar na África. As exportações foram retomadas em agosto passado, após acordo firmado por Rússia e Ucrânia com mediação da ONU e da Turquia.

Outros países que tentam negociar a paz

Numa tentativa de avançar as negociações pelo fim da guerra, o regime da Arábia Saudita convidou Volodimir Zelenski para a cúpula da Liga Árabe, realizada em Jidá, e o ucraniano compareceu ao evento.

Em 2022, MbS, como é conhecido o príncipe herdeiro Mohammed bin Salman, intermediou a libertação de dez prisioneiros ucranianos capturados pela Rússia na guerra, em ação supostamente possibilitada pela proximidade com Putin. Já durante a cúpula do G7, o saudita disse que seu país está pronto para mediar a paz entre Moscou e Kiev.

Na Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan mantém canais de diálogo com o Ocidente e também com Vladimir Putin. A dualidade o torna candidato para conduzir as negociações pela paz na guerra. Em 2022, Ancara atuou como mediadora ao lado da ONU para estabelecer um acordo que permitisse a exportação de grãos ucranianos.

O que trava os processos de paz

O principal entrave é a disputa territorial. O Kremlin diz que vai lutar até que todos os seus objetivos sejam alcançados, e Kiev afirma que não vai descansar até que todos os soldados russos sejam expulsos de todo o seu território, incluindo a Crimeia, anexada em 2014.

Em setembro do ano passado, a Rússia anunciou a anexação de quatro regiões que ocupa parcialmente na Ucrânia: Donetsk e Lugansk, no leste, e Zaporíjia e Kherson, no sul. As áreas são equivalentes a cerca de 18% do território do vizinho invadido.

Nos últimos meses, os confrontos estão concentrados na região de Bakhmut, em Donetsk —palco da batalha mais longa da guerra até aqui. Os avanços têm sido lentos.

Erramos: o texto foi alterado

A Arábia Saudita convidou o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski, para participar da cúpula da Liga Árabe, não da cúpula do G7, como afirmava versão anterior deste texto.

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