Supremo dos EUA obriga Alabama a criar distrito eleitoral de maioria negra

Negros são 27% do estado, mas eram maior parte em apenas um distrito, algo discriminatório para ativistas e alguns juristas

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São Paulo

Ativistas negros comemoraram nesta quinta (8) a decisão da Suprema Corte dos EUA que, por 5 votos a 4, derrubou o mapa eleitoral feito por republicanos do Alabama para concentrar regiões habitadas em sua maioria por negros num único distrito –e, assim, garantir menor participação dessa fatia na política local.

O imbróglio começou em 2021, quando autoridades republicanas do estado elaboraram um novo desenho do mapa eleitoral local para ser condizente com o censo populacional do ano anterior.

Eleitores negros manifestam durante a 57ª marcha de Selma a Montgomery em Selma, no Alabama - Brandon Bell - 9.mar.23/AFP

Distritos eleitorais são redesenhados a cada década para refletir mudanças medidas pelo censo nacional.

Na maioria dos estados, esse reajuste é feito pelo partido no poder, o que pode levar à manipulação do mapa para ganho partidário. No Alabama, legisladores ignoraram parte do levantamento que dizia que negros são 27% da população local –o que dava a essa parcela maioria em ao menos mais um distrito.

Segundo ativistas, o novo mapa reduzia a influência dos eleitores negros ao concentrar seu poder de voto num único distrito, enquanto distribuía o restante dessa população em outras zonas, em níveis pequenos, para formar uma maioria branca. Em 2022, três juízes federais já haviam acatado essa contestação.

Ativistas denunciavam que o redesenho confrontava a Lei dos Direitos de Voto, promulgada em 1965 para impedir que antigos estados segregacionistas privassem os afro-americanos do direito de voto.

Já o governo do Alabama queria evitar a consideração de critérios raciais na avaliação. Funcionários estaduais argumentaram que desenhar um segundo distrito para favorecer eleitores negros seria discriminatório por favorecê-los às custas de outros eleitores. Além disso, o Alabama defendeu que, se a Lei dos Direitos de Voto exigisse que o estado considerasse a raça dessa maneira, violaria a Constituição.

A Suprema Corte americana tem uma maioria conservadora de 6 a 3 e, com base em discussões sobre o processo em outubro do ano passado, parecia se inclinar a favor do governo do Alabama. Mas não foi o que aconteceu. Além dos três progressistas da corte, votaram a favor do argumento dos ativistas os juízes conservadores John Roberts e Brett Kavanaugh. O primeiro, que preside o tribunal, disse que os argumentos do Alabama "não convencem nem na teoria nem na prática".

Já o juiz conservador Clarence Thomas, que é negro, defendeu que a questão perante o tribunal era se a legislação americana exigia que o Alabama "redesenhasse intencionalmente seus distritos congressionais de longa data para que os eleitores negros pudessem controlar um número de assentos aproximadamente proporcional à parcela negra da população do estado". Para ele, a resposta é não. Voto vencido.

Com o placar favorável à reivindicação dos ativistas, o Alabama agora terá de criar um segundo distrito com maioria de eleitores negros. A decisão "preserva o princípio de que nos EUA todo eleitor deve exercer o direito de votar sem ser discriminado", disse o secretário de Justiça, Merrick Garland.

Já Davin Rosborough, advogado da organização de direitos civis ACLU, chamou a decisão de "uma grande vitória" e disse que "a Suprema Corte rejeitou a ideia de que é inapropriado considerar critérios raciais para determinar a existência de discriminação racial". "É uma coisa boa para a democracia", acrescentou o líder democrata no Senado, Chuck Schumer. A comemoração não é em vão: o novo mapa do Congresso, previsto para valer já nas eleições de 2024, pode impulsionar os esforços democratas para recuperar a maioria na Câmara, que os republicanos agora controlam por uma estreita margem de 222 a 212. Isso porque eleitores negros tendem a votar com mais frequência em candidatos democratas.

Com Reuters

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