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China bane importações de peixe e ataca Japão por despejo de água de Fukushima

Newsletter China, terra do meio explica campanha chinesa contra plano japonês no Oceano Pacífico

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Igor Patrick
Washington (Estados Unidos)

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O despejo da água residual da usina nuclear de Fukushima, atingida por um tsunami em 2011, enfureceu a China. Aprovado pela Agência Internacional de Energia Atômica, o plano do Japão envolve liberar o rejeito ao longo de três décadas e foi considerado seguro por cientistas, mas Pequim questiona esse argumento.

A campanha chinesa contra o plano japonês começou há dois anos e cresceu conforme a data do início do despejo se aproximava. Na quinta, o Ministério das Relações Exteriores chinês divulgou uma nota em que acusa o Japão de não provar "a legitimidade e a legalidade da decisão, a autenticidade e a precisão dos dados da água contaminada e a segurança para o ambiente marinho e a saúde das pessoas".

"Ao despejar a água no oceano, o Japão espalha riscos para o resto do mundo e deixa uma ferida aberta nas futuras gerações (...). O Japão virou um sabotador do sistema ecológico e poluidor do ambiente marinho global. Eles infringem os direitos das pessoas à saúde, ao desenvolvimento e a um ambiente saudável", diz o texto.

'Suspendam a venda de todos os produtos de peixe importados do Japão', dizem placas espalhadas pela região de restaurantes japoneses em Pequim, na China - Pedro Pardo - 27.ago.23/AFP

A primeira retaliação já veio: Pequim baniu a importação de todos os frutos do mar e peixes do Japão.

A reação também acontece em outras frentes. Empresários de Fukushima denunciaram o recebimento de "milhares de ligações telefônicas", a maioria das quais da China, protestando contra a decisão.

Diplomatas japoneses pediram às autoridades chinesas que "tomem medidas adequadas" para "pedir calma aos seus cidadãos". Antevendo reações, o Japão também orientou seus cidadãos atualmente vivendo na China que evitem falar em japonês em voz alta e em público.

A posição chinesa tem sido reforçada há vários meses na TV e em redes sociais. Um infográfico produzido pela estatal CCTV que mostra a água contaminada se espalhando por todo o Pacífico ganhou as redes sociais do país. A cobertura significativa nos telejornais chineses dão o tom do quão irritado o governo está.

A consequência imediata é sentida no mercado turístico japonês. Segundo o site Sixth Tone, turistas chineses estão preterindo o Japão para viajar pelo Sudeste Asiático. Um agente de viagens em Xangai entrevistado pelo veículo afirma que os clientes têm expressado cautela e evitado a compra de pacotes para o país vizinho.

Embora a China seja mais vocal, ela não está sozinha nas reclamações. Na Coreia do Sul, cerca de 50 mil manifestantes tomaram as ruas de Seul no sábado em protesto contra a decisão, segurando cartazes em que chamavam o plano japonês de "ato de terrorismo".

Em processo de aproximação diplomática com Tóquio, o presidente Yoon Suk-yeol tem insistido que o despejo de água não apresenta riscos à saúde da vida marinha.

Ativistas sul-coreanos protestam contra o plano do Japão de despejar água residual da usina nuclear de Fukushima no Oceano Pacífico - Kim Hong-Ji - 12.ago.23/Reuters

Por que importa: a manutenção da reação dos chineses gera incógnitas sobre quanto tempo o banimento seguirá e como o mercado reagirá no médio e no longo prazo. Se prosseguir com a ideia, o Japão deve levar décadas para eliminar toda a água de Fukushima.

Pequim vai manter a proibição permanentemente? Se sim, qual país substituirá os peixes e os frutos do mar japoneses no mercado chinês? São perguntas ainda sem respostas.

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Escultura da chinesa Luo Li Rong. Nascida na província de Hunan e expatriada na Bélgica desde 2017, ela se notabilizou por obras em bronze que retratam figuras femininas e trazem um espetacular senso de movimento
Escultura da chinesa Luo Li Rong - Reprodução

Obra e artista: escultura da chinesa Luo Li Rong. Nascida na província de Hunan e expatriada na Bélgica desde 2017, ela se notabilizou por obras em bronze que retratam figuras femininas e trazem um espetacular senso de movimento. Leia mais sobre Luo aqui.

o que também importa

★ A Secretária de Comércio dos EUA, Gina Raimondo, realizou uma visita oficial à China, em outra tentativa de amenizar as tensões entre os países. Elachegou a Pequim no domingo e reuniu-se com oficiais chineses e líderes empresariais. No encontro de segunda-feira com o ministro de Comércio chinês, Wang Wentao, ela destacou ser "profundamente importante" manter relações estáveis entre os países, que compartilham US$ 700 bilhões em comércio.

O vice-presidente de Taiwan e favorito no pleito presidencial marcado para janeiro, William Lai, acusou a China de utilizar práticas comerciais injustas para interferir no pleito. Lai alega que a recente suspensão das importações de manga, justificada por supostas pragas na fruta, tem motivações políticas. O comentário surge no contexto de exercícios militares chineses ao redor da ilha, que ocorreram após visitas de Lai a Nova York e San Francisco. O político tem irritado Pequim por declarar que Taiwan é "uma nação soberana", embora não advogue abertamente pela independência da ilha.

A China anunciou que, a partir de quarta (30), vai eliminar a exigência de teste de Covid para viajantes estrangeiros. Embora na prática não estivesse exigindo comprovantes de exames, a regra ainda estava em vigor e representava o último resquício da rigorosa política de Covid zero. A medida é mais uma tentativa do governo chinês para diminuir burocracias e atrair viajantes a negócios e turistas, essencial na lenta retomada econômica pós-reabertura no início do ano.

fique de olho

A China anunciou que vai implementar "novas diretrizes para o planejamento e a construção de habitações acessíveis". De acordo com a agência de notícias estatal Xinhua, o governo planeja "expandir investimentos e promover o desenvolvimento saudável do mercado", sem divulgar mais detalhes sobre o projeto. O Banco Central da China revelou que vai relaxar as regras para empréstimos imobiliários residenciais, em uma tentativa de incentivar a compra de casas e apartamentos.

Por que importa: o setor imobiliário representa uma parcela significativa da economia chinesa (cerca de 30% de todo o PIB anual) e contou ao longo de anos com subsídios, incentivos governamentais e valor depreciado. Paralelamente, patrimônios formados por imóveis impulsionaram o número de empreendimentos para investimento ou proteção do dinheiro, sem moradores reais, o que causou uma disparada nos preços de aluguéis.

Esse ciclo de bonança parece estar chegando ao fim e já há quem fale em bolha imobiliária. Os incentivos do governo caminham no sentido de suavizar os impactos negativos de uma potencial crise, além de responder às crescentes insatisfações populares com o custo de vida urbano. A meta é adicionar cerca de 6,5 milhões de novas unidades de aluguel a baixo custo nas principais cidades chinesas até 2025.

para ir a fundo

  • A Observa China realiza nesta quarta (30) um evento dedicado a trocar experiências e orientar quem pretende se mudar para a China, seja para trabalhar ou estudar. O encontro virtual será moderado por integrantes da rede que vivem atualmente no país. Inscrições aqui. (gratuito, em português)
  • O Instituto Igarapé lançou um relatório em que analisa as tendências no setor de vigilância digital pós-pandemia nos países membros do Brics. O estudo investiga, por exemplo, como a biometria e o reconhecimento facial vêm sendo implementados nos países do grupo. Leia aqui. (gratuito, em português)
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