Descrição de chapéu Partido Republicano

Trump admite em gravação que guardou documentos secretos sobre ataque ao Irã

Áudio coloca em xeque argumento do republicano de ter retirado sigilo de arquivos ao deixar a Casa Branca

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São Paulo

Promotores federais dos EUA obtiveram um áudio no qual Donald Trump admite que manteve com ele documentos secretos do Pentágono sobre um possível ataque ao Irã após deixar a Presidência.

A gravação, feita durante uma reunião em 2021, coloca em xeque o argumento do republicano de ter retirado o sigilo de todos os arquivos confidenciais que reteve depois do término de seu mandato.

No áudio, Trump expressa o desejo de compartilhar as informações, mas reconhece as limitações que tem, como ex-presidente, para retirar o sigilo dos papéis. As informações foram reveladas pela CNN.

O ex-presidente dos EUA Donald Trump - Spencer Platt - 27.abr.23/AFP

As conversas aconteceram no clube de golfe do ex-presidente em Bedminster, em Nova Jersey. Estavam presentes na reunião duas pessoas que trabalhavam na autobiografia do ex-chefe de gabinete de Trump, Mark Meadows, e assessores. Eles não tinham autorização para ter acesso a dados secretos do governo.

A autobiografia de Meadows, publicada cinco meses após o encontro, descreve uma reunião na qual Trump menciona um relatório de quatro páginas datilografado pelo chefe do Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas dos EUA, Mark Milley, principal general do país. O ex-presidente teria dito na ocasião que o papel continha um plano de ataque ao Irã, com mobilização de grande contingente de tropas.

Não se sabe quem foi o autor da gravação, que volta a colocar os processos contra Trump em evidência num momento em que o político intensifica a campanha política. O republicano é pré-candidato à Presidência e adota a estratégia de constranger as investigações de que é alvo —ele quer fazer colar a ideia de que as apurações são uma manobra política do governo Biden contra um adversário eleitoral.

As investigações lideradas pelo promotor especial Jack Smith querem esclarecer se o ex-presidente guardou intencionalmente os documentos secretos e se enganou seus advogados sobre a devolução dos papéis. Evan Corcoran, advogado de Trump encarregado de procurar documentos em Mar-a-Lago, disse ter sido impedido de realizar buscas no escritório do ex-presidente, segundo o jornal britânico The Guardian.

Trump alega ter atuado dentro da lei ao retirar o sigilo dos materiais mantidos com ele.

Os promotores, por sua vez, têm questionado testemunhas sobre a gravação e o documento com o plano de ataque ao Irã. Milley foi uma das pessoas procuradas pelas autoridades —ele é o oficial de segurança nacional no governo Trump mais poderoso a se reunir com as equipes de investigação.

De acordo com o Departamento de Justiça, Trump guardou documentos que podiam comprometer a inteligência americana. Entre os possíveis crimes pelos quais o republicano é investigado nesse caso estão violações na lei de espionagem, obstrução da Justiça e destruição de documentos oficiais.

Em agosto do ano passado, agentes do FBI, a polícia federal americana, entraram na casa do republicano, no resort de Mar-a-Lago, e apreenderam mais 20 caixas de documentos em uma iniciativa sem precedentes contra um ex-presidente americano.

Primeiro ex-presidente dos EUA a se tornar réu, Trump tem sido constantemente manchete de jornais devido a acusações na Justiça. Em outra frente de investigação, ele responderá a 34 acusações criminais em três casos de suspeita de falsificação de documentos, incluindo a suposta compra do silêncio da atriz pornô Stormy Daniels. Os pagamentos teriam sido realizados com verbas não declaradas de campanha.

Mesmo condenado, Trump não seria impedido de concorrer à Casa Branca. Os EUA não têm uma lei equivalente à Ficha Limpa, por exemplo, que impede no Brasil a candidatura de pessoas condenadas por um órgão colegiado, que tiveram o mandato cassado ou renunciaram para evitar a cassação.

A única maneira de tirá-lo da corrida seria caso ele seja condenado por insurreição nas investigações sobre o ataque ao Capitólio —cenário considerado altamente improvável.

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